Centenário de nascimento de Lygia Clark: artista plástica inovou ao convidar o público a interagir com suas obras

Lygia Clark. Foto: Arquivo Nacional

Lygia Clark, cujo centenário de nascimento celebrou-se na última sexta-feira (23), foi uma pintora e escultora contemporânea que se autointitulava “não artista”. Movida a novas experiências e interessada em despertar todos os sentidos do público, propunha a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador. No final da carreira de quatro décadas, Lygia Clark abandonou o objeto como expressão da arte. Mergulhou na psicologia e nas trocas sensoriais para criar uma outra linguagem com o público.

Suas obras ganharam o mundo e estão nos principais acervos de arte. Há seis anos, uma mostra ocupou várias salas do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Trinta e dois anos após a morte da artista, as exposições que estavam programadas para acontecer em Portugal, na Itália e na Espanha mostram o reconhecimento internacional de sua obra. No Brasil, uma exposição que estava marcada em uma galeria para celebrar o centenário de nascimento da artista foi adiada para 2021. Uma exposição no Museu Guggenheim Bilbao, na Espanha, foi aberta em março e fechada por causa da pandemia, mas já reabriu ao público.

Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1920, e iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado.  Em 1950 viajou a Paris e, em 1952, realizou sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique. De volta ao Brasil, participou do movimento neoconcreto – sendo uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto –, que teve exposições em 1959, no Museu de Arte Moderna do Rio (MAM/RJ); em 1960, no Ministério da Educação e Cultura – hoje Palácio Gustavo Capanema, também no Rio; e em 1961, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). A transição da pintura para a escultura começou nos anos 1960.

Na busca pelo novo, criou Os Bichos, esculturas em metal feitas para serem manuseadas. Foi um marco na arte moderna brasileira, promovendo interação com o público, hoje tão comum. Sua preocupação voltava-se para uma participação ainda mais ativa do público. Caminhando (1964) marca essa transição, tendo o público como participante ativo na obra. Nessa época, a artista participa de exposições no MAM/RJ e inicia trabalhos voltados para o corpo, para a exploração sensorial, que visam ampliar a percepção, retomar memórias ou provocar diferentes emoções. Neles, o papel do artista é o de propositor ou canalizador de experiências.

Em O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa (1967), um casal veste roupas confeccionadas pela artista, cujo forro comporta materiais diversos. Aberturas na roupa proporcionam, pela exploração táctil, uma sensação feminina ao homem, e à mulher, uma sensação masculina. Em Luvas Sensoriais (1968), dá-se a redescoberta do tato por meio de bolas de diferentes tamanhos, pesos e texturas. A instalação A Casa É o Corpo: Labirinto (1968) oferece uma vivência sensorial e simbólica ao visitante, que penetra numa estrutura de oito metros de comprimento, passando por ambientes denominados “penetração”, “ovulação”, “germinação” e “expulsão”.

Na década de 70, retorna a Paris, onde leciona na Faculdade de Artes Plásticas St. Charles, na Sorbonne. Nesse período, afasta-se da produção de objetos estéticos e volta-se para experiências corporais, nas quais os materiais estabelecem relação entre os participantes.

Retorna ao Brasil em 1976 e dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Na terapia, o paciente cria relações com os objetos, por meio de sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade ou movimento, e revive, em contexto regressivo, sensações registradas na memória do corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição da linguagem. A prática faz com que, no final da vida, ela considere seu trabalho definitivamente alheio à arte e próximo à psicanálise. Nos anos 1980, sua obra ganha reconhecimento internacional com retrospectivas em várias capitais internacionais e em mostras antológicas da arte internacional do pós-guerra.

* Com informações do Enciclopédia Itaú Cultural e Wikipedia

Para saber mais:
Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark

SERVIÇO

Publicações Funarte

Paulo Sergio Duarte: a trilha da trama e outros textos sobre arte
Coleção Pensamento crítico – Volume 1
Organização: Luisa Duarte
Ano: 2009 (2ª ed) / Nº de páginas: 244 / Formato: 14x21cm / Acabamento: Brochura Peso: 350g /
Preço: R$ 27,00
Código do produto: 7453
Sinopse: Coletânea de 29 ensaios do crítico, pesquisador e professor de história da arte Paulo Sergio Duarte. Os textos estão divididos em três partes: “Artistas brasileiros contemporâneos”, “Resenha” e “Estudos sobre teoria e história da arte”. Ao abordar os questionamentos, a estética e a trajetória dos profissionais da primeira metade do século XX, Paulo Sergio oferece a seus leitores as bases para a compreensão e o desfrute da arte contemporânea. O autor analisa obras de nomes importantes nas artes plásticas brasileiras, como Antonio Dias, Lygia Clark, Waltercio Caldas, Amilcar de Castro, Carlos Vergara e Lygia Pape.
À venda na Livraria Mário de Andrade – Tel. (21) 2279-8071

Projeto Arte Brasileira: abstração geométrica 1 – concretismo e neoconcretismo
Organização: Ligia Canongia
Ano: 1987 /  70 páginas / Formato: 21×21 cm /Acabamento: Brochura / Peso: 250 g
Preço: R$ 20,00
Sinopse: Além de artigos discutindo o concretismo e o neoconcretismo no Brasil, são apresentadas ilustrações de obras e breves biografias dos mais relevantes nomes da arte abstrata no país, tais como Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Waldemar Cordeiro, Luiz Sacilotto, Amilcar de Castro e Franz Weissmann, entre outros.
ESGOTADO. Mas disponível no CEDOC. Consulte neste link: 

LYGIA CLARK
Textos de Ferreira Gullar, Mário Pedrosa e Lygia Clark
Ano: 1980 /60 páginas / Formato: 18 x 22 cm
Funarte, série Arte Brasileira Contemporânea
Contém muitas imagens em preto e branco e coloridas, da trajetória da artista e suas obras
ESGOTADO. Mas disponível no CEDOC. Consulte neste link

*No Centro de Documentação e Pesquisa da Funarte – Cedoc, encontram-se outras publicações sobre as obras da artista

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