Uma celebração à memoria de grandes artistas

Da esq. para a dir., de cima para baixo: Donga (imagem do Fundo do Correio da Manhã / Acervo Arquivo Nacional); Mazaroppi (Fundo Correio da Manhã); Maria Clara Machado (Arquivo Nacional); Cacilda Becker (no espetáculo "Em moeda corrente do país" / Acervo Arquivo Nacional); José Carlos Queirolo, o palhaço Torresmo (Reprodução de vídeo / acervo @papo-e-repapo); Mussum (Reprodução de rede social/ Facebook/ @forevismussum); Decio Roberto, o Bozo (Divulgação); e Cazuza (reprodução da capa do disco "Exagerado")

Grandes nomes brasileiros, de diferentes linguagens artísticas, fariam aniversário neste início de abril. São personalidades do teatro, da música, do circo, da TV e do cinema, com trajetórias marcantes para a arte brasileira. A Funarte celebra essas datas, destacando um pouco sobre a vida e obra de cada um deles. Confira:

Maria Clara Machado, cem anos

O dia 3 de abril marcou o centenário de Maria Clara Machado, idealizadora da escola de teatro O Tablado, no Rio de Janeiro – fundada em 1951, quando ela tinha 30 anos. A professora, escritora e dramaturga mineira esteve à frente da instituição por cinco décadas. Escreveu e encenou dezenas de peças infantojuvenis de sucesso, deixando um legado precioso para as artes cênicas do país.

Maria Clara Machado com uma turma de crianças. Imagem: Arquivo Nacional

Aníbal Machado, pai de Maria Clara, era escritor, crítico literário e promotor da cultura. Realizava um encontro dominical na residência da família, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, à rua Visconde de Pirajá, 487. Grandes nomes da elite cultural de meados do século XX passaram por lá. Foi nesse ambiente que Clara cresceu, testemunha de bate-papos entre escritores, intelectuais e artistas como Albert Camus, Pablo Neruda, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Di Cavalcanti, Goeldi, Guignard e Portinari.

Em 1950, Maria Clara Machado conseguiu uma bolsa para estudar teatro em Paris. Ao voltar ao Brasil, percebeu que não podia esperar por convites. Em 1951, juntou-se a alguns jovens amigos e fundou o grupo de teatro amador O Tablado (que depois também se tornou escola). O reconhecimento nacional e internacional da artista veio com a dramaturgia infantil, com obras clássicas como Pluft, o fantasminha e A Bruxinha que era boa.

Cazuza, 63 anos

No dia 4 de abril, o carioca Agenor de Miranda Araújo Neto (1958-1990), o Cazuza, completaria 63 anos. O cantor, compositor, poeta e letrista chegou a prestar vestibular para comunicação social, porque o pai lhe prometera um carro. Desistiu do curso em menos de um mês de aula. Em 1976, o pai arrumou emprego para ele numa grande gravadora, da qual era presidente. Lá, Cazuza trabalhou no departamento artístico e na assessoria de imprensa. Depois, foi divulgador de artistas na antiga gravadora RGE. Após sete meses de um curso de fotografia na Universidade da Califórnia em Berkeley, deu alguns passos como fotógrafo.

Reprodução da capa do disco “Exagerado”, de Cazuza

Seu início como cantor veio com a montagem da peça Pára-quedas do coração, conclusão do curso de teatro ministrado por Perfeito Fortuna (Grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone). Em 1981, o Barão Vermelho precisava de um vocalista. O novo integrante apresentou suas músicas e o grupo – com Roberto Frejat, guitarrista; Dé, baixista; Maurício Barros, teclados; e Guto Goffi, baterista – deixou de reproduzir covers para compor repertório próprio. Com uma produção baratíssima, o disco Barão Vermelho foi gravado em dois dias, com boa recepção de artistas. Entre estes, estava Caetano Veloso, que incluiu Todo amor que houver nessa vida em seu show; e criticou as rádios, por não tocarem as músicas do conjunto. Cazuza também fez grande sucesso em solo. Seu disco de estreia nessa linha foi Exagerado (1985).

Palhaço Torresmo, 103 anos

José Carlos Queirolo (1918-1996), de nome artístico Torresmo, foi um palhaço e ator brasileiro, que em 1950 trocou o picadeiro pela televisão. Trabalhou na TV por 30 anos, período em que também gravou 80 discos infantis e participou de cinco filmes. No dia 4 de abril, ele teria completado 103 anos. Nascido em Espírito Santo do Pinhal, Paraná, foi um dos palhaços mais populares do Brasil. Cresceu no Circo Irmãos Queirolo – nome da tradicional família circence que o fundou e até hoje o administra. O pai, o uruguaio José Carlos Queirolo, era o palhaço Chicharrão; também era cantor e músico instrumentista. A mãe, a argentina Graciana Cassano Queirolo, era atriz.

Em 1943, a família mudou-se para o Rio de Janeiro e Torresmo foi atuar no Teatro Recreio. Até 1949, trabalhou em rádios. Depois, foi para o Circo Alcebíades, do pai do amigo, Fuzarca. Em 1950, foi morar na cidade de São Paulo. Participou do programa de Luiz Gonzaga, no Cine-Teatro Odeon, dando início a uma nova carreira, com a troca do picadeiro pela televisão. Sua estreia na TV foi em 1950. Trabalhou em programas infantis de todas as emissoras de então, entre elas as TVs Paulista, Cultura, Excelsior, Bandeirantes, Record e Tupi – na qual ele e seu companheiro Fuzarca atuaram juntos, por 14 anos. Em 1964, morreu o parceiro e Torresmo passou a se apresentar com o filho, Pururuca, de 15 anos de idade.

Donga. Imagem: Fundo do Correio da Manhã / Acervo Arquivo Nacional

Donga, 131 anos

Já no dia 5 de abril seria o aniversário de 131 anos do músico Donga. O carioca Ernesto Joaquim Maria dos Santos (1890-1974) foi compositor e instrumentista (violão e cavaquinho), filho do pedreiro Pedro Joaquim Maria dos Santos e de Amélia Silva dos Santos. Sua mãe, conhecida como Tia Amélia, foi uma das figuras-chave do grupo das “baianas do bairro da Cidade Nova”. Além da organização de festas, rodas de música e cultos religiosos afro-brasileiros, Amélia colaborou na fundação de blocos e ranchos carnavalescos, dos quais Donga participou, ainda menino. Ele aprendeu a tocar cavaquinho e violão na infância. Compôs suas primeiras canções na adolescência.

Iniciou a vida artistística com um grupo de jovens músicos que frequentava a casa das “tias baianas”, na Cidade Nova e na Saúde, na Capital Fluminense. Entre 1913 e 1914, com o pseudônimo Zé Vicente, se juntou aos amigos Pixinguinha e Caninha para formar o Grupo do Caxangá. Dois anos mais tarde, compôs Pelo Telefone, com Mauro de Almeida, sucesso no Carnaval de 1917. A partir da década de 1920, participou de diversos outros coletivos. Em 1919, como violonista, fez parte do grupo Os Oito Batutas, liderado por Pixinguinha. Em 1922, patrocinados por Arnaldo Guinle, eles se apresentaram como Les Batutas, no Dancing Sherazade, com sucesso em Paris. Mas separam-se logo em seguida. Na volta, passaram por Buenos Aires e gravaram juntos. Em 1928, criou a Orquestra Típica Pixinguinha−Donga. Nos anos 1930, os dois fundaram os grupos Diabos do Céu e Guarda Velha.

Em 1940, foi convidado por Villa-Lobos para participar, com João da Baiana e Pixinguinha, de encontro com o maestro Stokowski (1882 – 1976), inglês radicado nos Estados Unidos. As gravações num navio, ancorado no Rio de Janeiro, geraram o disco Native Brazilian Music. Das 16 músicas selecionadas para o disco, nove têm assinatura de Donga – entre elas a embolada Bambo do Bambu (com Patrício Teixeira). Ela foi depois gravada por Carmen Miranda, nos EUA, em 1939, e por Ney Matogrosso, em 1983. Por iniciativa do radialista Almirante, formou com Pixinguinha, em 1954, o conjunto Velha Guarda, para retomar a obra e a vida artística dos músicos mais antigos. Paralela à vida artística, fez carreira como oficial de justiça, função na qual alcançou aposentadoria.

Cacilda Becker no espetáculo “Em moeda corrente do país”. Imagem: Acervo Arquivo Nacional

Cacilda Becker, cem anos

No dia 6, outro grande nome completaria 100 anos de vida, Cacilda Becker Yáconis (1921-1969). Nascida em Pirassununga (SP) a atriz foi protagonista de vários espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e fundadora da companhia que ganhou seu nome – transitando da farsa à tragédia; e do clássico ao moderno. Ingressou no Grupo Universitário de Teatro (GUT) em 1943. No ano seguinte, integrou a Companhia de Comédias Bibi Ferreira (1922-2019). Em 1945, voltou ao GUT. Colaborou ainda com ao grupo Os Comediantes, além de atuar em diferentes companhias, enquanto exercia outras funções, ligadas à interpretação e à escrita, na Rádio Tupi e na Rádio América, na década de 40.

Em 1947, mudou-se para o Rio de Janeiro para atuar no filme Luz dos Meus Olhos, dirigido por José Carlos Burle (1910-1983). De volta a São Paulo, foi a primeira profissional contratada do TBC, em 1948, função que manteve até 1955, Sua primeira consagração foi no Teatro das Segundas-Feiras, com montagem de Pega Fogo (1950), do francês Jules Renard (1864-1910). Sua interpretação do personagem Poil de Carotte rendeu uma boa crítica quando o espetáculo se apresentou no Teatro das Nações, em Paris — na ocasião, foi comparada a atores como o britânico Charlie Chaplin (1899-1977) e o francês Jean Louis Barrault (1910-1994).

Em 1953, voltou ao cinema em Floradas na Serra, do diretor de cinema italiano Luciano Salce (1922-1989). Em 1955, trabalhou como antagonista da personagem de sua irmã, também atriz, Cleyde Yáconis (1923-2013), em Maria Stuart, do alemão Friedrich von Schiller (1759-1805), dirigida pelo polonês radicado no Brasil Zbigniew Ziembinski (1908-1978). Na televisão, encenou peças teatrais na TV Cultura, em 1956; e o programa dramatúrgico Teatro Cacilda Becker, em 58. No mesmo ano, fundou o grupo Teatro Cacilda Becker (TCB). Em 1965, ganhou a Medalha de Ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) como melhor atriz do ano, pelos trabalhos em A Noite do Iguana, do americano Tennessee Williams (1911-1983), e O Preço de um Homem, do francês Steve Passeur (1899-1966).

Décio Roberto, 63 anos

Elias Abreu da Silva (1984-1991), conhecido artisticamente como Décio Roberto, foi um ator brasileiro. Egresso do circo, ele interpretou o palhaço Bozo na televisão até 2 de março de 1991. Morreu em 2 de novembro do mesmo ano, em consequência de uma pneumonia. Décio completaria 63 anos neste 7 de abril.

Mussum, 80 anos

Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), mais conhecido por Mussum, foi um famoso humorista, ator, músico, cantor e compositor brasileiro. Estreou na TV em 1966, no programa humorístico Bairro Feliz (no ar desde o ano anterior), com os colegas do grupo Originais do Samba. Consta que, na época, o comediante Grande Otelo o apelidou de Muçum, que viraria seu nome artístico com a mudança na grafia: Mussum.

No início dos anos 1970, contracenou com os colegas Renato Aragão, o Didi, e Manfried Santana (Dedé), no programa Os Insociáveis, que geraria grupo Os Trapalhões. Em 1974, o trio foi para a TV Tupi, para estrelar um programa com três horas de duração, desta vez com já com o nome Os Trapalhões. Na emissora, eles passaram a contar com colega mineiro Mauro Gonçalves, o Zacarias, formando o quarteto que consagraria a formação.

Mazaroppi. Imagem: Fundo Correio da Manhã

Durante os primeiros anos de Os Trapalhões, Mussum conciliou suas atividades na televisão com a carreira nos Originais do Samba. Em 1981, no entanto, decidiu deixar este grupo, para se dedicar integralmente ao humorismo.

Mazzaropi, 109 anos

Amácio Mazzaropi (1912-1981) foi um ator, humorista, cantor e cineasta paulista. Em 9 de abril, completaria 109 anos. Filho de um casal de classe média, cresceu sem problemas financeiros. Em 1940, montou o Circo Teatro Mazzaropi e, em 1940, a Companhia Teatro de Emergência. Em 1958, fundou a Pam Filmes – Produções Amacio Mazzaropi e passou a produzir e dirigir seus filmes, sendo sua primeira produção Chofer de Praça. Na ocasião, empregou todas as economias para alugar os estúdios da Cia. Vera Cruz. Como não tinha dinheiro para fazer as cópias do filme pronto, realizou shows pelo interior até arrecadar a quantia necessária.

O cenário dos filmes de Mazzaropi são as fazendas. A princípio, elas eram emprestadas, mas, depois, o artista comprou a sua. Batizou-a de Fazenda da Santa e lá montou estúdio. Ali produziu seus filmes mais aplaudidos, como Tristeza do Jeca e Meu Japão Brasileiro, entre outros. Mazzaropi também passou pela TV Excelsior, fazendo parte de um programa apresentado por Bibi Ferreira, Brasil 63. Faleceu em 13 de junho de 1981, aos 69 anos, vítima de câncer na medula – logo após iniciar sua 33ª produção, Jeca e Maria Tromba Homem.

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