Cia Caravan Maschera faz temporada na Sala Carlos Miranda (SP)

Espetáculo 'Vidas Secas'. Foto: Tamyris Zago.

Contemplada com o Programa Cena Aberta Funarte 2016, a Cia Caravan Maschera comemora cinco anos de existência com uma temporada na Sala Carlos Miranda (SP). No período de 3 a 12 de junho, o grupo apresenta os espetáculos Vidas Secas, O Mamulengo dos Três Vinténs e Tiringuito, Luisa e a Morte (infantil), todos com entrada franca. A companhia ítalo-brasileira é formada pelos artistas Giorgia Goldoni e Leonardo Garcia Gonçalves. No Brasil, sua sede fica no bairro rural do Jardim Maracanã, na cidade de Atibaia, interior de São Paulo.

As montagens de Caravan Maschera apresentam toques da cultura popular brasileira, que, para Leonardo Gonçalves, é “o elo que permite discutir temas variados e complexos”. A proposta do grupo é adaptar e recriar a fábula, o tema ou o espetáculo. Em Tiringuito, Luisa e a Morte, a técnica de mamulengo tradicional brasileiro é retomada pelo viés do teatro de bonecos. Já em O Mamulengo dos Três Vinténs, o texto de Bertold Brecht é recontado, de forma cômica, também por técnicas de manipulação de bonecos, de projeções audiovisuais e de teatro de animação. Vidas Secas é inspirado nos quadros de Portinari sobre os retirantes. A temática nordestina popular nesse caso está na própria materialidade da cenografia e dos bonecos.

Programa Cena Aberta Funarte 2016: Caravan Maschera Ano V
Sala Carlos Miranda – Complexo Cultural Funarte SP

Espetáculo: Vidas Secas

De 3 a 11 de junho | Sextas e sábados, às 21h

Na montagem, as palavras de Graciliano Ramos são traduzidas em imagens, em bonecos e em situações de tensão corporal e musical. Vidas Secas transforma continuamente os signos, os significados e os sentidos atuais e históricos da seca, da angústia e da esperança do sertanejo, o que transcende os regionalismos geográficos e a temporalidade das épocas. Para os membros da Cia Caravan Maschera, a adaptação da obra de Graciliano Ramos é “imprescindível” na atualidade, mas o espetáculo construído não tem a proposta de “ilustrar” a temática do autor. A ideia é suprimir a palavra, dando espaço para que o próprio público possa imaginar personagens e situações vividas na trama, recriando o contexto da obra. A peça também ressalta a “incomunicabilidade” e a “extrema repressão psicológica, física e emocional” que é exercida por um “contexto social, econômico e racial que ultrapassa as fronteiras do sertão nordestino do Brasil”. “Aquela família de retirantes ainda não é, infelizmente, uma imagem anacrônica … Sabíamos desde o início que o discurso literário não seria suficiente para fazer com que o público contemporâneo se emocionasse e fosse afetado pelo texto… A ausência da palavra sobre o palco é preenchida pela idiossincrasia de quem assiste”, conta Leonardo.

Com: Cia Caravan Maschera | Elenco: Giorgia Goldoni e Leonardo Garcia Gonçalves

Duração: 50 minutos | Classificação etária: 10 anos
Entrada franca

Espetáculo: O Mamulengo dos Três Vinténs

Dias 5 e 12 de junho | Domingos, às 19h

No palco, há dois atores (quatro mãos) e uma cenografia musical composta por berimbaus, pandeiros, agogôs e chocalhos. A estrutura gira sobre si mesma e, sobre ela, acopla-se uma TV. Cenas filmadas ao vivo com bonecos, depoimentos reais e animações em stop-motion reconstroem o teatro dialético e épico de Brecht com uma linguagem popular brasileira. Assim, A Ópera dos Três Vinténs é recriada sob o ponto de vista dos tradicionais personagens do mamulengo: Bastião, João Redondo, Mariquinha, Pé-de-pano, O diabo e a esposa do Coronel, entre outros. Para Leonardo Gonçalves, “na estrutura cênica e dramatúrgica do teatro de mamulengos do nordeste brasileiro são encontradas diversas referências a jogos físicos, unidades rítmicas e situações comumente encontradas na interpretação de palhaços populares, como o Carequinha e o Biribinha. Esses mecanismos são utilizados para recriar a obra de uma maneira cômica e crítica, como pretende Brecht em sua teoria de teatro.” As canções de Kurt Weill também foram adaptadas em modas de viola caipira, tradição imaterial da cidade de Atibaia e um conhecimento oral transmitido de pai para filho há várias gerações.

Com: Cia Caravan Maschera | Elenco: Giorgia Goldoni e Leonardo Garcia Gonçalves

Duração: 75 minutos | Classificação etária: 14 anos
Entrada franca

Espetáculo infantil: Tiringuito, Luisa e a Morte

De 4 a 12 de junho | Sábados e domingos, às 15h

Tiringuito é um anti-herói rebelde e irreverente que luta com as adversidades da vida cotidiana e com os inimigos mais improváveis. O espetáculo trata da morte por meio da comicidade e da diversão. Para isso, a Cia Caravan Maschera resgata a Guaratella, uma tradição de bonecos que surgiu nas ruas de Nápoles, no sul da Itália, no final do século XVI, e cria um diálogo com as técnicas de riso da Commediadell’arte. O resultado é um espetáculo de manipulação de bonecos permeado por um “surrealismo de humor exótico”. Os bonecos de Guarattelle, com sua técnica precisa de manipulação, são, ainda hoje, os que apresentam mais agilidade na ação, graças à estrutura de seu figurino, a sua cabeça detalhada, feita em madeira, e a suas mãos capazes de segurar com maestria os objetos de cena. A característica permanente desses bonecos é a loucura. Nas histórias, a lógica comum é revertida, abrindo o mundo de fantasia que está enraizado na vida cotidiana. Muito mais do que o texto falado, as histórias de Guarattelle são caracterizadas pela predominância de ações e de combate.

Com: Cia Caravan Maschera | Elenco: Giorgia Goldoni e Leonardo Garcia Gonçalves

Duração: 50 minutos | Classificação etária: livre
Entrada franca

Sobre a Cia Caravan Maschera: em 2010, Giorgia Goldoni e Leonardo Garcia Gonçalves foram selecionados para participar do projeto europeu Masks On Stage, que, durante dois anos, possibilitou aos artistas participantes residirem em cinco países diversos (França, Itália, República Tcheca, Alemanha e Espanha). Em cada um desses países, os integrantes do projeto receberam uma formação de alto nível artístico e técnico sobre as diversas formas popularescas do teatro europeu (máscaras, bonecos, intervenções urbanas e rurais, canto e teatro gestual). No início  de 2012, Giorgia e Leonardo decidiram se apropriar dos princípios do projeto, aplicando seus ensinamentos sobre a cultura plural das expressões artísticas brasileiras e buscando uma forma teatral híbrida entre o teatro de bonecos, o teatro de máscara, o teatro visual, as artes plásticas e o audiovisual. Desde então, a companhia já recebeu incentivos da Comunidade Europeia, do Governo Federal e do Governo do Estado de São Paulo. Com isso, montou seis espetáculos e realizou projetos de criação coletiva e colaborativa na Itália, na República Tcheca e em comunidades rurais e quilombolas do Estado de São Paulo. Em agosto de 2016, o grupo realizará uma turnê de mais de cinco mil quilômetros. Viajando de carro de sua sede em Atibaia até Quebrangulo, no Estado do Alagoas (cidade natal de Graciliano Ramos), a Caravan Maschera fará 13 apresentações do espetáculo Vidas Secas em cidades dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoa. A aventura, com pouco mais de 40 dias, será transformada em um documentário.

Informações ao público:
(11) 3662-5177
funartesp@gmail.com

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