Funarte celebra a inovação na XXII Bienal de Música

Abertura da Bienal. Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foto: S. Castellano

A Fundação Nacional de Artes – Funarte abriu, no dia 23 de outubro, segunda-feira, sua XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A mostra de concertos com 61 peças inéditas realiza-se até o dia 29. A ação tem parceria da Academia Brasileira de Música e da Sala Cecília Meireles – que recebe os próximos concertos – e patrocínio do Ministério da Cultura.

Apresentam suas obras na XXII Bienal compositores de vários estados brasileiros, sendo quinze deles com obras encomendadas pela Funarte e 46 selecionados pelo Prêmio Funarte de Composição Clássica 2016. Realizada através do Centro da Música da Fundação, a Bienal reúne obras dos mais diversos estilos de concerto, desde a música orquestral à eletroacústica. O preço dos ingressos é R$ 10, com meia entrada a R$ 5.

Na abertura, a Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense, regida por Tobias Volkmann, executou obras de Marlos Nobre, Ronaldo Miranda, Ernani Aguiar, Liduíno Pitombeira, Paulo Costa Lima e Eli-Eri Moura. A formação orquestral foi completa, com todos os naipes instrumentais – cordas, madeiras, metais e percussão –, contando ainda com solistas, inclusive de piano. A Rádio Antena MEC FM transmitiu o concerto de abertura ao vivo.

Esta edição conta com 140 músicos – além dos integrantes da Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, da Orquestra de Câmara Carioca da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Orquestra Sinfonietta Carioca (de cordas). O horário dos concertos é às 19h, inclusive no encerramento (devido a mudança de horário de última hora).

O diretor do Centro da Música da Funarte, Marcos Souza e Jose Schiller. Foto: S. Castellano

Marlos Nobre comenta. José Schiller conduz homenagens

Nesta edição, o maestro Marlos Nobre foi o mais votado pelo colegiado de estudiosos e outros compositores, que escolhe os autores que recebem encomendas de obras. Sua obra é Preambulum e Toccata para orquestra, op. 126 – interpretada em estreia mundial. Ele observou que a Bienal é muito importante para que todos os compositores ouçam as novas obras pela primeira vez – especialmente os muitos jovens talentos, sempre contemplados nas bienais –, além, é claro, do público. E lembra que é importante a difusão posterior dessas peças.

O maestro e produtor musical José Schiller, coordenador da Bienal e responsável pela música de concerto na Funarte, abriu a Bienal, com três homenagens in memoriam: aos compositores Sergio Roberto de Oliveira (1970/2017), com uma peça apresentada em seu tributo (a única não inédita), Olivier Toni (1926/2017), e Embaixador Vasco Mariz (1921/2017). Schiller citou ainda a homenagem especial ao musicólogo e membro da Academia Brasileira de Música, Flávio Silva, cujo nome e atuação estão vinculados decisivamente às Bienais de Música Contemporânea da Funarte – de onde foi servidor, por 40 anos, até 2017.

Edino Krieger comemora o presente. Marcos Souza planeja o futuro

Na plateia, o maestro  Edino Krieger – que tem uma obra encomendada nesta edição – afirmou: “Estou muito feliz que, com um esforço da Funarte, apesar de todas as dificuldades financeiras, esta Bienal esteja se realizando. Porque ela esteve ameaçada de interrupção, depois de uma trajetória tão longa e bonita, por falta de recursos – todos sabemos da situação econômica do país. Feliz também porque a Bienal hoje é um importante espaço, aberto para que se mostre a produção crescente de todas tendências, técnicas, linguagens e todos os estilos da música de concerto brasileira Estou muito satisfeito com a qualidade das obras, até agora. Feliz também com a participação da Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, que pertenceu à Rádio MEC, criada por sugestão minha”, comemorou Edino Krieger.

O diretor do Centro da Música da Funarte, Marcos Souza, avaliou que, em relação à XXII Bienal, o mais importante é manter o programa este ano, para que mantenha sua continuidade. “Teremos oportunidade agora de pensar sobre as bienais , para dar sequência a elas. O mais importante, nas circunstâncias em que esta edição aconteceu, foi o apoio e união dos músicos, da equipe da Funarte e de todos que colaboraram . O Centro da Música tem a agradecer a todos que participaram. Agora, começamos a pensar nas próximas, na realidade do momento”. Quanto à estratégia daqui por diante, Marcos diz que sente falta de envolvimento entre as bienais e estudantes, universidades e escolas; que, no desenvolvimento da ação, é preciso aproximá-los . “… Principalmente os cursos universitários de composição. Seus alunos têm que estar mais próximos, acompanhando desde o início, produção, ensaios… Temos que buscar mais essa parceria com as universidades”, considera Souza.

José Schiller comenta as bienais

José Schiller considera que a Bienal pode ser considerada um marco na música brasileira. “Poucos eventos tem essa longevidade e sem interrupção. Ela é um grande panorama, um ‘espelho’ do que acontece de significativo na música brasileira de concerto. Nisso está incluída a música eletroacústica e de todas as outras tendências estéticas, em obras para conjunto ou solo, orquestrais ou vocais”. Schiller comenta que, há pouco tempo, foi convidado para assumir a coordenação de música de Concerto da Funarte e que a proposta agora é debater sobre a iniciativa, fazer um balanço das bienais e ver que rumos e aperfeiçoamentos o programa poderá ter em suas próximas versões.*

Marlos Nobre e a ousadia na criação

O premiado Marlos Nobre aconselha aos jovens compositores ousar mais na criação para orquestra, não atrelar-se a padrões. “A tendência hoje no mundo é a pluralidade. Por exemplo: há 30 anos, quem não escrevesse música serial estava ‘fora da jogada’. Hoje, cada compositor é livre. O que interessa é que haja criação, não imitação. É preciso que a personalidade se afirme, através da novidade no estilo”. O maestro comenta que a composição cresceu muito no Brasil, desde a época em que começou, quando julga que era o único jovem autor conhecido). “Hoje há cerca de 600 jovens compositores!”, destaca.

Ricardo Tacuchian: o artista escolhe o público

“Graças à direção atual da Funarte, as dificuldades financeiras e de prazo foram vencidas. A Bienal é como um organismo vivo, sempre em mudança. Assim, precisa de ajustes, adaptações a novas circunstâncias. Devemos discutir se o atual formato é adequado, sustentável; se corresponde à realidade cultural atual; e se é benéfico para a música brasileira”, avalia o maestro e compositor Ricardo Tacuchian – que também estreia uma obra. “Participei de todas as bienais até agora. Antigamente, os tradicionalistas faziam um ‘patrulhamento’ estético de quem fazia música experimental, e vice-versa. Hoje, isso acabou. Hoje, julgamos a obra por sua qualidade inerente específica e pela capacidade que ela tem de comunicação com certo público. Porque, ao contrário do que a maioria pensa, é o artista que escolhe o público e não o contrário. O compositor atende a um determinado nicho, não pretendendo agradar a todo mundo. Mas eu concluí que vivemos numa época de uma positiva ‘tolerância estética’. E a Bienal traduz isso. Aqui tem jovens iniciantes e nomes consagrados, numa convivência é muito boa. Espero que a Bienal continue sempre”, observa Tacuchian.

Flávio Silva e Zezé Queiroz: dedicação contínua

Flávio Silva observa que ele, Zezé Queiroz e equipe conseguiram produzir 13 bienais (desde a décima, em 1995, porque foi mantido uma espécie de “procedimento padrão”. “Sempre houve os recursos necessários para a realização – embora sempre fossem liberados em cima da hora. Mas nunca foi fácil. Para esta XXII edição houve grande corte. Até os músicos colaboraram, abrindo mão de parte dos seus pagamentos, para que o evento pudesse ocorrer”, comentou o musicólogo.

Mais sobre a iniciativa

A Bienal de Música Brasileira Contemporânea foi fundada em 1975, pela Sala Cecília Meireles, parceira da iniciativa desde 1981, quando esta foi assumida pela Funarte. Nesta edição, a Bienal segue fiel a seus princípios. Seu compromisso é refletir e estimular todas as manifestações da música brasileira de concerto contemporânea, em sua diversidade estética, de linguagens, meios e formações. O Prêmio Funarte de Composição Clássica, que seleciona as peças concursadas, é realizado sempre um ano antes de cada Bienal.

*Com informações de áudio da Rádio Antena MEC FM (EBC)


XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea
De 23 a 29 de outubro de 2017

Programação

Dia 23, segunda-feira, às 19 horas – Theatro Municipal
Obras de Ernani Aguiar, Ronaldo Miranda, Liduíno Pitombeira, Paulo Costa Lima, Eli-Eri Moura e Marlos Nobre.

Dia 24, terça-feira, às 19 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Luciano Leite Barbosa, Caeso, William Billi, OiliamLanna, Marcos Nogueira, Igor Maia, Gustavo Bonin, Luã Almeida, Patrícia de Carli e Aylton Escobar.

Dia 25, quarta-feira, às 19 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Marcos Lucas, EdinoKrieger, Sérgio Roberto Oliveira, Mauricio Dottori, Tauan Gonzalez Sposito, João Isaac Marques, Guilherme Bertissolo, Santiago Beis, Caio Facó, Luigi Antonio Irlandini, Alexandre Schubert e Marco Feitosa

Dia 26, quinta-feira, às 19 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Danilo Rosseti, José Ricardo, Jorge Antunes, Alex Pochat, Bryan Homes, Luiz Carlos Csekö. Guilherme Ribeiro, Levy Oliveira, Bruno Santos, Thiago Diniz e  Lucas Filipe Oliveira.

Dia 27, sexta-feira, às 19 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Dimitri Cervo, Helder Oliveira, João Guilherme Ripper, Edson Zampronha, Ricardo Tacuchian, Wellington Gomes,

Dia 28, sábado, às 19 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Fred Carrilho, Danniel Ribeiro,Paulo Cesar Santana, Maryson J. S. Borges, Diego Batista, Alexandre F. Travassos, Felipede Almeida Ribeiro, Rodrigo Marconi, Marisa Rezende, Vinicius Amaro, CaduVerdan e Armando Lôbo.

Dia 29, domingo, às 17 horas – Sala Cecília Meireles
Obras de Ângelo Martins, Marco Antônio Machado, Marcos Cohen, Roberto Victorio, Rodrigo Cicchelli

Acesse abaixo catálogo com programação completa, nomes de obras e autores e mais informações

XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea
De 23 a 29 de outubro de 2017

Concertos: de 24 a 29/10, sempre às 19h

Sala Cecília Meireles
Rua da Lapa, 47 – Lapa, Rio de Janeiro (RJ)
(21) 2332 9223

Realização: Fundação Nacional de Artes – Funarte – Centro da Música
Patrocínio: Ministério da Cultura
Parceria: Academia Brasileira de Música e Sala Cecília Meireles
Apoio: Rádio Antena MEC FM – Empresa Brasileira de Comunicação (EBC)
Programa Partituras/ TV Brasil – EBC
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Acesse aqui Informações completas sobre as obras, os concertos e os músicos participantes

Mais informações
Funarte – Centro da Música: cemus@funarte.gov.br