Projetos de sucesso em arte e tecnologia são apresentados no Encontro Funarte

Com o tema ‘Experimentação e Difusão Cultural’, a Mesa de Experiências I, do dia 9 de novembro, do I Encontro Funarte de Políticas para as Artes foi destinada à apresentação de práticas bem-sucedidas no campo da produção e da difusão de arte. A escritora, professora e pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda estava entre os palestrantes. Abaixo, uma síntese das palestras.

I Encontro Funarte de Politicas para as Artes-9/11. Mesa de Experiências I. Foto: S. Castellano
I Encontro Funarte de Politicas para as Artes-9/11. Mesa de Experiências I. Foto: S. Castellano

Conexão digital entre artistas e público – Em meio a importantes comentários sobre artes e tecnologias, Heloísa Buarque de Holanda fez a apresentação do site que coordena, o ‘Zona Digital’  O projeto, contemplado pela Bolsa Funarte de Reflexão Crítica e Produção Cultural para a Internet, difunde o conhecimento sobre as novas relações entre cultura e tecnologia no contexto contemporâneo.

Em uma síntese destas relações, Heloísa – que é professora de Teoria Crítica da Cultura da UFRJ – defendeu que a tecnologia não surge espontaneamente, mas sim por uma demanda, de muitos anos, da sociedade. “Como disse Umberto Eco, O Século XX foi o da imagem; o XXI, da palavra. A tecnologia chegou não para acabar com o livro ou produzir um leitor medíocre, mas para ampliar as possibilidades da produção textual. No Concretismo, por exemplo, a palavra ‘pedia’ para sair da página’, explanou a escritora, que deu o exemplo do hipertexto, utilizado hoje, frequentemente. “Jorge Luis Borges já fazia uma literatura hipertextual”, disse, provando que a necessidade do recurso já existia. “A tecnologia chegou para atender a um momento de experimentação literária que precisava dela”, resumiu a escritora, lembrando, porém, que é muito demorado o processo de legitimação de uma nova área do saber, situado na fronteira entre o conhecimento e a tecnologia.

Heloísa apresentou o site Zona Digital (http://zonadigital.pacc.ufrj.br), coordenado por ela e Editado por Cristiane Costa. O espaço virtual tem a missão de reunir reflexões sobre arte e tecnologia. O site abre caminho para criação, divulgação e debates sobre as novas perspectivas da mídia digital na produção cultural, conectando escritores, artistas em geral, ativistas culturais e produtores. O compromisso é formar redes que liguem público e autores. A proposta é difundir a consciência de que as artes têm muito a ganhar ao aproximar-se das novas tecnologias. O projeto busca dar acesso à arte e à reflexão crítica sobre as novas mídias ao maior número de pessoas, promover a inclusão social e disseminar as novas possibilidades criativas da cultura digital, para vários segmentos sociais e faixas etárias, de forma ampla e democrática. A prioridade do site é “estimular a criação, produzir conhecimento sobre as novas relações entre cultura e tecnologia no contexto da cultura contemporânea, descobrir talentos” e aproximar artistas de áreas de interesse as mais diversas.

Para Heloísa, o ponto mais importante da cultura digital para os novos rumos do pensamento e da ação cultural é a transparência das informações e sua visibilidade, bem como a ampliação do acesso a elas e ao conhecimento. “Este é o assunto mais ‘quente’ e é nisso que devemos prestar mais atenção. E esta é uma pauta deste seminário, que é muito importante, também por causa disso”, disse a pesquisadora ao Portal das Artes Funarte.

Projetos premiados – Thalita Oliveira apresentou seu projeto de animação ‘Experiência Animada’, contemplado pela Funarte, em parceria com a Secretaria de Cidadania Cultural do MinC, no prêmio Interações Estéticas em Pontos de Cultura . O projeto foi desenvolvido no Ponto A Saga/Cine Anima, em Itamaracá (PE). Thalita destacou que o trabalho permitiu ao Ponto de Cultura conhecer e adquirir equipamentos que poderão ser aproveitados futuramente – um exemplo de consequência positiva.

Em seguida, Dora de Andrade falou sobre seu projeto de oficinas de videodança ‘Distância’, realizado em Niterói (RJ), também selecionado no prêmio Interações Estéticas. A ideia básica do trabalho é a conexão entre dança, movimento, e tecnologia audiovisual, e seu compartilhamento na Internet. As oficinas estimulam o estudo e a experimentação dos conceitos de dança e de movimento, associados a técnicas de gravação e edição de vídeos. O público é de jovens, moradores de comunidades de baixa renda. Dora apresentou os vídeos resultantes de uma oficina, totalmente produzidos pelos alunos. “Eles demonstraram domínio das técnicas”, avaliou ela.

Uma empresa privada comenta seus programas – Maria Arlete Gonçalves, Diretora do Instituto Oi Futuro, falou sobre experiência da organização. Primeiramente, ela demarcou a diferença entre a empresa de telefonia, de mesmo nome, de sua vinculada cultural. “O Oi Futuro já foi o Instituto Telemar, criado há dez anos. Naquela época, seria impensável a participação de uma empresa num evento sobre cultura. Mas o Instituto também trabalha com políticas públicas”, explicou Maria Arlete.

“Começamos a estimular na empresa valores como responsabilidade social e solidariedade. Mas também buscamos projetos com qualidade e inovação. Em prioridade, estão a infância e a juventude”, destacou a diretora. Como caso de sucesso, ela citou o programa de patrocínios culturais do Instituto. “Ele funciona dentro de um ambiente de solidariedade com o público. Desde 2002, lançamos um edital anual, colaborando com o fomento à cultura. Foi uma inovação que deu certo.” Aberto a pessoas físicas e jurídicas, o edital de 2011 selecionou 187 projetos de 15 estados. “Os conceitos norteadores do programa são: busca por identidade e diversidade regionais; acesso (formação de plateias e foco em cidadania); desenvolvimento (geração de renda); expressão, e inovação. Maria Arlete comentou que a comissão avaliadora do programa reúne cerca de 30 especialistas, muitos de fora da empresa, vários deles indicados pela imprensa de arte e cultura. Isto, segundo a palestrante, daria um caráter mais amplo e democrático à avaliação.

A diretora comentou sobre os espaços culturais da instituição, que ficam no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, Recife e Salvador, e expôs um conceito: Não é a arte que tem que se adaptar ao espaço, mas sim o contrário”.

Segundo Maria Arlete, a meta da empresa é colaborar para a transformação social, através da tecnologia. “O objetivo principal dos programas do Instituto é fazer com que os projetos progridam de fato, e ainda provocar no público a inquietação positiva em relação à arte”, concluiu.

Cultura digital: construção colaborativa – O coordenador de cultura digital do MinC, José Murilo Jr., lembrou que a internet foi criada para acesso livre e irrestrito e que a interatividade proporcionada por ela tem sido explorada pelo Ministério. “Estes recursos possibilitaram ao Estado construir políticas públicas em colaboração com a sociedade civil. Como exemplo, citou o portal http://culturadigital.br/, criado pela Coordenação de Cultura Digital, hoje alimentado por grande número de usuários, que nele podem criar e divulgar seus próprios blogs. José Murilo anunciou ainda o projeto do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais, que será criado para integrar dados do Sistema MinC e disponibilizá-los para o público. “Ele vai aumentar o acesso às informações, trazer maior transparência e facilitar a participação dos cidadãos. A ideia é prosseguir na criação de uma plataforma única, que inclua a conexão entre acervos das diversas produções culturais – como a das artes, teatro, música e artes visuais, por exemplo”. José Murilo explica que o projeto não representa centralização de dados, mas sua disponibilização em rede, com uma visão alternativa à das grandes corporações, que hoje oferecem o acesso a todo tipo de informação. Para o coordenador, é necessário refletir sobre as ideologias que podem estar contidas nas ferramentas tecnológicas, e não somente usufruir delas. O palestrante propôs ainda que o Sistema venha a conter um “registro unificado de obras intelectuais”.

Outro modelo de ação pública, segundo José Murilo, teria sido o trabalho de discussão sobre o Marco Regulatório da Internet. “Esta foi a primeira legislação colaborativa do mundo”, disse o palestrante.  Segundo ele, também é necessário haver, na cultura digital, uma reflexão pública sobre uso de software livre e padrões abertos.

A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – Ao apresentar a RNP, o gerente de projetos da Rede, Álvaro Malaguti destacou que ela está na própria origem da Internet no Brasil. A RNP é um programa interministerial, que abrange Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Inovação e também atua na área da saúde. A entidade é voltada para a promoção do uso inovador do recurso tecnológico de redes com grande velocidade e alta capacidade.

Álvaro falou sobre a parceria da RNP com Funarte, com base em um dos projetos, o dos “Laboratórios Funarte de Experimentação em Arte e Tecnologia”. “Ele não será feito para mero uso administrativo, mas para ampliar o acesso a obras de arte e experiências artisticas”, disse o especialista, salientando que o papel da arte na inovação tem de ser cada vez mais discutido, por toda a sociedade, e não apenas pelo MinC.

Como exemplo de atuação da RNP, Malaguti citou a parceria da Rede com o Festival da Cultura Digital, que será no dia 1/12 no Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro), entre outros projetos, cujas informações estão no site www.rnp.br.

O mediador da mesa foi André Bezerra, servidor do Centro de Programas Integrados (Cepin) da Funarte.

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