Divisor de águas na pesquisa de linguagem do teatro de animação, o Grupo Sobrevento comemora 30 anos de trabalho apresentando seu novo espetáculo Só, em pré-estreia para convidados dia 5 de maio, às 19h30, e estreia para o público no dia 6 de maio, no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio. Contemplada com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015, a montagem parte do pouco conhecido gênero Teatro de Objetos para tratar da solidão como tema.
Cinco personagens, interpretados pelos atores Sandra Vargas, Maurício Santana, Sueli Andrade, Daniel Viana e Liana Yuri, transformam objetos como baldes, cadeiras em miniatura, pequenos aviões e muito mais em elementos poéticos e metafóricos. “Os cinco personagens, mais que cinco vidas, são cinco caminhos que terminam por encontrar-se, nas suas solidões”, define o autor e diretor Luiz André Cherubini.
A temporada no Rio vai até 29 de maio, de sexta a domingo, às 19h30. Além das apresentações, o Sobrevento realiza uma oficina de Teatro de Objetos – nos dias 14 e 15 de maio, das 9h às 13h, e um bate-papo, no dia 16 de maio, às 19h, que terá a participação de Valmor Nini Beltrame, professor e pesquisador no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado em Teatro) na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). As atividades paralelas acontecem no Espaço PeQuod, que fica na Rua da Lapa, 242, no Centro. As inscrições para a oficina podem ser feitas no site do Sobrevento (sobrevento.com.br).
Ao longo destas três décadas, o Grupo Sobrevento transferiu-se do Rio para São Paulo em função da quantidade de atividades que a cidade proporcionava. Lá, fundou o Espaço Sobrevento, única sala da cidade dedicada especialmente ao Teatro de Animação. O Sobrevento é um dos grupos teatrais mais destacados e atuantes do país. Desde sua fundação, em 1986, realizou mais de 6 mil apresentações e visitou cerca de 200 cidades do Brasil, outras 40 da Espanha e esteve em diversos países de quatro continentes, representando o Brasil.
Intercâmbio e Pesquisa
Só é fruto de um intercâmbio internacional com duas referências mundiais do Teatro de Objetos: a artista belga Agnés Limbos, diretora da Companhia Gare Central e um dos nomes mais importantes do Teatro de Objetos no mundo, e Antonio Catalano, um dos maiores atores da Itália, artista plástico premiado na Bienal de Veneza e fundador da Casa Degli Alfieri. O músico brasileiro Arrigo Barnabé, autor da trilha sonora original, soma-se à equipe oferecendo texturas no mínimo diferenciadas, enquanto a iluminação cabe ao premiado Renato Machado, colaborador e integrante do Sobrevento desde sua fundação.
Só estreou em julho de 2015, no Itaú Cultural, na cidade de São Paulo, e ficou em cartaz no Espaço Sobrevento, até setembro. Além de críticas elogiosas, o espetáculo recebeu indicação ao Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), como Melhor Espetáculo, e indicações ao Prêmio Aplauso Brasil, como Melhor Espetáculo e Melhor Trilha Sonora Original.
A pesquisa partiu do livro O Desaparecido ou Amerika, romance inacabado de Franz Kafka, escrito entre 1912 e 1914. Trata das desventuras de um rapaz alemão expulso de casa pelos pais, depois de ter engravidado a empregada. A partir dele, o Sobrevento abordou a questão da desumanização nas grandes cidades e no mundo moderno. “Embora as palavras de Kafka não estejam em cena, a atmosfera de sua obra terminou por impregnar o espetáculo. E para criar esta realidade particular, o grupo uniu-se a artistas reconhecidos pelo desejo de criar novos mundos”, explica Sandra Vargas.
O figurinista João Pimenta, colaborador do Sobrevento desde 2013, criou figurinos impactantes. Mais que cobrir as personagens, propôs revelá-las por meio de elementos que utilizou na confecção das roupas.
Atmosfera onírica
Só é uma encenação envolvente, com uma atmosfera onírica construída a partir de imagens soltas, efeito obtido graças a pouca distância entre o espectador e a cena e à primorosa iluminação de Renato Machado. Com ela, os detalhes ganharam força. Não há uma sequência cronológica a orientar a narrativa. A luz propicia também a troca de cenários, sem o previsível black out, e o efeito de mixagem visual de algumas cenas: com uma cena ainda iluminada, outra começa a se insinuar, transferindo o foco de atenção do espectador e propondo novos significados. Um cenário vai dando lugar a outro e o espaço vai se transformando no decorrer da apresentação, mas cada cena deixa um “rastro”: um objeto que fica, suspenso ou abandonado pelo chão, para compor uma instalação final, que pode ser visitada pelo espectador como uma exposição, um “museu da solidão”.
Com a colaboração de artistas de peso, o Sobrevento pôde chegar a um espetáculo maduro, digno de comemorar uma trajetória ininterrupta de 30 anos de trabalho, dedicado à pesquisa do Teatro de Animação para adultos.
Ficha técnica:
Criação, Concepção e Dramaturgia: Grupo Sobrevento
Direção: Luiz André Cherubini e Sandra Vargas
Trilha sonora: Arrigo Barnabé
Iluminação: Renato Machado
Figurinos: João Pimenta
Elenco: Sandra Vargas, Maurício Santana, Sueli Andrade, Daniel Viana e Liana Yuri
SERVIÇO:
. Só
Pré-estreia para convidados: dia 5 de maio, às 19h30
Estreia para o público: dia 6 de maio, às 19h30
Temporada: sextas, sábados e domingos, às 19h30. De 6 a 29 de maio de 2016.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro III
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – 2º Andar
(21) 3808-2020
Lotação: 60 pessoas
Classificação etária: 16 anos
Ingreso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
. Oficina de Introdução ao Teatro de Objetos, com Sandra Vargas
Dias 14 e 15 de maio, das 9h às 13h.
Inscrições em sobrevento.com.br, até 8 de maio. Atividade gratuita.
Local: Espaço PeQuod
Rua da Lapa, 242, Lapa – Centro do Rio
. Bate-papo com o Grupo Sobrevento
Participação especial: Prof. Valmor Nini Beltrame
Dia 16 de maio, às 19h
Atividade gratuita.
Local: Espaço PeQuod
Rua da Lapa, 242, Lapa – Centro
Link com cenas: https://youtu.be/JPfPCGKpIko