Memória do circo, segurança em altura, produção musical, pesquisa em artes circenses e experiências nacionais e internacionais foram os temas do II Seminário Perspectivas para a Formação nas Artes do Circo. Realizado pela Escola Nacional de Circo, da Fundação Nacional de Artes – Funarte, nessa segunda-feira, 28 de novembro, o evento foi aberto com o espetáculo “Amorfos”, apresentado pela dupla Alice Tibério e João Oswaldo.
Com o objetivo de debater perspectivas para a formação em artes do circo, apontando as peculiaridades desta linguagem artística, bem como os desafios a serem enfrentados pelos profissionais da área, o Seminário contou com a participação de professores, técnicos, artistas e professores da ENC.
Participaram da abertura: o presidente a Funarte, Humberto Braga; o diretor executivo da Funarte, Reinaldo Verissimo; o diretor do Centro de Artes Cênicas, Marcos Teixeira; o coordenador da ENC, Carlos Vianna; a pró-reitora do Ensino Médio Técnico do Instituto Federal do Rio de Janeiro (representando o reitor do IFRJ), Helena Torquilho; e a coordenadora pedagógica do Curso Técnico em Arte Circense do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), professora Suéle Maria de Lima.
Funcionário de carreira da Funarte, Humberto Braga lembrou que participou da primeira equipe que começou a pensar a Escola Nacional de Circo.“Não posso deixar de lembrar dois nomes que foram muito importantes naquele momento: Orlando Miranda e Luiz Olimecha. Orlando porque estava trazendo o circo para as artes cênicas. Naquela época o mundo do circo ainda era visto com uma certa estranheza. E Olimecha, que numa ousadia imensa fez o possível para que o circo viesse para o centro das políticas públicas”, contou.
Para o presidente da Fundação, o circo ainda não teve uma política na medida da sua importância na cultura brasileira. “O circo traz com ele uma revolução iminente e essa revolução passa pelas escolas de circo”, afirmou, parabenizando a realização do evento.
Ao falar sobre a parceira do IFRJ com a ENC/Funarte, Helena Torquilho explicou que o Instituto foi criado para chegar aonde outras escolas não chegavam. Existem 644 campus no Brasil; no Rio de Janeiro há 12 e mais três estão sendo criados. Entre os curso oferecidos estão o Ensino Técnico Médio Integrado, de três anos, o curso concomitante e o subseqüente, educação de jovens e adultos e a educação a distância.”Em 2015, surgiu a oportunidade de certificar os alunos da Escola Nacional de Circo. Em 2017, os alunos estarão se formando. É inovador e um grande desafio”, disse.
Circo e Memória – A primeira mesa reuniu Cristina Band, escritora, pesquisadora, editora de arte e cultura e autora do “Dicionário do Circo Brasileiro”, e os professores da ENC Latur Azevedo, Pirajá Bastos, Walter Carlo, Angela Cericola, Delisier Rethy e “Jamelão”. Cristina contou como foi o processo para criar o dicionário, que reúne biografias de artistas tradicionais e do circo contemporâneo.
Formada em Letras e Comunicação pela PUC-SP, Cristina Band foi aluna da primeira turma do Circo Escola Picadeiro, em São Paulo. O dicionário é um desdobramento de duas pesquisas contempladas com o Prêmio Funarte Carequinha em 2012/2013 e pelo edital Rumos, do Itaú Cultural, em 2016. Agora, ela prepara para 2017 o lançamento em formato digital em um site – em inglês e português –, com 1500 verbetes, árvores genealógicas de famílias de circo que estão na quarta geração, fotografias e glossário.
Os professores da Escola contaram um pouco da história de vida no circo (todos pertencem a famílias tradicionais) e como é passar esses ensinamentos aos alunos da ENC. Questionados sobre a diferença entre ensinar a alguém da família e uma pessoa na escola, eles explicaram como foi se adaptar a essa realidade.
“No começo, eu fazia as mesmas coisas que meus pais faziam comigo. Mas pensei que devia ser diferente, de passar para eles o que era o circo, do jeito que eles poderiam entender”, afirmou Angela Sericola. Delisier Rethy disse que a grande barreira “da gente que vem do circo tradicional, onde tudo é mais informal, é se adaptar. Tivermos que reinventar o nosso saber para dar aula na Escola Nacional de Circo. E, claro, acompanhar as tendências”, explicou.
Os professores foram elogiados pelos alunos ENC, que reconheceram neles “o maior tesouro que esta escola tem”. Aplaudidos de pé pela plateia, em sua grande maioria formada pelos próprios alunos, ouviram de um destes: “não seríamos o que somos se não fossem vocês”.
Produção Artística e Segurança – Desta mesa participaram o alpinista profissional e técnico em segurança em altura, Paulo Henrique Pereira, dono de uma empresa de segurança em altura; o diretor de arte Paulo Arruda, ex-aluno da ENC que hoje trabalha no exterior; e o produtor musical Dalessandro Mangueira. Todos os três foram convidados para fazer parte da equipe da ENC. A ideia é que possam, cada um com seu conhecimento, melhorar a parte técnica dos alunos e principalmente contribuir com os espetáculos que serão apresentados na formatura, no final de 2017. Todos esses profissionais foram unânimes em afirmar que, hoje, a arte e a técnica precisam trabalhar lado a lado.
À tarde, ainda foram discutidos desafios e particularidades da pesquisa nas artes do circo, com participação do professor doutor Marco Antonio Bortoleto, da Unicamp; Patrice Aubertin, diretor de Pesquisa e do Programa de Treinamento de Professores da Escola de Circo de Montreal (Canadá); e Gustavo Alejandro Silva, professor da Unsam (Argentina).
Diferentes perspectivas de projetos foram apresentadas na mesa “Experiências internacionais”, com Rachel Rache de Andrade, diretora do Pólo de Circo de Marseille e da Bienal de Circo de Marseille; Malin Borg, diretora Adjunta e Relações Acadêmicas da Swissnex Brazil; Zezo Oliveira, da Secretaria de Cultura de Recife/PE; e Catherine Faudry, encarregada de ações de circo, dança e teatro, espetáculos de rua e marionetes do Departamento de Intercâmbio e Cooperações Artísticas do Institut Français (Paris). O evento foi encerrado com uma apresentação artística dos alunos da Escola Nacional de Circo.