A Fundação Nacional de Artes apresenta, de 10 a 18 de março, na Funarte MG, a Mostra Internacional Japonesa Experiências J-Pop. Durante uma semana, o público poderá conferir os espetáculos inéditos em Belo Horizonte TRI-K, com TRI-K (Tóquio) e Massive Water, com Yubiwa Hotel (Tóquio), além de mostra de filmes pink– estética gay romântica japonesa – formada por sete filmes, entre curtas, médias e longas, e um debate com os realizadores Koichi Imaizumi e Hiroki Iwasa.
Massive Water fala de zumbis, mortos-vivos, nem gente e nem bicho, seres híbridos que vivem entre a terra, o mar, tsunamis e desastres atômicos. Tri-k fala de números, símbolos, homens orientais comuns e suas individualidades, numa performance que propõe refletir sobre a padronização da vida, da própria arte e das possíveis linhas de fuga em qualquer lugar do mundo globalizado.
Ainda na programação, alguns filmes j-pop e um diálogo pontuando o projeto Experiências J-pop.
A cultura J-pop surge no Japão na década de 60, como uma apropriação da música pop mundial e dos seus ritos e performances, misturando-se às sonoridades e onomatopeias da língua japonesa e também de suas tradições culturais milenares. Esta cultura J-pop foi aos poucos se infiltrando e contaminando o Oriente, chegando até hoje não mais como um produto japonês exótico, mas como um significativo diálogo entre duas formas de pensar, entender e fazer uma mixagem entre a cultura contemporânea e a cultura tradicional.
MOSTRA DE FILMES
• Angel in the Toilet – Um Anjo no Banheiro Público Direção Koichi Imazumi | 1999 | Japão | Colorido | DV | 33min. | Sem diálogo. A história de um anjo que encontra uma série de homens em um banheiro público. Uma fábula sobre identidade.
• Naughty Boys – Garotos LevadosDireção Koichi Imazumi | 2002 | Japão | Colorido | DV | 76min. | japonês com legendas em inglês. Gacchan mora com seu amante Takayuki, mas tem o mau hábito de sair com outros garotos, não conseguindo ver nada de errado nisso.
• BOKUTOTSU Direção Hiroki Iwasa | 2009 | Japão | Colorido | DV | 10min. | japonês com legendas em inglês. Um homem sofre retaliação de um amigo que está encantado por uma vidente cujas previsões só alimentam preocupações e incertezas.
• Hatsu-koi (Primeiro Amor)Direção Koichi Imazumi | 2007 | Japão | Colorido | DV | 96min. | japonês com legendas em inglês. Hatsu-koi significa primeiro amor em japonês. Tadashi está no último ano do ensino secundário e está secretamente apaixonado pelo seu colega de sala Kota, mas não consegue contar a ele.
• I want you to kiss me (from an omnibus film“Queer boys and girls on the Shinkansen”) Direção Koichi Imazumi | 6 min. | legendas em inglês. O curta de Imaizumi Koichi extraído do filme antológico planejado e produzido por “habakari-cinema+records”: Queer Boys and Girls on the SHINKANSEN (Bullet Train) – que traz dez diretores e artistas que afirmam o que é ser gay em seu trabalho.
• SANDATSU Direção Hiroki Iwasa | 2009 | Japão | Colorido | DV | 7min. | Sem diálogo. A história de um guarda chuva que foi descartado.
• The Family Complete (A Família Completa) Direção de Koichi Imazumi | 2010 | Japão | Colorido | DV | 106min. | japonês com legendas em inglês. Nós podemos conectar nossos corpos, mas não conseguimos conectar o centro de nosso coração. Amor e solidão. Verdades e mentiras. Sexo e violência. Sangue e lágrimas. Esperança e desespero. Cigarras noturnas e fumaça azul. Tigre e dragão. A tragicomédia de uma família infectada com um novo vírus. A falta de comunicação como tema, em um drama sobre os lares japoneses.
Koichi Imaizumi e Hiroki Iwasa
Koichi Imaizumi, ator, dramaturgo e diretor começou sua carreira em 1985 como performer do Tokyo Grand-Guignol, companhia de teatro performativo. Desde 1990 atuou majoritariamente em filmes “pink” (romances pornográficos japoneses), contando com mais de 100 títulos. Em 1999 funda a ‘habakari-cinema+records’ e inicia sua carreira como realizador de filmes independentes. A maioria de seus filmes foram mostrados em inúmeros festivais de cinema internacionais, incluindo o International Filmfestspiele Berlim, Alemanha e Mix Brasil. É também co-criador e intérprete da performance Tri-k.
Hiroki Iwasa, faz música desde 1995. Em 1999, ele fundou com Koichi Imaizumi Habakari+cinema+records, para quem compôs todas as trilhas sonoras de seus filmes. Foi o diretor de 5 curta metragens: “greysilence”(2001), “BOKUTOTSU”(2009), “SANDATSU”(2009), “u”(2010) e “SHIBUTSU”(2010).
ESPETÁCULOS
Sobre TRI-K – TRI-K
Tri-K é um diálogo sobre o corpo, entre dois japoneses e um chinês. Sobre como um ser humano acha seu lugar no mundo. Baseado na observação e na exploração do que eles têm em comum e do que não é comum entre eles, e o aproveitamento real de suas diferentes técnicas, habilidades e conhecimento, Tri-K fala de identidades mutáveis.
Dick Wong, Takao Kawaguchi e Koichi Imaizumi constróem aproximações compondo uma colagem multi-dimensional da dança, do texto, do drama e da película. Esta é uma colaboração entre três artistas com disciplinas e trabalhos bem diferentes: Dick Wong, um dançarino/coreógrafo de Hong Kong que trabalha pensando o que é a dança em si; Takao Kawaguchi, ex-integrante da companhia japonesa Dumb Type, que agora realiza um projeto pessoal e independente, misturando mídias diversas e buscando decifrar os códices da realidade contemporânea japonesa e Koichi Imaizumi, um cineasta jovem e independente, cujos filmes abordam de certa forma as mesmas questões pertencentes a Dick Wong e Takao Kawaguchi.
Para Takao Kawaguchi, Tri-K representa uma armadilha, perigo, advertência e a performance tem uma profunda relação com a questão do verdadeiro e do falso. Tri-K pode ser um jogo, uma tensão ou prejuízo, todas estas propriedades “do número 3”. Tri-K são interações contínuas em uma colaboração e manipulação do tempo, do espaço e da história.
Concepção e atuação Dick Wong, Takao Kawaguchi e Koichi Imaizumi | Luz Nami Nakayama | Audiovisual Tzvasa Wada | Direção de palco So Ozaki | Edição música/vídeo Peixe-elétrico | Figurino Noriko Kitamura | Produção Mikiko Goto | Co-produção Hong Kong Arts Festival and Takao Kawaguchi Project | Patrocínio The Saison Foundation, The EU-Japan Fest Japan Committee, Tokyo Metropolitan Government e Tokyo Metropolitan Art Space
Sobre Massive Water – Yubiwa Hotel
Yubiwa Hotel é um coletivo aberto que trabalha com performance em suas mais variadas formas, criado e liderado por Shirotama Hitsujiya, que é autora, diretora e, algumas vezes atriz, destas performances. Yubiwa Hotel surgiu em 1994, com a ideia de colocar em xeque o teatro comercial e a indústria cultural japonesa, propondo o desmonte e a mixagem da cultura tradicional e da cultura pop japonesa. Yubiwa Hotel tem se apresentado dentro e fora do Japão desde 2003, realiza tournées, tendo se apresentado em Tokyo, Osaka, Kyoto, Cardiff, Londres, São Paulo, Portland e Nova York entre outras.
Shirotama Hitsujiya, é considerada a primeira e uma das mais importantes dramaturgas pós-dramáticas japonesa.
“Massive Water – Enchente” é um projeto sobre a vida e a morte, tendo personagens zumbis como símbolos maiores. O Zumbi nesta performance é um símbolo que representa a cultura japonesa, onde o cidadão comum está preso a padrões estabelecidos e arcaicos, extremamente limitadores, mas que sobrevivem de uma forma impositiva e viva no cotidiano das cidades japonesas.
No começo do séc 21 uma mulher se mistura a um coelho e se transforma em um zumbi: ser nômade, feminino e alegórico. Um tanto a personagem-ícone de Alice no País das Maravilhas e ao mesmo tempo um sem-teto da cidade de Tóquio. Esta figura mulher-coelho segue empurrando seu carrinho morada – meio de produção, suas inutilidades e sua horta ambulante, lutando pela sobrevivência e fazendo saladas. Ao encontrar outros seres ela interage com eles através do ritual humano do comer juntos. Sua luta diária é pela preservação de seu carrinho-morada-meio de produção, e seu caminho tem como meta reencontrar um lugar ideal para interromper seu nomadismo. No final do séc 21, o momento desta performance, ela chega naquele lugar e encontra ali um homem- gambá que é também um Zumbi. A mulher-coelho e o homem-gambá se identificam imediatamente e percebem que ambos buscam a mesma coisa: escapar de sua meia vida imortal, dividir sua pouca comida e através destas simples ações, encontrar respostas.
Uma fábula de aparência ingênua, mas ao mesmo tempo perversa, em um Japão pós/pré apocalipse, que coloca aos espectadores os vazios da cultura japonesa e seus disfarces, seus “avatares”, retomando desta forma questões fundamentais do homem contemporâneo. O excesso e mixagem de referências, orientais e ocidentais mistura Carrol, Kantor, vídeo games, estéticas teatrais barrocas e contemporâneas, filmes B japoneses, figuras míticas japonesas como samurais e personagens de ficção cientifica, fazendo da performance um terreno alagado e movediço sem pontos de apoio, mas deslizante, pleno de derivas e derrilições como é o mundo hoje.
Texto e Direção Shirotama Hitsujiya | Atores Shirotama Hitsujiya, SKANK | Direção de Arte Akiko Sakata, Yuya Ishikawa | Figurinos Ikuko Okazaki (ROCCA WORKS), Mayumi Iijima | Música Nibroll | Maquiagem Daisuke Yamada | Design de Luz Kaoru Ito, Tatsuya Nagai (Stagecrew Network) | Design Sonoro Teppei Maeda (Stagecrew Network) | Multimídia Keisuke Takahashi – Nibroll | Direção de palco Yoshinori Itoyama (Stagecrew Network) | Direção de Produção Yuko Itoyama, Asuka Ohmaru – Art Management Center Fukuoka
MOSTRA EXPERIÊNCIAS J-POP
Sobre o projeto – a visão dos produtores
“A arte no Japão, a partir de 1990, passou a desafiar tudo o que havia testemunhado na vida real até então. Duas grandes tragédias marcaram o período: os atentados terroristas liderados por Asahara Shôkô que infestaram de gás sarin os metrôs de Tóquio; e o grande terremoto de 1995 que destruiu boa parte da cidade de Kobe e os seus arredores. Além disso, a fartura da década anterior havia diminuído drasticamente e, por isso, as conversas sobre recessão econômica e a perda dos valores tradicionais pareciam cada vez mais importantes.
No final do milênio, com o fortalecimento da estética pop que passou a invadir de forma ostensiva o mercado internacional, mudaram os cartões postais do Japão. Ao invés do Monte Fuji, da cerimônia do chá e dos teatros nô, kabuki e bunraku, os japoneses começaram a exportar um novo mundo — o mundo pós-Akira– que, em poucos anos, tornou-se uma das imagens mais rentáveis e um verdadeiro objeto de desejo para os estrangeiros.
As imagens apocalípticas eram mais atraentes do que assustadoras e, ao mesmo tempo, revisitavam os estereótipos mais famosos. Assim, as tradicionais gueixas eram substituídas por estudantes de mini-saia que, ao invés da máscara impecável de maquiagem, guardavam entre cabelos escorridos no rosto, sorrisos safados. Em outras situações, entre arranjos florais, pingavam gotas de sangue e, ao invés das silhuetas sutis, tudo parecia exposto. O pacto com as sombras e o silêncio que marcava até então a cultura nipônica, parecia definitivamente abandonado. No Japão contemporâneo, todos querem ser ouvidos.
Alguns artistas fazem parte da geração apelidada pelo artista Murakami Takashi de superflat, a-histórica e a-política. Nestas experiências, os limites entre a arte e o consumo são atravessados e todos parecem confortáveis, abrindo mão das questões ideológicas que agitaram a década de 1960. Outros preferem incluir nos seus processos criativos uma visão mais crítica para repensar a sua posição no mundo. Não se contentam com os rótulos ocidentais que insistem em classificar toda arte oriental a partir de sub-categorias da história da arte ocidental. Também não querem apenas “comercializar coisas”, mas sim, expor suas questões, debater idéias e sentimentos. A companhia Yubiwa Hotel e o coreógrafo Takao Kawaguchi fazem parte deste contexto. Yubiwa Hotel foi criada em 1994 por Shirotama Hitsujiya e tem apresentado performances em vários países do mundo. Cada obra apresenta camadas diferentes. O interesse que este grupo de artistas mulheres gera no mercado internacional é também de ordem filosófica e existencial. Para a performance que será apresentada desta vez no Brasil, Shirotama Hitsujiya trabalha com a metáfora do zumbi que, a seu ver, representa a situação de muitos japoneses, seguindo o curso da vida cotidiana anestesiados e apáticos. Takao Kawaguchi começou sua carreira com o famoso grupo Dumb Type, concebido por alunos da Universidade de Kyoto. Nos últimos anos tem se dedicado a projetos individuais ou parcerias eventuais como é o caso de Tri-K. Kawaguchi é considerado por críticas como Kazuko Kuniyoshi, um dos criadores mais instigantes da dança contemporânea japonesa.
Mais do que um comércio de produtos, o novo circuito das artes japonesas tornou-se essencial não apenas para quem quer conhecer uma “cultura exótica”, mas para todos que buscam empatia com arte contemporânea”.
Christine Greiner /PUC-SP
PROGRAMAÇÃO
10 de março
19h – mostra de filmes • Um anjo no banheiro público de Koichi Imaizumi | 33 min. | sem diálogo •Naughty boys de Koichi Imaizumi | 76 min. | legendas em inglês
11 de março
19h – mostra de filmes • I want you to kiss me (from an omnibus film “Queer boys and girls on the Shinkansen”) de Koichi Imaizumi |6 min. | legendas em inglês • Bokutotsu de Hiroki Iwasa | 10 min.| legendas em inglês • Hatsu-koi (First Love) de Koichi Imaizumi | 96 min. | legendas em inglês
12 de março
19h30 – mostra de filmes • Sandatsu de Hiroki Iwasa | 7 min. | sem diálogos • The family complete de Koichi Imaizumi | 106 min. | legendas em inglês
20h – Conversa com os diretores Koichi Imaizumi e Hiroki Iwasa sobre suas filmografias e a sociedade japonesa atual.
13 de março
21h -espetáculo TRI-K com TRI-K (Tóquio) Concepção e atuação Dick Wong, Takao Kawaguchi e Koichi Imaizumi
14 de março
21h -espetáculo TRI-K com TRI-K (Tóquio) Concepção e atuação Dick Wong, Takao Kawaguchi e Koichi Imaizumi
17 de março
21h -espetáculo massive water com yubiwa hotel (Tóquio) Texto e Direção Shirotama Hitsujiya
18 de março
21h -espetáculo massive water com yubiwa hotel (Tóquio) Texto e Direção Shirotama Hitsujiya
MOSTRA EXPERIÊNCIAS J-POP
Filmes, Debate, Espetáculos
De 10 a 18 de março
Local: Funarte MG – rua Januária, 68 – Floresta – Fone: 3213-3084.
Ingressos para espetáculos: R$10,00 (inteira) – R$5,00 (meia).
Entrada gratuita para os filmes.