II Encontro Funarte de Políticas para as Artes discute o papel das residências artísticas

Nadam Guerra, Fabiano Carneiro, Ana Teresa Vasconcelos (do Cepin Funarte), Marjorie Botelho e Augusto Albuquerque

Realizadas no Rio de Janeiro, palestras e debates sobre políticas públicas relacionadas às artes são oferecidas ao público até dia 14 de novembro, com entrada franca

O II Encontro Funarte de Políticas para as Artes, apresentou a Mesa temática I, com o tema “Trânsitos: deslocamentos e residências”, na segunda-feira (12) às 14h, no Auditório Muniz Aragão. O Encontro, realizado no Palácio Gustavo Capanema, Centro do Rio de Janeiro, de 12 a 14 de novembro, reúne pesquisadores, artistas e gestores culturais para palestras e debates. O tema principal, “Interações Estéticas em Rede”, aborda a relação entre práticas de diversos tipos de organizações que lidam com a arte – entre elas, os Pontos de Cultura.

O eixo temático da Mesa I foi “Criação e Experimentação”, que reúne trabalhos teóricos, ou exposições de práticas, relacionados ao estímulo à criação artística. Está incluído fomento, apoio a artistas ou grupos e residências artísticas, entre outras políticas. A primeira mesa discutiu o papel desempenhado pelas residências no processo criativo, ou seja: como esta experiência interfere na atividade do artista, na reflexão sobre seu trabalho e nas transformações que a arte provoca na sociedade. Compuseram a mesa I: Fabiano Carneiro, Coordenador de Dança do Ceacen/Funarte, com a fala “Residências como forma de fomento”; Augusto Albuquerque/ do Instituto Sacatar (BA), com “Uma esquina do mundo em Itaparica”; Nadam Guerra, do Ponto de Cultura Terra Una, com a exposição “Terra Una – Arte, vida e sustentabilidade”; e Marjorie Botelho, coordenadora do Instituto de Imagem e Cidadania e do Ponto de Cultura Rural/ Sobrado Cultural, com palestra sobre as residências e demais ações da organização. A mediadora dos debates foi a servidora Ana Teresa Vasconcelos, do Centro de Programas Integrados da Funarte (Cepin), organizador do evento.

Fabiano Carneiro, coordenador de dança da Funarte, apresentou a Instituição, como responsável, no Governo Federal, pelo desenvolvimento das políticas públicas ligadas às artes. O palestrante destacou a preocupação da Codança/Funarte em investir na formação artística e de plateias, em firmar convênios, detectar demandas relacionadas ao setor e gerar programas que as atendam. Fabiano apresentou o Edital Bolsa Funarte de Residências em Circo, Dança e Teatro/ 2010. Direcionado ao intercâmbio e a especialização dos artistas, o programa ofereceu o apoio para o projetos de residência e aperfeiçoamento, a serem realizados por artistas brasileiros em países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), por seis a oito meses, no Brasil ou no Exterior. O coordenador destacou também o Edital do Fondo Iberoamericano de Ayuda Iberescena, representado em nosso país pela Funarte – programa de fomento, intercâmbio e integração em artes cênicas, aberto a artistas das Américas e Península Ibérica. Fabiano citou, ainda o projeto Outras Danças 2011 e 2012, que incluem residências coordenadas por coreógrafos de vários países latinoamericanos, com bailarinos de diferentes regiões do Brasil. O investimento da Funarte nos dois programas foi de mais de meio milhão de Reais. “As residências são importantes instrumentos de aproximação e interlocução. Elas são ferramentas úteis e necessárias para o diálogo entre os artistas brasileiros, principalmente com a América Latina. Alguns países tem mais contato com a Europa do que com o Brasil”, comentou.

Augusto Albuquerque definiu o Instituto Sacatar, situado na Ilha Itaparica, litoral baiano, como “uma esquina do mundo”. A definição é aplicável: é um lugar onde artistas de várias partes do globo se encontram, com um ambiente ideal e tempo disponível para que possam criar e trocar experiências. O Instituto faz parte de redes mundiais Res Artis – the worldwide network of artist residencies e da Alliance of Artists Communities. Em seu programa internacional de residências artísticas, o Sacatar recebe criadores vindos de diversos países em sua sede, localizada à beira-mar. As instalações contam com cinco suítes e sete estúdios, além de um palco para apresentações. Seus residentes são escolhidos por meio de um processo seletivo próprio. Augusto Albuquerque explicou que o Instituto possibilita que os interessados em residências fiquem inteiramente à vontade para desenvolver suas criações, sem nenhuma pressão por resultados ou prazos – o que faz parte da filosofia do Sacatar. Augusto salientou que há muitas oportunidades de residências no Brasil e que os artistas brasileiros ainda não se deram conta disso – a procura espontânea defende ser necessário pensar as residências artísticas como processos instituídos, com continuidade, não só como oportunidades eventuais para os artistas. “Residentes de várias partes do mundo manifestam seu agradecimento por participar de um ambiente onde a generosidade é o ponto forte”, comentou o palestrante.

Nadam Guerra, do Ponto de Cultura Terra UNA, apresentou o programa de Residência Artística Terra UNA, cuja sede é em meio à natureza da Serra da Mantiqueira (MG). O programa atua nas dimensões cultural, social e ecológica, integradamente, com uma abordagem de transformação social”, resumiu Nadam. Gerar um ambiente propício às descobertas tem sido uma prática da organização, bem como integrar cada artista com a população local, sua cultura e com o ambiente florestal, através da Ecovila, com foco na sustentabilidade. Para este ponto de cultura, estes modos de ver amplificam a experiência e a produção do artista, enquanto abrem perspectivas para o público. Nadam explicou que as ecovilas buscam novos paradigmas para uma vida sustentável. A Terra UNA experimenta a prática de conceitos difundidos desde os anos 1960, como um movimento de arte-vida, ao unir a integração social à ambiental. É um núcleo irradiador de propostas e novos diálogos sociais, feitos a partir da sensibilidade das pessoas. “Recebemos financiamento para o Prêmio Interações Florestais pelo edital Conexão Artes Visuais Funarte/MinC/Petrobrás 2008. Em 2009, fomos premiados no primeiro Prêmio Interações Estéticas para realizar o projeto Ponto Florestal, em parceria com o ponto de cultura Fábrica do Futuro (MG). Em 2010, firmamos convênio com o MinC para a criação do Ponto de Cultura e Sustentabilidade na cidade de Liberdade e fizemos a segunda edição do Prêmio Interações Florestais Brasil, com patrocínio da Funarte/MinC e ainda o Interações Florestais Equador, em parceria com entidades daquele país”, relatou Nadam. Entre outras ações de convivência e cooperação artística, o ponto de cultura realizou o V::E::R encontro de arte viva, terceira edição do Interações Florestais, para artistas sulamericanos e ainda o projeto Arte e sustentabilidade, que buscou pontos de contato entre artistas e membros da ecovila.

Marjorie Botelho apresentou o programa de estágio de vivência em artes visuais e outras atividades do Ponto de Cultura Rural/Sobrado Cultural, localizado em Santo Antônio – vilarejo do pequeno distrito de Barra Alegre, município de Bom Jardim, no norte do Estado do Rio. As ações do Sobrado envolvem educação, cultura e comunicação. O objetivo é a construção coletiva comunitária, com formação de núcleos colaborativos. No âmbito do Instituto de Imagem e Cidadania, onde tem sua sede, o Ponto de Cultura tem biblioteca, galpão de artes, cozinha comunitária, refeitório, alojamento e biblioteca de artes visuais – em fase de montagem. Aberto para pessoas ou grupos que desejem atuar na zona rural, o programa associa várias linguagens artísticas e possibilita que os residentes participem de projetos realizados pela organização, que oferece processos seletivos ao longo de todo o ano. “A visão urbana generalizada faz com que a população rural não valorize sua própria cultura“, disse Marjorie. “a falta de acesso a informação faz com que as pessoas das áreas rurais não percebam que atividades culturais podem ser fonte de renda”, complementou. A gestora explicou que a iniciativa é direcionada para identificação dos moradores, colaboradores, residentes e visitantes com as manifestações culturais e artísticas da região. A ideia principal da organização é promover a vivência no ambiente rural e o conhecimento do modo de vida de seus moradores. O trabalho do Sobrado à produção de uma coletânea de informações sobre ervas e rezas do interior do RJ. Marjorie escreveu o livro “Agricultores do estado do Rio de Janeiro”, com fotos de Cláudio Paolino. A obra reúne histórias, saberes e receitas de famílias da zona rural fluminense. Ela comentou sobre as identidades entre as ações apresentadas na mesa, tendo o meio ambiente e a atuação com as culturas locais como pontos comuns.

A proposta do II Encontro Funarte de Políticas para as Artes é estimular a reflexão e contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas para o setor. Ao mesmo tempo, o evento abre espaço para a troca de experiências nos diversos segmentos artísticos, com a divulgação de trabalhos teóricos e práticos, divididos em três eixos temáticos: criação e experimentação; acesso, difusão e mediação; e memória e preservação. A ação é idealizada e coordenada pelo Cepin/Funarte.

Acesse aqui a programação do II Encontro Funarte de Política para as Artes e mais informações

Contatos das instituições representadas

Instituto Sacatar: www.sacatar.org

Terra Una: www.terrauna.org.br/

Ponto de Cultura Rural/Sobrado Cultural: http://imagemcidadania.blogspot.com.br/