Marcos Souza é o novo diretor do Centro da Música da Funarte

“O Brasil tem uma potencialidade musical enorme!”, é o que diz o novo diretor do Centro da Música da Funarte, Marcos Souza. Filho do músico Chico Mario, sobrinho do cartunista Henfil e do sociólogo Betinho, Marcos é músico e gestor cultural, com experiência vasta na curadoria e na coordenação de projetos.

O compositor e instrumentista foi diretor de produção musical da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e consultor da orquestra de Ouro Preto (MG). Idealizou o projeto Rio SESC Instrumental. Foi também gerente de produtos de rádio e TV da Multirio, presidente da associação brasileira de compositores de música para o Audiovisual (Musimagem) e, por quase 20 anos, diretor da empresa Atelier Cultural. Como músico, fez mestrado no Conservatório de Rotterdam (Holanda), e compôs várias trilhas sonoras para filmes e televisão. Fez a direção musical do filme 3 irmãos de sangue (2006) e vencedor como melhor filme no V Cine Fest Petrobras Brasil (Nova York, 2007), entre outros trabalhos para cinema.

A relação entre experiência musical, popular e erudita, e de gestão é um dos pontos relevantes da sua formação. “Tenho uma experiência de quase 30 anos em gestão cultural. Fui responsável pela direção de produção da orquestra filarmônica de MG e também consultor executivo da Orquestra de Ouro Preto. Morei e trabalhei com música na Espanha e na Holanda e, ao retornar, comecei meu trabalho com a música erudita”, destaca”.

Não é demais lembrar que Marcos teve uma proximidade afetiva e familiar com esse vínculo entre a atenção mais direcionada para a criação artística e a necessidade de atuar no âmbito da gestão e da produção. Seu pai, além de músico, foi precursor da criação de formas alternativas de produção e difusão de música no Brasil: “Cresci no movimento do disco e da música brasileira independente. Meu pai, Chico Mário, foi precursor dessa iniciativa, no final dos anos 1970”.

Foto: S. Castellano

Gestão e Criação

Além de unir gestão cultural e criação artística, existe uma outra faceta do novo diretor que merece ser realçada: a centralidade da educação como princípio norteador do seu conceito de gestão cultural – educação aqui entendida como necessidade da formulação de políticas públicas voltadas para a capacitação do músico e também do público, unindo o ensino da técnica musical, o treinamento crítico do gosto e o aprendizado da cidadania. “Considero essencial e me preocupa essa área de formação de músicos e de público. Ao mesmo tempo, me alegra e gratifica ver que há no Brasil grandes projetos tanto direcionados à preparação de futuros músicos, relacionados à cidadania. E a formação de público me interessa muito”, comenta Marcos.

Esse trabalho de aprendizado da cidadania sintetiza os outros dois aspectos da trajetória do diretor: gestão pública e criação artística. “A música tem um poder de transformação e fruição muito grande. Ainda mais no Brasil. Posso comparar, porque morei no exterior e observei que a produção brasileira é infinitamente maior, mais vasta e diversa que as outras. Nosso país tem uma potencialidade musical enorme”, observa.

O que fica e o que vem

Para agregar à sua experiência, Marcos Souza pretende manter e ampliar programas exitosos do Centro da Música, como o Projeto Bandas de Música e a Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

O primeiro é um dos principais projetos da Funarte na área da capacitação musical. Ele inclui uma série de ações, tais como os painéis Funarte de Bandas de Música – com realização regular de cursos musicais nas mais diversas regiões do país –; a distribuição de instrumentos musicais utilizados em bandas de música; a edição de partituras, guias e manuais; e um cadastro com cerca de 2.500 Bandas de Música de todo Brasil, no site da Fundação. Marcos vai criar a I Bienal de Bandas de Música, prevista para ser realizada em 2018. “Ela será um grande encontro em todo Brasil, com palestras, oficinas, debates. Vai promover a convergência desses coletivos, a troca de idéias”, comenta. Trata-se, em suma, de uma área estratégica fundamental: “Há mais de cem anos, as bandas proporcionam formação musical e estão presentes em todo Brasil”.

Na área de música erudita, este ano será realizada a XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, um dos principais programas de renovação do repertório de música erudita no Brasil.

Projeto Pixinguinha

O Centro da Música da Funarte vai retomar, também, uma outra grande ação, que estava suspensa desde 2009: o Projeto Pixinguinha. Trata-se de um dos mais importantes programas de circulação de músicos realizados no país. Por ele passaram os principais artistas da nossa música popular. O plano de reativação do Pixinguinha prevê a sua realização em cerca de 60 cidades das cinco regiões do território brasileiro, com encontros entre músicos consagrados e emergentes. “Cada caravana dessas vai a quatro municípios de cada região – não somente a capitais, mas também a algumas outras cidades que tem desenvolvido projetos interessantes – tentando contemplar duas cidades por estado, sempre que possível; e algumas do interior”, revela Marcos.

O diretor criou, ainda, uma nova programação musical, que integrará os espaços musicais da Funarte do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, entre outros projetos.

Bienal e pesquisa

Entre os novos programas elaborados tem destaque a I Bienal Internacional Música & Educação (BIME) e o projeto Pesquisa Musical. Esses projetos envolverão as três coordenações da Funarte, Música Popular, Música Erudita e Bandas de Música. “Teremos painéis e palestras sobre as três áreas. Inicialmente, serão convidadas iniciativas de formação musical de sucesso, nas quais a essa atividade transformou a vida das pessoas”, anuncia Marcos. A ideia da Bienal é articular os projetos que relacionam música e educação, nos três campos do Centro da Música – incluindo músicos, produtores e gestores de outros países. “Talvez a formação seja o ponto mais comum às três áreas do Cemus, popular, erudita e bandas de música – o maior elemento de ligação entre elas, diante de toda a pluralidade da música –”, argumenta o diretor.

Já o projeto de pesquisa musical tem como meta fortalecer e ampliar a área da pesquisa na Funarte. Ele estabelece três ações principais:
1. Disponibilização online dos catálogos e edições de livros de música da Funarte;
2. Publicação de volumes de ensaios críticos sobre música brasileira, através da seleção de novos ensaístas e críticos;
3. Projeto Promoção Internacional: Produção de coletâneas de música brasileira (erudita, popular e de bandas de música) em três línguas, para disponibilização no portal da Funarte.

O direcionamento conceitual e a organização das ações da triagem do acervo, da escrita dos ensaios e da formulação e seleção das partituras ficará sob responsabilidade do ex-diretor do Centro da Música, Marcos Lacerda, que fez a transição para a entrada de Marcos Souza. “Foi um mês de atuação conjunta bem-sucedida, antes da minha nomeação. Toda as perspectivas e projetos em pauta me foram informados. Foi uma transição exemplar. Tanto que o Lacerda continua na equipe, agora coordenando esse novo projeto de pesquisa”, declara.

Também será desenvolvido o projeto Música & tecnologia; e haverá o apoio ao Seminário Nacional de Música de Viola.

Programação dos espaços

Marcos vai criar, também, uma ampla programação musical, que integrará quatro espaços musicais da Funarte: o Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro; a sala Guiomar Novaes, em São Paulo, o Galpão 1, em Belo Horizonte, e a sala Cássia Eller, em Brasília. A programação terá curadoria mista, reunindo o Centro da Música e críticos convidados; e contará com músicos de concerto, coletivos artísticos, produtores e críticos, além de artistas considerados mais contemporâneos da música popular. Cada dia da semana será destinado a um tema, com diferentes modalidades da música clássica, pluralidade de gêneros e diversidade de ritmos na música popular, além de um programa dirigido à música de concerto para o público infantil, o Blim Blem Blom, apresentado por Tim Rescala. Ritmos tradicionais, como samba, choro, baião e frevo estarão lado a lado com novas experimentações sonoras de cunho mais cosmopolita; e trabalhos que ficam no limiar entre a música e diferentes linguagens artísticas – como o cinema, a literatura, as artes visuais e o teatro.

A Funarte

“O Brasil tem área geográfica enorme e imensa diversidade musical – dizem que são mais de 400 ritmos catalogados”, diz o novo diretor. Ele ressalta a dimensão nacional da Funarte e o seu papel na articulação e integração da música feita no Brasil: “A Fundação deve agregar, informar, formar e incentivar o meio musical e o público. Vim pra cá porque não existe outra entidade que possa fazer isso nacionalmente”; e destaca a necessidade urgente de se fazer com que a música volte a fazer parte do dia a dia do povo brasileiro: “Quero que a Funarte esteja presente na vida musical brasileira, com capilaridade; que leve a música a todo o Brasil”.