Espetáculo “Avenida Central” termina temporada hoje, dia 22, no Teatro Dulcina

Até hoje, quinta-feira, dia 22 de dezembro, o Teatro Dulcina, na Cinelândia, Centro do Rio, recebe o espetáculo Avenida Central. Baseada na obra de João do Rio, a montagem foi contemplada com o Cena Aberta Funarte 2016. E marca a estreia de João Bernardo Caldeira na direção, mestre em Artes da Cena pela UFRJ, que assina ainda a dramaturgia, com supervisão artística de Celina Sodré. No elenco, Hugo Grativol, Mariana Rosa, Paulo Maia, Ricardo Baggio e Tainá Machado, atores-pesquisadores que já vêm trabalhando esta linha com os diretores. Juntos, eles formam o Coletivo Cosmogônico.

O título do espetáculo refere-se ao nome original da atual Avenida Rio Branco, inaugurada em 1904, principal marca na remodelação da cidade empreendida pelo então prefeito Pereira Passos. Avenida Central abarca tanto as dimensões reais como irreais deste local tanto de seres ficcionais imaginários, criados pelo escritor, como cenário de grandes momentos e fatos históricos da cidade que perpassam a vida e obra de João do Rio.

No momento em que se comemora cerca de um século da obra de João do Rio e do surgimento do Teatro Moderno na Europa, o Coletivo Cosmogônico debruça-se sobre mais de dez livros do autor. Frases, fragmentos, imagens, textos e personagens, rua, religião, decadentismo, expressionismo, art nouveau, belle époque carioca e as neuroses de uma identidade em plena formação (de contornos já rodrigueanos antes de Nelson Rodrigues) e as tênues e indiscerníveis fronteiras entre ficção e crônica jornalística, arte e vida, obra e autor – são alguns dos elementos deste espetáculo que oferece mais fragmentação e inacabamento do que completude e totalização.

Em cena, cinco atores constroem e desconstroem mais de 15 personagens dramáticos e outros tantos. Fragmentos de histórias, falas e personagens são apresentadas e fundidas, como pedaços de personagens pirandellianos a esmo. A cena é exposta como espaço de ritual, delírio, hiperestesia, morte e jogo teatral, e a montagem, ou construção de um possível João do Rio, ou diversos possíveis, acontece na experiência de cada espectador. Avenida Central adentra a obra de João do Rio, procurando lançar luz sobre pontos desta inesgotável obra, nem toda ela sequer publicada e disponível, e ainda visitada sob um limitado espectro de possibilidades.

Figura pública e notória, João do Rio caiu no ostracismo após a sua morte (1881-1921). Depois de ter a sua obra recuperada, ele tem sido frequentemente lembrado por meio de recorrentes clichês, que enfatizam sobretudo a figura do flaneur, a exaltação da rua ou a série de crônicas sobre religiões. Ignoram-se, no entanto, elementos de sua obra caros à modernidade e à crise da arte contemporânea, como a quebra da sacralidade da obra de arte canônica, a desfronteirização de gêneros, das diversas expressões da escrita e entre obra e autor, arte e realidade. Ou também princípios de inacabamento,  rizoma e polifonia.

Após cerca de três meses de ensaios, Avenida Central inclui personagens, trechos de frases, fragmentos de 11 livros de João do Rio, escritos há cerca de um século: “As Religiões no Rio” (1904), “Alma Ecantadora das Ruas” (1908), “Cinematographo” (1909), “Dentro da Noite” (1910), “Vida vertiginosa” (1911), “Psicologia urbana” (1911) “Os Dias Passam” (1912), “Crônicas e Frases de Godofredo de Alencar” (1916) e “Pall-Mall Rio” (1917), “No tempo de Wenceslau…” (1917), “A Mulher e os Espelhos” (1919).

Ao longo do mês de novembro e no começo de dezembro, a montagem – vencedora do Programa de Fomento à Cultura Carioca da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Edital de Ocupação da Funarte –, percorreu, sempre com entrada gratuita, Arena Carioca Fernando Torres (Madureira), Lona Carlos Zéfiro (Anchieta), Arena Carioca Dicró (Penha), Teatro Arthur Azevedo (Campo Grande) e Instituto do Ator (Centro).
Espetáculo Avenida Central
Projeto contemplado com o Cena Aberta Funarte 2016

Até 22 de dezembro, às 19h

Local: Teatro Dulcina – Rua Alcindo Guanabara 16, Centro – Metrô Cinelândia
Classificação: 12 anos
Duração: 90 minutos
Entrada gratuita

FICHA TÉCNICA

Frases, personagens e fragmentos: João do Rio
Direção e dramaturgia: João Bernardo Caldeira
Elenco: Hugo Grativol, Mariana Rosa, Paulo Maia, Ricardo Baggio e Tainá Machado
Supervisão artística: Celina Sodré
Cenário e figurinos: Gilson Motta e Luiza Valente
Iluminação: Djalma Amaral
Trilha sonora original: Rodrigo Marçal
Preparação corporal: Caroline Ozório
Arte e pinturas: Marcelo Gemmal
Tradução em libras: Monica Souza
Assistência de direção e fotos: Brenda Cavallini
Produção executiva: Caroline Azevedo e Paula Goja
Produtor associado: Pedro Monteiro
Direção de produção: João Bernardo Caldeira
Realização: São Bernardo – Oswaldo Caldeira Produções e Coletivo Cosmogônico

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