Tradição Judaica é tema de espetáculo na Funarte MG

A Carpa Foto Celso Lemos

No dia 30 de março, Belo Horizonte recebe o espetáculo A Carpa. A partir de um texto inédito, premiado em concurso promovido pela Funarte, em 2004, a peça faz curtíssima temporada na capital mineira. Projeto foi selecionado pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2011/2012.

Com texto de Denise Crispun e Melanie Dimantas, direção do premiado diretor da TV Globo, Ary Coslov, com Ivone Hoffmann e Anna Cotrim no elenco, A Carpa coloca em questão uma geração que rompeu com a tradição e está em crise.

A Carpa é mais do que um peixe. É um olhar enternecido e irônico sobre a tradição de um povo. Segundo as autoras, a peça foi escrita a quatro mãos, cada uma trazendo suas histórias e frases familiares, mas, que coladas, pareciam uma só.

Ivone Hoffmann e Anna Cotrim se revezam em quatro papéis, em duas épocas e em países diferentes: Brasil e Rússia. Uma mãe que ainda carrega dentro de si o seu país e as tradições dos guetos e uma filha aculturada, que se casou com um “não judeu”.

De acordo com as atrizes, a peça foi escrita de um fôlego só, “imbuídas de um desejo, talvez a princípio inconsciente, de falarmos de uma questão que parecia adormecida, nossa identidade judaica. Sempre nos intrigou o que ainda carregávamos da Europa e das tradições em nossas vidas tão laicas. E chegou uma idade em que viramos mães e vimos no espelho os rostos de nossas mães. E pensamos: será que isso sempre foi assim? Filhas viram mães e têm filhas que viram mães e assim por diante… E o que se repete nesse processo? O que se carrega de uma geração para outra? Quando falamos de quem é a voz que ecoa? Quando nos encontramos nunca imaginamos que escreveríamos algo assim tão próximo de nossas identidades. Em nossas conversas, as raízes em comum tornaram-se cada vez mais presentes quando nos lembrávamos da nossa infância, dos nossos pais e avós que vieram fugidos da Europa em busca de um recomeço num país livre. Eles vinham com esperança, mas traziam em suas malas a Rússia, a Polônia e a Bessarábia. Queriam acima de tudo ser brasileiros, mas não queriam ser góis. Nós, as crianças, podíamos nos misturar mas não muito. E em Pessach, a páscom judaica, tínhamos que saber cantar o “Manishtaná”, afirmam.

De acordo com Ary Coslov, diretor de “Fina Estampa” e ganhador dos Prêmios Shell e APTR, em 2008, na categoria Melhor Direção, pela peça “Traição”, o espetáculo aborda as diferenças de gerações, através da relação de uma mãe e uma filha que confrontam suas visões do judaismo e, mais que isso, suas relações afetivas. “Poderiam ser cristãs, muçulmanas, budistas, não importa. O que importa é a resistência do amor, mesmo com a diferença de pontos de vista, das leis da religião e da vida. O Pessach celebra a libertação e, por extensão, a busca por um mundo melhor. É isso o que fazem essas mulheres judias da peça, cada uma a seu modo”, afirma o diretor.

Sinopse:

A ação transcorre em um único dia, véspera de Pessach, a páscoa judaica. Em torno da feitura do peixe tradicional, mãe e filha confrontam com humor amargo suas visões de mundo. Nos limites geográficos de uma cozinha, a mãe, cheia de certezas e valores imutáveis, e a filha, na corda bamba entre o que lhe foi legado e o mundo em que vive, têm que descobrir um afeto que, apesar de todas as diferenças, existe adormecido entre as duas.

Sobre Pessach:

A celebração de Pessach, a Páscoa judaica, representa um momento de muita alegria para o povo judeu, pois relembra a fuga do Egito, onde os judeus eram escravos. Comandados por Moisés, caminharam quarenta anos  pelo deserto. Toda uma geração ficou pelo caminho e uma outra, nova, sem as lembranças da escravidão, chegou à Terra Prometida.

Serviço:

Espetáculo: A Carpa

Classificação: 10 anos

Temporada: 30/03 a 01/04

Horário: Sexta e sábado às 20h e domingo às 19h

Local: Funarte MG
Endereço: rua Januária, nº 68, Floresta, Belo Horizonte
Ingressos: R$12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia)

Duração: 80 minutos

Informações: (31) 3213-3084

Ficha Técnica:

Autor: Denise Crispun e Melanie Dimantas

Direção: Ary Coslov

Assistente de Direção: Marcelo Aquino

Elenco: Ivone Hoffmann e Anna Cotrim

Direção de Produção: Celso Lemos

Cenário: Marcos Flaksman

Iluminação: Aurélio de Simoni

Figurino: Kalma Murtinho

Trilha Sonora: Ary Coslov

Programação Visual: Carolina Montenegro

Prepação Corporal: Esther Weitzman

Assessoria de Imprensa: Luciana Rocha

Produção Executiva: Lilian Bertin

Direção de Produção: Celso Lemos

Currículos:

Denise Crispun e Melanie Dimantas – autora

As duas autoras escrevem, há mais de 25 anos, para cinema, teatro e TV. Apesar de trajetórias diferentes, “A Carpa” surgiu de um encontro e de uma vontade de refletir sobre a questão judaica.

Denise nasceu no Rio de Janeiro e é formada em história e tem seu trabalho mais voltado para teatro infantil e adulto, literatura, roteiros educativos e é também colaboradora de novelas.

Melanie nasceu em São Paulo, é socióloga, escreve roteiros para cinema e leciona na Faculdade de Comunicação da PUC. É consultora do Laboratório SESC de Roteiros. Juntas escreveram também “Acorda, Amanda”, ainda inédita.


Ary Coslov – diretor

Nasceu no Rio de Janeiro e começou sua carreira profissional como ator em 1963 com a peça “Aonde vais, Isabel?” de Maria Inês de Almeida, no Teatro Jovem. Até 1980, participou de mais de 20 peças, tendo atuações destacadas em “A Tempestade” de W.Shakespeare (1964), “Mortos sem sepultura” de Jean-Paul Sartre (1965), “A Bossa da conquista” de Ann Jellicoe (1966), “Pequenos burgueses” de Maksim Gorki (1967), “Juventude em crise” de G. Bruckner (1968), “Tango” de S.Mrozeck (1972), “Titus Andronicus” de W.Shakespeare (1975) e “A Fila” Israel Horowitz (1979). Como diretor, estreou em 1977 com “Palácio do tango” de M.Irene Fornès e até hoje dirigiu mais de 15 peças, entre elas “Pedra, a tragédia” de Mauro Rasi, Vicente Pereira e Miguel Falabella (1986), “Dona Rosita a solteira” de Garcia Lorca (1986), “A Bossa da conquista” de Ann Jellicoe (1996), “O Irresistível sr.Sloane” de Joe Orton (2001), “Polaroides explícitas” de Mark Ravenhill (2002) e “Traição” de Harold Pinter (2008), tendo recebido por essa última os prêmios Shell e APTR, Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, ambos como melhor diretor de teatro de 2008. Atuou na televisão como ator em diversos programas e novelas desde 1963 e como diretor à partir de 1979, tendo dirigido até hoje mais de 50 produções, entre novelas, minisséries, seriados, musicais etc, sendo a mais recente, “Fina Estampa”, na TV Globo.

Ivone Hoffmann – atriz

Atriz e diretora de teatro. É também professora de interpretação e diretora geral na

Casa de Arte Laranjeiras – CAL. Seus principais trabalhos como atriz são: Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, dirção de Walter Lima Jr; O Rim, de Patricia Mello, direção de Elias Andreatto; Velhas Raposas, de Lillian Hellman, direção de Naum Alves de Souza; Medéia, de Eurípedes, direção Bia Lessa; Como Aprendi à dirigir um carro, de Paula Vogel, direção Felipe Hirsch; A Visita da velha senhora, de Friedrich Durrenmatt; Tango, Bolero e Chá Chá Chá, de Eloy Araújo, direção Bibi Ferreira, O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekov, direção de Ivan de Albuquerque, entre muitos outros. Por sua interpretação em Como Diria Montaigne, de Wilson Sayão, direção de Luiz Arthur Nunes, recebeu o Prêmio Shell de 1995. Pelo conjunto de seus trabalhos como atriz de teatro foi agraciada em Curitiba com o Prêmio de Melhor Atriz de teatro em 1981.

Anna Cotrinm – atriz
Anna Cotrim, atriz paulistana, começou a fazer aulas de teatro ainda em São Paulo, no Teatro Escola Macunaína. Se mudou para o Rio de Janeiro no final dos anos 70, ingressando nessa mesma época no Teatro O Tabladode Maria Clara Machado. Foi aluna e dirigida pela mestra do teatro infantil em vários espetáculos. Nos anos 90 fez 3 espetáculos junto a Cia dos Atores, entre eles “A Bao A Qu (um lance de dados)” uma das primeiras experiências e pesquisas de linguagem da companhia. Ainda em teatro, trabalhou também ao lado de Augusto Boal, Alcione Araújo, Rubens |Corrêa …
Em sua trajetória no cinema tem os longas-metragens: “Nosso Lar” de Wagner de Assis (2009), “Última Para 174” de Bruno Barreto (2008), “Outras Estórias” – Pedro Bial (1999), “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues (1995), “Lamarca”, de Sérgio Rezende (1994) e “Era uma vez …”, do Argentino Arturo Uranga (1993).
Sua experiência na TV começou em 1994, no programa “Você Decide”, especial de final de ano e contou com a direção de Roberto Talma. Participou das novelas: “Porto dos Milagres” (2001), “Agora é que são elas” (2003), “Páginas da vida” (2006), “O Profeta” (2007).
Em 2008, passou pelos programas: “Toma, Lá, Dá, Cá”, “Malhação”, “Duas Caras”, “Dicas de Um Sedutor”, “Por Toda Minha Vida” (sobre a vida de Dolores Duran) e “Faça sua História”, todos na mesma emissora, Rede Globo.
De 2008 a 2011, foi professora de interpretação de teatro no Grupo Nós do Morro, na Comunidade do Vidigal. Dirigiu com seus alunos da turma de 2009/2010 o espetáculo “A Vida Como ela é”, baseda nos contos de Nelson Rodrigues.

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