Funarte lança livro ‘Teatros Multiconfiguracionais’, do arquiteto Robson Jorge

Cenógrafos, diretores, professores, críticos e teóricos do teatro prestigiaram o lançamento da obra, que registra as experiências com projetos inovadores no país. O autor foi, por 12 anos, coordenador do Centro Técnico de Artes Cênicas da Funarte

A Fundação Nacional de Artes – Funarte lançou no dia 3 de abril, o livro Teatros Multiconfiguracionais: o espaço cênico experimental como um jogo de armar, do arquiteto Robson Jorge, na Livraria da Travessa – Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ).

A obra trata de diversos formatos de salas teatrais brasileiras, reunindo dez projetos, desenvolvidos, em sua maioria, por meio das ações do Centro Técnico de Artes Cênicas da Funarte (CTAC) que, por 12 anos, foi coordenado por Robson. A publicação traz todo o material teórico e técnico que envolveu cada proposta, como plantas e fotos. Abrange as várias configurações, como palco italiano, arena, semi-arena, café-concerto e passarela.

Foram à noite de autógrafos muitos arquitetos e cenógrafos – como José Dias, Doutor em Cenografia pela USP, graduado pela UFRJ, professor da UFRJ e pesquisador – que escreveu o prefácio do livro, cuja apresentação, no evento, foi aberta por Filomena Chiaradia, gerente de edições da Funarte – ; além de diretores, atores, dramaturgos, críticos e técnicos teatrais; e de Camilla Pereira, coordenadora de Comunicação da Fundação, juntamente com muitos outros servidores da Funarte; alem de público, em geral. Robson Jorge Gonçalves comemorou esse interesse, destacando, dentre os arquitetos, os nomes de Jerônimo de Moraes Neto, conselheiro e ex-presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU), e de Lidia Kosovski – conhecida como cenógrafa, além de arquiteta. Entre os atores, estava Júlio Adrião, José Araujo e Marcelo Reis, diretor da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna; e muitos outros. “O livro é um compartilhamento de uma experiência de 30 anos com o público teatral, principalmente aos cenógrafos” resumiu o autor. “Agradeço especialmente ao grande José Dias, que me deu a alegria do prefácio”. Os dez projetos são pertinentes à realidade brasileira. São teatros simples, pequenos e baratos, que também favorecem a área de ensino-aprendizagem. Cabem em qualquer espaço, prédio ou instituição e até em galpões e casas. Foram construídos em sete estados diferentes, e por isso acho que têm boa repercussão nacional”, concluiu.

José Dias: “Teatro não é só o ator no palco” – é também infraestrutura

Na apresentação, o cenógrafo José Dias observou: “A obra é resultado de uma longa trajetória de Robson Jorge. Existem grandes arquitetos que, porém, na hora de projetar a caixa cênica, não dominam isso, não sabem das necessidades de uma sala de espetáculos. Robson começou a viajar pelo Brasil todo, para fazer manutenção de teatros tradicionais, pela antigo SNT, depois absorvido pelo Inacen, depois Fundacen, absorvido pela Funarte. Aprendeu com nossos grandes mestres da cenotecnia. Adquiriu a noção exata do que é de fato o teatro e de suas características; e das funções da atividade cênica. Passou da visão de espectador à de quem trabalha continuamente em teatro; passou a lidar com as demandas da classe artística cênica, com o fazer do espetáculo, com o que precisamos; percebendo as demandas de novos autores, diretores, cenógrafos e atores. Eram coletivos teatrais de jovens audaciosos, que precisavam não do espaço tradicional, com palco italiano – usado pelas grandes companhias do país – , mas sim salas nas quais se pudesse desenvolver trabalhos com liberdade artística. Robson Identificou essa lacuna: a falta de espaços multifuncionais. Através desse arquiteto, o SNT – Fundacen – Funarte, por meio do seu do Centro Técnico de Artes Cênicas (CTAC), começou a atender à classe teatral de todo o Brasil, criando espaços que pudessem ter múltiplas funções, além do palco italiano; que pudesse atender ao que os novos coletivos teatrais necessitavam: era preciso distribuir plateia e público em ambientes com disposições geométricas as mais diversas. Mas não foi só isso. Robson pensou também na cenotécnica, algo importante. Afinal, sem os elementos técnicos necessários para o fazer cênico não há teatro. Teatro não é só o ator no palco. Ele precisa da iluminação e dos outros aparatos, como cenário, boca de cena, proscênio, fosso, urdimento, coxia, piso, telas, varandas de manobra e de carga, bambolina e outros elementos [leia o glossário de termos da cenotécnica na página CTAC – Funarte: http://www.ctac.gov.br/teatro/sosgloss.htm)]. E Robson foi equipando os espaços que criava pelo País e, assim, deu chance para os jovens. Essas salas eram preparadas com todos os itens utilizados no trabalho artístico, necessários ao cenógrafo e às concepções de autores, encenadores e atores. Robson foi ousado! Partiu, muitas vezes, de ambientes já construídos e rompeu com suas estruturas, transformando-os em espaços multiuso. Acho esse livro muito importante, principalmente para os jovens arquitetos, cenógrafos e diretores que poderão usar os projetos nele descritos”.

Clóvis Levi: salas teatrais baratas e versáteis em qualquer lugar

Para Clóvis Levi, autor, diretor, professor da CAL e teórico da área teatral, já somente a ideia de “jogo de armar”, no título do livro, abre possibilidades múltiplas e dinâmicas. “Ela permite um caminho muito variado, para quem encena e para quem faz cenografia. A obra mostra, por exemplo, os praticáveis. Trabalhei com eles em Coimbra [Portugal]. São versáteis, têm grande potencial de metamorfose. Como estávamos numa escola do Governo, sempre faltava dinheiro; e esse equipamento permite fazer inúmeros cenários, absolutamente criativos e com um custo mínimo! A escola comprou-os praticáveis e pôde executar isso. Nem que fosse só esse projeto, divulgado para artistas de todo o país, já permitiria uma “viagem” criativa totalmente fantástica! Mas o que é fundamental nesse livro é: não se precisa de palco italiano; podem-se fazer espetáculos, com infraestrutura técnica, em qualquer lugar com uma área com medidas razoáveis, sem as características e o custo da sala tradicional! Esse trabalho é muito mais barato, ágil e completamente multifuncional. Permite que, com a dramaturgia de hoje (muito mais dinâmica que a usual), um encenador seja beneficiado, com inúmeras opções de linguagens; o autor também; e o cenógrafo, nem se fala! É a possibilidade de se ter teatros de arena, semi-arena e até com palco frontal (cuja relação com a plateia é a mesma do italiano) em recintos de vários tamanhos. Num pequeno espaço, você pode ter inúmeras possibilidades. Faz corredor, o que quiser! A principal riqueza dessa obra está nas possibilidades de polivalência de modelos que podem ser montados no Brasil todo, sem ser necessária exatamente uma construção, ou algo pesado, com toda a grande estrutura normal. E a montagem é muito mais adaptável e ágil.

Jerônimo de Moraes: a arte da arquitetura a serviço de outra arte

O conselheiro do CAU, Jerônimo de Moraes, refletiu: “A arquitetura teatral adquire, aqui, a natureza, de criar espaços para outra arte, a cênica. Nesse caso, funciona como um ‘envelope’ para uma outra linguagem. É muito interessante para o arquiteto a experiência de projetar teatros, pois ele serve a uma outra expressão artística, além da arquitetura. O projeto adquire essa dupla função artística de ser arquitetônico e também para teatro, dança e circo. Parabéns ao Robson pelo livro! Fico muito feliz que sempre as novas gerações possam estudar através da publicação”. Jerônimo e Robson trabalharam juntos em projetos cênicos premiados – até internacionalmente, como o Teatro dos Bancários, de Brasília, que recebeu medalha de ouro na Qadrienal de Praga (juntamente com outras salas brasileiras). O Teatro Cacilda Becker, da Funarte é projeto da dupla.

Humberto Braga: visibilidade e dignificação das funções técnicas teatrais

Humberto Braga, e-presidente e ex-diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, ex-secretário do MinC e servidor federal das artes desde 1968, na Funarte desde 1976, comentou: “Eu estava na Presidência da Funarte quando Robson me trouxe a proposta desse livro. Minha avaliação logo foi de encaminhá-la, por razões evidentes: primeiro porque, vindo de um profissional da competência e seriedade do autor, eu tinha certeza de que o assunto era relevante; e tratado com critérios de pesquisa pertinentes. Robson – como ressalta o especialista no tema, José Dias – é um arquiteto que se encantou com a magia do teatro e se especializou nessa área técnica, dedicando-se ao inestimável trabalho do Centro Técnico de Artes Cênicas – CTAC. Desde a época do Serviço Nacional de Teatro e do Inacen, hoje na Funarte, este Centro traçou uma importante trajetória dando visibilidade para as funções técnicas do teatro (como a cenotécnica, a arquitetura cênica e a luminotécnica, entre outras) e dignificando-as, através da sistematização de conhecimento, da assessoria a projetos e da formação de recursos humanos. Se todas essas razões não bastassem, acrescento mais uma: são as instituições públicas que viabilizam edições com matérias como essa – pela sua especificidade – porque esse também é um papel dessas entidades. Portanto, Fico orgulhoso, de ter contribuído com a edição deste livro, pelo seu tema; e porque faz justas referências a técnicos teatrais de alta categoria. Cabe um agradecimento, ainda, à equipe da Gerência de Edições da Funarte que, como sempre, abraçou o projeto com carinho e dedicação”.

O livro Teatros Multiconfiguracionais: o espaço cênico como um jogo de armar pode ser adquirido nas livrarias da Travessa e, em todo o Brasil, através do e-mail: livraria@funarte.gov.br, ao preço de R$35.

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