Aderbal Freire-Filho volta aos palcos no Teatro Glauce Rocha

Aderbal Freire-Filho. Foto Nil Caniné (registrada)

Integrante de projeto contemplado no programa Cena Aberta – Funarte 2016 – Rio de Janeiro, espetáculo teve sua estreia marcada pela abertura do do Teatro Poeirinha, anexo ao Poeira, no Rio, em 2011

Após dez anos como diretor teatral e apresentador, Aderbal Freire-Filho volta aos palcos como ator, na montagem Depois do Filme, em curta temporada, no Teatro Glauce Rocha, da Fundação Nacional de Artes – Ministério da Cultura, de 25 a 27 de novembro e de 1º a 4 de dezembro, ás 19h. Com entrada franca, as apresentações, integram proposta contemplada no programa Cena Aberta – Funarte 2016 – Rio de Janeiro – que inclui palestras após cada encenação –.

Além de ser o autor do texto e de dirigir o espetáculo, Aderbal faz todos os papéis. “Depois do Filme poderia ser uma superprodução, uma peça de grande elenco. Mas como tinha praticamente abandonado o ofício de ator e passado a vida ensaiando do ‘lado de fora’, vendo atores e atrizes se divertirem, decidi me vingar fazendo todos os personagens”, brinca o artista. Mas essa não é a primeira vez que ele acumula as funções de encenador e ator. Em 1977, ele dirigiu A morte de Danton, de Georg Büchner, em que também atuou, como Robespierre. Em 1993, contracenou com Christiane Jatahy em Ay, Carmela, de Sanchis Sinisterra, cuja direção dividiu com o autor. Em 2000, Aderbal foi o protagonista de Luzes de Bohemia, de Ramón del Valle-Inclán. E ainda substituiu outros atores, em muitas peças que dirigiu, como Mão na LuvaTio VâniaA Prova.

Outros monólogos também marcaram a carreira do diretor. Apareceu a Margarida, com Marília Pêra, no começo dos anos 70, foi um dos seus primeiros espetáculos, que ele considera como o seu primeiro grande sucesso. Aderbal voltou a dirigir a mesma peça em duas outras ocasiões, sempre com Marília, em 1978 e 1994, mas com encenações completamente distintas. Ainda nos anos 70, dirigiu Gracindo Junior, em Corpo a Corpo, monólogo de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Já dirigiu o próprio diretor, autor e amigo Domingos de Oliveira, em um monólogo dele chamado Duas ou três coisas que eu sei dela, a vida, nos anos 90 e, mais recentemente, dirigiu a atriz Drica Moraes em A ordem do mundo, de Patrícia Mello.

“Mas agora dirigir e atuar talvez só seja possível pela parceria com o Fernando Philbert, que é o diretor assistente do espetáculo. O Fernando foi meu assistente em HamletMacbethA ordem do mundoOrfeu. Conhece bem minhas obsessões artísticas e estou sempre dialogando com ele sobre a poética da cena. Foi uma presença fundamental nesta montagem”, elogia.

O espetáculo

A peça Depois do filme é a história de um personagem de cinema, depois que seu filme acaba. Foi escrita logo após o longa-metragem Juventude, de Domingos de Oliveira, no qual Aderbalviveu Ulisses. No espetáculo, após a história, o personagem precisa se confrontar novamente com a vida real e entra num processo de decadência, cada vez mais obcecado por uma falsa ideia de mocidade – com a cabeça cheia de sonhos, mas um corpo que não acompanha suas vontades – . Tenta conquistar novas amigas e andar pelos lugares da sua juventude, tais como o cine Vitória, no Centro, onde quer até “entrar” na tela, como se fosse Burt Lancaster, sendo impedido por um guarda municipal. O longa é, na verdade, uma lembrança que Ulisses confunde com uma realidade alternativa, como num jogo de espelhos onde os planos real e fictício se interconectam.

Leia abaixo texto de Aderbal-Freire Filho sobre a peça
Ministério da Cultura (MinC) e Fundação Nacional de Artes – Funarte apresentam

Depois do Filme
Projeto contemplado no Programa Cena Aberta – Funarte 2016 – Rio de Janeiro
Direção, texto e interpretação: Aderbal Freire–Filho

25, 26 e 27 de novembro – sexta-feira a domingo
1º, 2, 3 e 4 de dezembro – quinta-feira a domingo
Horário: 19hs

Teatro Glauce Rocha
Av. Rio Branco, nº 179 – Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Tel: (21) 2220 0259
Lotação: 202 lugares

Entrada Franca – serão distribuídas senhas a partir das 15h
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa etária: 12 anos

Ficha técnica/artística
Direção, texto e interpretação: Aderbal Freire–Filho. Diretor Assistente: Fernando Philbert. Cenário: Fernando Mello da Costa. Figurino: Kika Lopes. Música: Tato Taborda. Iluminação: Maneco Quinderé. Vídeo: Cristina Pinheiro/André Scucato. Fotos: Nil Caniné

Produção: ESE Empreendimento Teatral e Cultural

Cena Aberta – Funarte 2016 – Rio de Janeiro
Mais informações: cenaabertafunarte2016rj@funarte.gov.br

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Uma breve conversa do autor-diretor com o elenco

Inspirada em Campos de Carvalho*

Depois do Filme é um monólogo? Mais um monólogo? Você não acha que basta de monólogos?
Não é um monólogo. Podia ser uma superprodução, uma peça de grande elenco. Como quase abandonei o ofício de ator e tenho passado a vida ensaiando do “lado de fora”, vendo atrizes e atores se divertirem, decidi me vingar, fazendo logo o papel de muitos. O público, no entanto, vai ver todos os personagens: a vendedora de pulseiras de Ipanema (tenho certeza que todos iriam preferir Andréa Beltrão); dois grandes amigos do protagonista (o normal era chamar Paulo José e Domingos Oliveira); Dragana, filha de pai sérvio, ou neta de avô sérvio – não fica claro – (Marieta Severo, para a personagem dos sonhos); uma jovem esposa descontrolada (Drica Moraes seria a atriz ideal); um policial incorruptível (Wagner Moura, ocupadíssimo com o cinema); e muitos outros personagens, em diálogos pungentes, tensos ou divertidos, em situações cômicas e dramáticas, que o público vai ver (um pouco) e imaginar (muito).

Depois do Filme é um ótimo título para uma comédia romântica. Com esse título, poderia ser, por exemplo, a história de um casal após uma sessão de cinema. É uma comédia romântica?
Infelizmente, não é uma comédia romântica. É a história do personagem de um filme, depois que este acaba. É a história de Ulisses, um dos personagens do filme Juventude (de Domingos Oliveira), depois que deixa de ser personagem e volta à sua vida real.

Então é uma mistura de cinema e teatro? Da ilusão do cinema e da ilusão do teatro?

E da ilusão da vida. Onde termina o cinema e começa a vida? Ou melhor: onde termina o cinema e começa a ilusão? Ou ainda: alguém aí sabe onde fica a fronteira entre a realidade e a ilusão? Quem souber levante a mão. E entre o palco e a vida? Depois do Filme realiza a façanha de não responder a nenhuma dessas perguntas com profunda falsa-sabedoria, com algum encanto e certo desencanto.

Qual a relação com o filme? E que dimensão  desse personagem a peça destaca especialmente?
Ulisses, saído dos mares do filme Juventude, de Domingos Oliveira, está de volta à sua ilha, mas nem seu cachorro o reconhece. Pensa que é Burt Lancaster, de Enigma de uma Vida, e tenta nadar (The swimmer), enquanto seus sonhos naufragam. Tem muitos sonhos e pouco tempo.

Se a peça não responde, como você diz, perguntas mais importantes, para que serve? Ela faz alguma revelação, diz alguma verdade, traz alguma surpresa?
Revelações: o mundo não é formado da condensação de água, como disse Tales de Mileto, mas da condensação das coincidências; a surpreendente revelação de quem quebrou a Europa; como chegar à região dos lagos profundos sem atravessar a Ponte Rio-Niterói; como fabricar um alemão; o que é melhor abrir numa galeria de Copacabana, uma confecção ou uma agência de turismo? Surpresas: mais um boliviano no teatro brasileiro, depois de Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues (e esse traz com ele um veneno fabricado com um parasita da coca, que só os índios conhecem); a primeira serenata pelo interfone; a noite em que o mar secou, como Drummond profetizou. E muito mais.

* Fonte: assessoria de imprensa do projeto – editado pela Ascom – Funarte