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Proença quer atividades da Fundação em todas as regiões do Brasil
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O novo presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte, Miguel Proença, foi empossado nesta terça-feira, 26 de fevereiro, pelo ministro da cidadania, Osmar Terra, na sede do Ministério, em Brasília. A solenidade contou com a presença do secretário especial da Cultura, Henrique Medeiros Pires.
Com novas ideias para a instituição, o pianista – com 55 anos de carreira, de renome internacional e premiado pela Unesco – foi diretor artístico do Teatro do SESI – RS e secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro; e dirigiu a Sala Cecília Meireles e a Escola de Música Villa-Lobos.
Selecionar e unir pessoas para atingir todo o país
A principal estratégia de Proença é espalhar ações da Fundação por todas as regiões do País, por meio de parcerias com agentes culturais de várias áreas artísticas. “Pretendo criar uma grande corrente de participação, incluindo na equipe realizadores que produziram experiências artísticas vitoriosas em suas regiões. Eles trabalharão nas representações da Funarte ou em suas cidades de origem”.
Para o gestor, esse plano tem condições de levar a Funarte a todo o Brasil – presença essa que faz parte da missão da entidade. “Nesse programa, a Fundação deve ser, antes de tudo, uma fonte geradora de novas possibilidades para essas programações de sucesso. Deve ter um papel de direção artística”. Proença cita alguns dos futuros colaboradores: “A diretora do Teatro da Paz, em Belém do Pará, Glória Caputo; Maria das Graças Neves, em Vitória (ES) – que sempre foi uma grande animadora cultural; Em São Paulo, Lilian Barreto, que foi diretora do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e da Sala Cecília Meireles e idealizadora do Concurso Internacional de Piano do Bndes, entre outros nomes”. A ideia é que haja um excelente produtor como diretor artístico da Funarteem cada região do país, em todos os estados onde for possível. “Promoveremos uma grande união de todos esses animadores culturais e isso será muito importante”, anuncia o presidente.
“Sou um inquieto que, essencialmente, trabalha com impulso criativo”, diz o presidente. Empolgado, ele já pediu que um dos pianos da Funarte seja colocado em seu gabinete. “Quero tocar depois do trabalho e, com isso, já criar um ambiente de arte na própria sede da instituição”, comenta.
Ações mais direcionadas ao público – especialmente a jovens
Essa presença nacional da Fundação deve ter como foco essencial o público. “Ele é meu alvo e sempre foi. Isso me guia. É importante formá-lo, conquistá-lo e mantê-lo”, define. Nesse sentido, seus planos também incluem ações educativas para crianças e jovens – como concertos didáticos e visitas guiadas a mostras de artes plásticas e audiovisuais – entre outras. “Nelas, os jovens vão aprender tudo sobre o que vão ver”, destaca Proença, citando sua experiência nos concertos didáticos que instituiu na Sala Cecília Meireles (que, segundo ele, tanto emocionaram crianças e adolescentes).
“Pretendo fazer o projeto Cine Paradiso – Guerra ao Tablet, ou algo assim, com os mais belos filmes para jovens, para aproximá-los da arte, afastando-os um pouco do excesso de uso dos celulares e outros dispositivos digitais”, acrescenta. Ele planeja, ainda, que a Funarte desenvolva propostas com grupos de arte de comunidades carentes. O objetivo é a inclusão social e a qualificação de artistas com grandes talentos. “Já fizemos isso na Sala Cecília Meireles, unindo música erudita e popular”, reforça.
Ideias para atividades musicais, cênicas e de artes visuais
“Na música, quero que o Brasil não fique mais de costas para as outras nações da América Latina. Os músicos vão muito para a Europa. Onde está nossa América, que tem tantos talentos? Quero que a Funarte faça essa união, a partir da XXIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea [2019], com apresentações especiais, que incluam obras de compositores e intérpretes de outros países” propõe o presidente.
Para o circo, ele indica o desenvolvimento de novas expressões, tais como o “pole dance” – destacando talentos nacionais das artes circenses. Quer desenvolver a relação destas com linguagens derivadas da “commedia dell’arte” – que, é claro, também contempla o teatro; e interação com o balé, em espetáculos mistos. “Pretendo que a Funarte resgate a magia do circo e também ajude a renová-lo”, afirma.
No teatro, Proença deseja que o Dulcina, no Rio comece a apresentar peças clássicas e a resgatar sucessos, como Gota D’Água (numa homenagem a Bibi Ferreira). “Quero transformar esse teatro – já um símbolo da Funarte – num espaço com muitas possibilidades; deixá-lo muito popular e, ao mesmo tempo, nobre”. Quanto às outras salas da instituição, deseja que haja nelas muitos e variados espetáculos. Pretende apresentar, por exemplo, pequenas óperas, semelhantes às da Pocket Opera (EUA), com árias famosas. “A produção de ópera é cara. Mas o formato compacto permite difundir essa arte para quem não a conhece, com um investimento viável”, explica o dirigente – inspirado na recente viagem que fez à Alemanha, de onde pensa em trazer bons cantores, com a parceria de uma grande escola de ópera.
Peças de ballet e obras que revivam teatro de revista estão também entre os projetos para os teatros da Funarte. “A programação será planejada conforme cada espaço”, completa o dirigente. Nas salas menores, ele quer que haja pautas “bem didáticas”. Para os adultos, quer implantar, em parceira com o musicólogo e pesquisador Ricardo Cravo Albin o Recordando, projeto que resgata a memória de grandes cantores – no qual já homenageou Braguinha, entre outros nomes.
Nas artes visuais, a ideia é identificar espaços para parcerias em exposições da Funarte, com obras de qualidade. “Já estamos localizando algumas galerias. Nelas, a Fundação deve promover visitas guiadas para estudantes de todos os níveis escolares, com apoio de monitores capacitados”, planeja o presidente.
Ele pretende, ainda, que a Funarte estimule a população a ouvir música e dançar, em logradouros públicos de várias cidades do Brasil, tocando gravações de obras populares ao ar livre – de ritmos típicos locais, como maracatu (PE), carimbó (PA), samba (RJ) e muitos outros – no projeto Trabalhou, dançou.
Sobre o quadro geral de contenção de despesas do País, Proença reconhece que a verba da Funarte hoje é pequena; e que, em princípio, deverá adequar seus propósitos a essa realidade; “Mas vou ver o que posso fazer quanto a isso” avalia. Diz, porém, que em 2019 a entidade vai executar o que já está programado em seu orçamento.
A carreira de Miguel Proença
Nascido em Quaraí (RS), em 1939, Miguel Angelo Oronoz Proença é doutor pela Escola Superior de Música de Hannover. Lecionou no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e ocupou o cargo de professor convidado da Universidade de Música de Karlsruhe (Alemanha). Como pianista de concerto de repertório amplo, atuou como camerista e solista, em todo o Brasil e em vários países estrangeiros.
Nos anos 1970, coordenou a Sala Funarte. Em 1979, participou de uma caravana de música erudita e popular do Projeto Pixinguinha, da Fundação, ao lado da soprano Maria Lúcia Lucia Godoy e do sexteto Viva Voz, com repertório nacional. Lançou diversos discos, incluindo a coletânea Piano Brasileiro (2005) – prêmio Patrimônio da Música Brasileira da Unesco (ONU) –, e o CD Tango, com Bibi Ferreira (2006). Gravou peças Villa Lobos, de cuja obra para piano é considerado um dos maiores intérpretes, e de Alberto Nepomuceno, entre outros compositores. Organizou e foi o protagonista da série de turnês Piano Brasil, que levou música erudita a 150 municípios de todos as unidades da Federação e a países como Itália, França, Espanha e Macedônia. Em 2015, tornou-se Cidadão Honorário do Rio de Janeiro, onde mora. Integrou o júri de diversas competições internacionais em países como Japão, Portugal, França, Itália e Espanha. Integra o Hall da Fama da Steinway & Sons (Hamburgo, Alemanha), juntamente com os maiores pianistas de todos os tempos.
Sempre atuou em projetos artísticos, educacionais e de formação de público. De 1995 a 1998, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes (MEC), proporcionou a centenas de estudantes brasileiros bolsas de estudo, na Europa, na Rússia, no Japão e no Brasil. Na década de 1980, foi diretor da Escola de Música Villa-Lobos, no Rio de Janeiro; e, entre 83 e 88, secretário de cultura do município. Nesse ano e em 89, foi escolhido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como o melhor pianista do ano. Dirigiu a Sala Cecília Meireles (também no Rio), de 2017 até janeiro de 2019.
Em 1991, foi instituído comendador da Ordem do Rio Branco (Governo Federal), por suas atividades no cenário musical brasileiro. Executou a partitura de piano da trilha sonora do filme Villa-Lobos – uma vida de paixão (2000), dirigido por Zelito Viana. Em 2003, fez recitais na França, Itália, Japão, Alemanha e Eslovênia. No ano seguinte, integrou o júri da 5th International Tchaikovsky Competition, no Japão, e do Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Portugal.
Jornais de vários países enaltecem seu trabalho musical, tais como o La Marseillaise (Marseille, França) – “…ama seu piano e transfere esse sentimento ao seu público…um grande instrumentista” –, o Daily Telegraph (Londres, Inglaterra) – “A sonoridade de Miguel Proença tem vida…” – e o The New York Times (EUA), em texto de H. Schonberg: “Domínio técnico e belíssima sonoridade…”.