Na última quarta-feira, dia 3 de fevereiro, a atriz e diretora teatral Dulcina de Moraes, um dos maiores nomes das artes cênicas brasileiras, faria 112 anos. A Fundação Nacional de Artes – Funarte prestou, ao longo dos anos, algumas homenagens à artista, em publicações de textos, fotografias do acervo do seu Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) e vídeos, da Coordenação de Difusão e Pesquisa da casa.
“Quando nasceu, Dulcina não deixou dúvidas de que seu destino era mesmo ser atriz. Em 1908, seus pais, dois grandes atores da época, excursionavam com uma companhia pelo interior do Rio de Janeiro, quando chegaram à cidade de Valença. Átila e Conchita de Moraes – ela grávida de Dulcina, prestes a dar à luz – iam apresentar uma peça naquela mesma noite. No hotel onde o elenco se hospedaria, seu proprietário, ao perceber que alguém iria nascer a qualquer momento dentro de seu estabelecimento, proibiu que o casal ali permanecesse. Houve um início de tumulto, o elenco revoltou-se e recusou-se a ficar hospedado naquele local. O incidente chegou aos ouvidos da Condessa de Valença que, imediatamente, liberou um casarão desabitado para receber os artistas. Providenciou-se um colchão, toda a população solidarizou-se trazendo mantimentos”, registra texto publicado no Site Brasil Memória das Artes (Funarte).
A convite de Leopoldo Fróes, um dos maiores nomes do teatro brasileiro, Dulcina estreou como protagonista aos 15 anos no espetáculo Lua Cheia e foi apontada como revelação. Passou a integrar as companhias teatrais mais importantes.
Casou-se com o ator Odilon Azevedo, em 1931, com quem fundou, alguns anos depois, a companhia Dulcina-Durães-Odilon, responsável por grandes sucessos – como Amor, de Oduvaldo Vianna protagonizado pela atriz, sob orientação do autor. A montagem estreou em São Paulo, em 1933; depois, inaugurou o Teatro Rival, no Rio; e percorreu todo o país. O trabalho alcançou o auge do sucesso em 1934 e atingiu a alta sociedade, tornando a obra um grande clássico nacional.
Marcos da carreira de Dulcina
Dulcina recebeu a medalha da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT), como melhor atriz de 1939. Até seus figurinos passaram a influenciar a moda. “A Cia. Dulcina-Odilon, uma das mais profícuas de que se tem notícia, encenou importantes dramaturgos brasileiros e internacionais […]” e “pela primeira vez, apresentou ao público brasileiro autores como García Lorca (Bodas de Sangue), D’Annunzio (A Filha de Iório), Bernard Shaw (César e Cleópatra, Santa Joana, Pigmaleão) e Giraudoux (Anfitrião 38). Os autores nacionais também brilharam no repertório de Dulcina, como Viriato Correia (A Marquesa de Santos), Raimundo Magalhães Jr (O Imperador Galante) e Maria Jacintha (Convite à Vida, Conflito, Já é Manhã no Mar), entre muitos outros”, acrescenta o Brasil Memória das Artes.
Em 1945, a montagem de Chuva, adaptação da novela de Somerset Maugham, teve subvenção do ministro da Educação e Cultura Gustavo Capanema para uma temporada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Dulcina dirigiu e protagonizou o espetáculo, vivendo a personagem Sadie Thompson. “O espetáculo se torna um marco em sua carreira, na medida em que se mostra engajado na modernização teatral […] A crítica considera o papel de Sadie Thompson um dos melhores da carreira da atriz”, diz a Enciclopédia Itaú Cultural.
Segundo o Brasil Memória das Artes, Chuva marcou a maior consagração da vida de Dulcina. “Foi encenada por anos seguidos em todo o país, na América Latina e em Portugal, deixando uma legião de admiradores, entre eles, muitas queridas estrelas como Marília Pêra, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro e Nicette Bruno (esta, inclusive, lançada por Dulcina)”, complementa o BMA.
A “primeira atriz do teatro brasileiro”
Em 1949, a artista ganhou novamente o Prêmio ABCT, com melhor direção por Mulheres, de Claire Boothe. Em 1952, já era a “primeira atriz do teatro brasileiro”. Em 1953, recebeu o Prêmio Municipal de Teatro de melhor direção por O Imperador Galante, de Raimundo Magalhães Jr.. No final da década, “convencida da necessidade de revestir a profissão de ator de uma preparação técnica, a atriz investe o dinheiro poupado ao longo da carreira na criação da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), que realiza cursos e espetáculos. Em 1972, transfere-se com sua fundação para a capital federal […]. Só retorna ao palco carioca em 1981, a convite de Bibi Ferreira, que a dirige em O Melhor dos Pecados, de Sérgio Viotti, escrito especialmente para a atriz”, destaca o Itaú Cultural.
A Fundação Brasileira de Teatro
O Brasil Memória das Artes conta a história da Fundação Brasileira de Teatro: “em 1955, iniciava suas atividades a Fundação Brasileira de Teatro, por quem ela viveu e morreu, deixando até um pouco de lado sua gloriosa trajetória como atriz, diretora e empresária, para dedicar-se integralmente a este sonho, primeiro no prédio onde hoje está o teatro que leva seu nome, no Centro do Rio de Janeiro, e a partir de 1972, em Brasília, formando centenas de atores, dando dignidade à profissão”.
Dulcina mudou-se, a partir daquele ano, para a Capital, para dedicar-se exclusivamente à FBT. Mas ainda protagonizou várias montagens. Em 1982, ganhou um Prêmio Molière Especial. O site ressalta a “luta pela sua amada Fundação, que só abandonou quando não tinha mais forças. Ela nos deixou em 28 de agosto de 1996, em Brasília.
Assista ao documentário Dulcina, atriz e teatro, da Funarte, abaixo:
Leia mais, neste link, para texto do pesquisador Pedro Paulo Malta
Com informações do Projeto Brasil Memória das Artes, da Coordenação de Difusão e Pesquisa e do Centro de Documentação e Pesquisa (vinculados ao Cepin – Funarte)
e da Enciclopédia Itaú Cultural