Protagonizado pelo ator Luis Lobianco, o espetáculo Gisberta trata do tema transfobia e foi baseado num caso verídico que aconteceu em Portugal, em 2006, com a brasileira Gisberta. A montagem, que estreou no Teatro Dulcina, Centro do Rio, no dia 9 de junho, fica em cartaz até 2 de julho, sempre de sexta a domingo, às 19h. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).
De forma muito delicada, a peça transita entre dois gêneros: o humor, pois a personagem era uma pessoa muito alegre e divertida, e o drama. Em cena, três músicos acompanham o ator: Lúcio Zandonadi (piano e voz), Danielly Sousa (flauta e voz), Rafael Bezerra (clarineta e voz).
Para contar a história de Gisberta e de tantas outras vítimas da transfobia, Lobianco interpreta vários personagens com texto concebido a partir de relatos obtidos em contatos pessoais com a família de Gis, do processo judicial, de visitas ao local da tragédia e por onde ela passou. O espetáculo mistura política, história, música, teatro, humor, poesia e ficção para contar a morte trágica da personagem, na cidade do Porto, em Portugal. Gisberta atravessou o oceano para buscar um território livre, mas morreu no fundo do poço, afogada em ódio e água, como explica o idealizador da peça, Luis Lobianco.
“O mundo passa por uma grande crise de identidade: o que somos essencialmente e onde podemos viver o que somos? Refugiados podem ser inteiros fora de seus territórios sem inspirarem ameaça? Há liberdade para identidade de gênero mesmo que se tenha nascido em um corpo de outro sexo? Gays podem se amar sem exposição à violência? A reação para o rompimento com padrões sociais é uma explosão de violência cotidiana sem precedentes. Quanto mais ódio, mais a afirmação da identidade se impõe. No ar, a sensação de um grande embate mundial iminente – não tem mais como se esconder no armário. Ser livre ou servir à intolerância: eis a questão”, ressalta o ator.
Quando Gisberta foi assassinada, o caso ganhou destaque nas discussões sobre a transfobia em Portugal e a brasileira se tornou um dos ícones na luta pela conscientização para uma erradicação dos crimes de ódio contra gays, lésbicas e transexuais. Em 2016, dez anos após a sua morte, Gisberta foi amplamente lembrada em Portugal por meio de inúmeras reportagens. Agora em 2017, mais precisamente, no dia 14 de fevereiro de 2017, ela deu nome ao primeiro centro de apoio à população LGBT do norte de Portugal, Centro Gis, em Matosinhos, distrito do Porto. Segundo a direção do espetáculo, assinada por Renato Carrera, a peça fez tanto sucesso nas montagens anteriores que, estudantes e educadores, pediram a sua volta com a intenção de ampliar e levar a discussão da transfobia para as salas de aula. Carrera fala sobre a atuação de Lobianco: “Gisberta não está em cena, o Luis Lobianco não interpreta a Gis, mas nós chegamos bem perto dela”, diz o diretor.
Sobre Gisberta
Caçula de uma família de oito filhos, Gisberta Salce Júnior nasceu e cresceu no bairro Casa Verde, em São Paulo. Ainda na infância, dava sinais de que estava num corpo que não correspondia à sua identidade. Após a morte do pai, deixou os cabelos crescerem. Em 1979, aos 18 anos, quando suas amigas morriam assassinadas, na capital paulista, e com medo de ser a próxima vítima, deixou o Brasil rumo a Paris. Mais tarde, depois de realizar tratamento hormonal e fazer implante de silicone nos seios, mudou-se para o Porto, em Portugal. Muito alegre e divertida, rapidamente enturmou-se na cena gay local. Fazia apresentações em bares e boates. Durante dez anos foi a estrela brasileira da noite portuense. Sem muito jeito com qualquer tipo de liberdade viveu tudo o que nunca experimentou e de forma voraz: cantou de Vanusa a Marilyn, bebeu, fumou, usou drogas, amou e adoeceu no cabaré. Foi muito feliz, tinha muitos amigos e admiradores. Poupava energia para as cartas e fotos que mandava para a família, pois queria garantir que estava segura.
Certo dia, os seus dois cães fugiram de casa e foram atropelados na sua frente. Gis definhou de depressão e Aids. Perdeu os cabelos conquistados e o visto de imigrante. Passou a vestir trapos e morar na rua. Gisberta foi encontrada num prédio abandonado, no final de 2005, por um grupo de três meninos mantidos pela Oficina de São José, uma instituição religiosa da vizinhança. No início, as crianças ofereceram comida e agasalho, mas a lógica do grupo se converteu em um ódio súbito e inexplicável. Mais onze meninos se juntaram a eles e, no início de 2006, torturaram Gisberta por vários dias e, acreditando que ela estava morta, a jogaram dentro de um poço cheio de água. Mas ela ainda estava com vida. Conclusão do processo: morte por afogamento. Gis, como ela gostava de ser chamada, já vivia sufocada, sua morte foi síntese da sua vida: culpa do ódio e não da água.
Assista aqui o vídeo com a chamada da peça, no canal da Funarte no Youtube
Serviço:
Espetáculo Gisberta, com Luiz Lobianco
Estreia: 9 de junho, sexta-feira, às 19h
Temporada: até o dia 2 de julho, de sexta a domingo, às 19h
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
Gênero: drama
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) – Plateia
R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – Balcão
Local: Teatro Dulcina
Rua Alcindo Guanabara, 17, Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Telefone: (21) 2240-4879
Ficha técnica:
Atuação: Luis Lobianco
Texto: Rafael Souza-Ribeiro
Direção: Renato Carrera
Direção de produção: Claudia Marques
Músicos em cena: Lúcio Zandonadi (piano e voz), Danielly Sousa (flauta e voz) e Rafael Bezerra (clarineta e voz)
Pesquisa dramatúrgica: Luis Lobianco, Renato Carrera e Rafael Souza-Ribeiro
Investigação: Luis Lobianco e Rafael Souza-Ribeiro
Trilha sonora e músicas compostas: Lúcio Zandonati
Iluminação: Renato Machado
Cenário: Mina Quental
Figurino: Gilda Midani
Preparação vocal: Simone Mazzer
Direção de movimento: Marcia Rubin
Programação visual: Daniel de Jesus
Fotos de divulgação: Elisa Mendes
Produção: Fabrica de Eventos
Idealização: Luis Lobianco