Funarte MG abre as portas para o FAN

Le Pays à l'Envers |Lénablou |Foto: Bernard Gomez

Neste mês, Belo Horizonte se transforma na capital da arte e cultura negra. De 22 a 27 de outubro, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura, promove a 7ª edição do Festival de Arte Negra – FANresgatando a força regional que o caracteriza como um dos maiores festivais dedicados à arte e à cultura negra fora do continente africano. “Depois de acompanhar de perto todas as edições do FAN, sentimos que era o momento de trabalhar de dentro para fora, não perdendo as referências internacionais que fazem parte de sua história, continuando a promover o intercâmbio cultural entre países, mas valorizando os talentos locais e regionais que sempre foram a base do festival”, explica Maurício Tizumba, diretor artístico do 7° FAN.

A escolha do tema Um lugar no mundo: Afroamérica reflete o interesse da curadoria em compreender os lugares do negro no mundo em todas as suas dimensões: social, regional, internacional e geopolítica, apontando as discussões para além da mera localização espacial. “Isso é um reflexo natural das diásporas. O negro saiu da África e tomou diferentes caminhos. Aqueles que chegaram por aqui construíram sua própria história”, explica Rui Moreira, coordenador das artes cênicas nesta edição do FAN. A proposta é compreender a ocupação pelo viés da expansão territorial, diferente do contexto da escravidão, apresentando a cultura africana como constituinte da modernidade, e não como vítima dessa evolução social. “No Brasil, por exemplo, a metalurgia foi amplamente influenciada pelo conhecimento que o negro tinha dessa técnica. O Barroco, ponto alto da civilização brasileira, contou com negros em todos os setores, de arquitetos a pedreiros, passando pelos artistas, entre eles, nosso grande Mestre Aleijadinho”, completa Ricardo Aleixo, coordenador geral e da área de literatura que compõe a programação.

O conceito do ser feminino é outro ponto que recebe grande destaque na programação: na moda, com a realização da 1ª Mostra Brasil Afro-Moda; na música, com o show Cantoras, composto integralmente por 12 mulheres intérpretes e instrumentistas; na gastronomia, com a guardiã da cozinha, a Yabassé, Mametu Mukamba ou Vodunsi Ponsilè, aquela que “muito faz e pouco fala”; nas artes plásticas, com a mostra instalação deumlugarnomundo, que convida 10 artistas a representarem o universo feminino nos mais diversos suportes; nas artes cênicas, com a oficina de oralidade da contadora de histórias Inno Sorsy. Enfim, em todas as áreas que compõem a grade do festival. “Na cultura africana, o papel da mulher é central. O candomblé, com suas mulheres poderosas e guerreiras, representa bem isso, ao contrário da cultura branca ocidental. A necessidade de cotas de gênero nos partidos políticos que nunca são preenchidas por falta de candidatas é um claro exemplo do longo caminho a percorrer e, consequentemente, da necessidade em se falar sobre o assunto”, afirma Ricardo.

A programação do 7° FAN, que é correalizado pela Associação dos Amigos do Centro de Cultura de Belo Horizonte (AMICULT), é um reflexo direto de sua proposta conceitual. As atrações gratuitas incluem artistas representantes de diversas nacionalidades, incluindo brasileiros, africanos, argentinos e mexicanos; dos mais diferenciados segmentos culturais: música, moda, literatura, artes cênicas, artes plásticas e manifestações populares. Locais como o Circuito Praça da Estação, a Funarte MG, o Iphan, o CentoeQuatro, além dos Centros Culturais da Fundação Municipal de Cultura (todos em Belo Horizonte) receberão trabalhos artísticos e discussões temáticas que vão transformar a capital mineira em um dos grandes polos de produção, difusão, contextualização e análise da arte negra na atualidade.

Destaques da programação

A programação do Festival de Arte Negra em 2013 está segmentada em seis grandes áreas artísticas, trabalhadas por diferentes coordenadores, o que garantiu sua extrema qualidade e diversidade.

Mostra Movimentos Urbanos

Realizada entre os dias 17 e 26 de outubro nos Centros Culturais Lagoa do Nado (regional Pampulha), Vila Santa Rita (regional Barreiro), Salgado Filho (regional Oeste) e Alto Vera Cruz (regional Leste), a 7° Mostra Movimentos Urbanos oferece uma programação diversificada, que valoriza a produção artística local e já prepara o público para as atrações do FAN.

Moda

A abertura do FAN será marcada por cores vibrantes, estampas étnicas, muito movimento e personalidade com a 1ª Mostra Brasil Afro-Moda. No dia 22 de outubro, a partir das 19h, na Funarte MG, sete marcas especializadas em moda afro apresentam suas coleções ao som de uma trilha sonora ao vivo, executada pelos violonistas Alisson Salvador e Nat Rodrigues, além do solo à capela de Carlos Negreiro. A iniciativa – que inclui seminários, desfiles e festas – propõe a discussão da vestimenta enquanto cultura, atitude e identidade das mulheres e do provo de pele negra. “Queremos contribuir para a reflexão acerca da política nacional de moda e sua relação com a moda afro-brasileira para fomentar nosso mercado”, explica Makota Kizandembu, coordenadora de moda.

Literatura

Um dos pontos centrais do Ciclo de Debates que será realizado entre os dias 23 e 26 de outubro é a discussão levantada pelo argentino Washington Cucurto. O escritor debate a descoberta e valorização da presença negra na Argentina, que há apenas três anos incluiu afro-americanos e outras etnias na pesquisa oficial do Censo.

Ainda no campo das ideias, a professora Fernanda Felisberto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentará sua pesquisa sobre as mulheres escritoras negras no México, país em que a população afro-americana é pequena e socialmente invisível. A estudiosa busca um ponto de contato entre a realidade mexicana e a brasileira, que possui registros de escritoras negras desde o século XIX, que padecem da mesma invisibilidade.

Artes da cena

Grandes personalidades participam desta edição do FAN. A contadora de histórias de renome internacional Inno Sorsy e a dançarina Lénablou são alguns destaques das atrações previstas. Em sua oficina, Sorsy reinventa a antiga tradição familiar de transmitir costumes e conhecimentos pela oralidade. Já a performance da dançarina e também pesquisadora Lénablou mostrará toda expressividade da artista, por meio do estilo de dança intitulado Techni´Ka, enraizada na herança folclórica tradicional de Guadalupe (Caribe).

Leituras Dramáticas oferece mais um espaço para reflexão acerca da dramaturgia e sua relação com outras áreas do conhecimento, como a psicologia ou a filosofia. Já o Ensaios Abertos e o Palestras-Debate traduzem uma convergência de coletivos e artistas cênicos interessados na capacitação técnica e na realização de intercâmbios artísticos dentro da própria cidade, nacionais e internacionais.

Artes visuais

Lançar um olhar sobre os afro-ameríndios, compreender o conceito do feminino nesse universo e a miscigenação ética-cultural nas três Américas. Essa é a ideia central que guia a exposição deumlugarnomundo”. A mostra reunirá trabalhos de 10 artistas, dentre pinturas, desenhos, instalações, objetos, esculturas, fotografias e videoartes. A intenção é destruir o lugar das diferenças e propor o encontro de culturas e o compartilhamento de ideias entre os povos. “Esses artistas estão muito além do discurso da raça de cada um. O que propõem é um diálogo de como o corpo feminino afro-ameríndio é mostrado, como os seus valores podem ser discutidos a partir da herança da diáspora africana no mundo e em Minas Gerais”, destaca o coordenador de artes visuais do FAN, Antônio Sérgio.

As obras não discutem sexualidade ou gênero, mas promovem a discussão do universo do imaginário feminino, dos reais valores que ele deve ocupar em nossa sociedade, e criam novas propostas que possam contribuir para o entendimento da arte contemporânea e de seus reais valores socioculturais.

Música

Quatro shows inéditos, criados especialmente para o FAN, serão destaque na programação musical: Bala da Palavra, um Hip Hop com tambores que prima pela sonoridade das misturas; Roda de Sopros, destacando a importância que os metais têm nas músicas negras, como a black musicMãe de Todos os Santos, dirigido pela DJ Black Josie mostra a força de um espetáculo cem por cento feminino, que valoriza a mulher enquanto ser artístico e promove o encontro de diferentes técnicas e estilos; Jogo de Mestres, os grandes artistas do jazz mineiro Neném e Ezequiel Lima, convidam Fabiana Cozza e Vander Lee para uma jam session.

“Estamos valorizando, sobretudo, as experiências coletivas que vão se traduzir em apresentações exclusivas para o festival, mas com potencial de promover encontros duradouros, se for do desejo do grupo”, comenta Sérgio Pererê, coordenador de música.

A presença de músicas de Marku Ribas nas quatro apresentações presta a ele uma delicada homenagem, reforçando sua versatilidade enquanto compositor e a importância desse talento mineiro, que merece sempre ser relembrada e valorizada.

Cinema

A sétima arte não poderia ficar de fora. Uma seleção especialmente feita para o FAN vai ocupar a sala de cinema doCentoeQuatroPaz no Mundo Camará (2012), de Carem Abreu e Jorge Moreno, sobre a capoeira angola; Lumumba(2000), de Raoul Peck, ao mesmo tempo ficção e documentário histórico, compõe um belo retrato de Patrice Lumumba, um dos heróis da independência do Congo e o novo Raça (2013) de Joel Zito e Megan Mylan, documentário que discute temas que se complementam, como a invisibilidade do negro e a “batalha” de dez anos até a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso Nacional, são alguns dos filmes previstos na programação.

Negócios

Ojá Mercado de Cultura tem de tudo um pouco: roupas, livros, biojoias, sapatos, artesanato, comidas e muitos outros itens poderão ser conhecidos, experimentados e adquiridos nesse grande mercado popular. “O público poderá ver de perto a obra de artistas de renome internacional, como o ceramista Vander Marcílio ou as máscaras africanas, trazidas pelo nigeriano Olusegun Akìnrulì, além de degustar delícias típicas, como a tapioca, o acarajé e até mesmo drinques especiais. A livraria e editora Mazza, especializada na divulgação de escritores negros, apresentará seus títulos clássicos e mais recentes lançamentos”, cita Carlandreia Ribeiro, coordenadora do Ojá.

O Festival

O Festival de Arte Negra é dedicado à valorização e à difusão da arte negra. Suas referências articulam desde as raízes ancestrais da cultura negra às expressões de sua contemporaneidade. Com periodicidade bienal, o festival compreende uma ampla programação cultural, marcada pela diversidade de linguagens artísticas e pela participação de artistas, grupos e pesquisadores da arte e da cultura negra. Desde 1995 atua como um importante instrumento para valorização das manifestações populares, para impulsionar a formação de um mercado local e fomentar a inserção de artistas da cidade nos circuitos culturais. Suas atividades também provocam diversificadas reflexões, e promovem a democratização do acesso ao bem cultural pelos diversos setores da cidade.

7° FAN – FESTIVAL DE ARTE NEGRA

PROGRAMAÇÃO FUNARTE MG

Oficinas de Capacitação Artísticas e Técnicas de Arte*

Conduzidas pelos dançarinos Lénablou (Point a Pitre / Guadalupe-Caribe) e Luis Ferron (SP), as oficinas têm como objetivo expor e analisar as semelhanças e diversidades do intercâmbio cultural entre países afro-americanos. Durante o processo de imersão, esses mestres na arte de dançar vão se revezar na explanação de suas experiências, promovendo 30horas/aula para os participantes.

Mestres da dança afro-brasileira foram convidados para ministrar módulos de aulas que integrarão a oficina.  Evandro Passos (Belo Horizonte), Júnia Bertolino (Belo Horizonte) e Carlos Afro (Belo Horizonte), através da observação dos movimentos de homens e mulheres negros irão discutir didática, pedagogia de ensino e difusão das danças afro na América.

Dias 20 a 25 e outubro
Horários: 10h às 13h e 14h às 17h
Local: Funarte MG
Capacidade: 10 alunos
Público alvo:
Artistas da cena, bailarinos e ou dançarinos (dança afro brasileira, dança contemporânea, danças folclóricas e outras), atores e músicos que atuam em musicais.

Informações para inscrições: marah.costa@pbh.gov.br
Obs: As inscrições são gratuitas.

*Essa ação faz parte das Oficinas de Capacitação Artística e Técnica em Dança da Funarte 2013.

Laboratório Inno Sorsy e contadores de história

Inno Sorsy é professora, intérprete e contadora de histórias de renome internacional nascida na fronteira entre Gana e Togo. A proposta do laboratório é uma montagem e apresentação de uma performance para crianças em parceria com convidados mineiros.

Inno segue  e reinventa uma longa tradição familiar  de contar histórias. Nos últimos anos foi convidada para representar a tradição oral que liga o passado e o futuro, participando do Primeiro Festival Internacional de Contadores de Histórias (Storytelling) no Brasil. Também participou da expedição “Ara Watasara”, um projeto da Universidade do Amazonas, recolhendo memórias de vida e a tradição oral dos habitantes ao longo das margens do rio Solimões. Ela tem trabalhado extensivamente na Europa para centros de atendimento a jovens infratores em Berlim, Madri e Viena. Colaborou com a tradução para o Inglês de “Contos de Nasrudin” (contos da tradição Sufi) e escreveu “Two Brothers” para a publicação “Contos de África”, organizada por Mary Medlicott-Kingfisher. No Brasil ela já publicou “O Homem Sem Sorte” e tem co-autoria com Gislayne Avelar Matos no livro “O Ofício do Contador de Histórias”.

Dias: 20 a 24 de outubro
Horário: 09h às 13h / 18h às 21h
Local: Funarte MG

Um Rio de Janeiro a Janeiro: Cia Rubens Barbot

Um Rio de Janeiro a Janeiro é um espetáculo de dança contemporânea com músicas de Cartola, Paulinho da Viola, Luis Melodia, Agrião, Jorge Aragão e Carlinhos Dafé, que se propõe a mostrar um olhar sobre a gestualidade do carioca, seu humor, seu deboche, sua sensualidade, seu ritmo e suas histórias corporais.

Primeira companhia negra de dança contemporânea, a Rubens Barbot foi fundada em 1990 no Rio de Janeiro e mantém até hoje, mais de vinte anos depois, um trabalho singular, com a missão artística e política de criar um centro de referência voltado para a pesquisa do gesto, movimento e imagens extraídos de corpos afro brasileiros, com suas histórias corporais e suas raízes africanas, compondo com esse material uma linguajem genuinamente afro brasileira.

Dias: 23 e 24 de outubro
Horário: 20h
Local: Funarte MG

Workshop de turbanteiras

O Workshop abordará temas relacionados às histórias e aos mitos dos países africanos, promovendo diálogos reflexivos a respeito de arquétipos, estereótipos e construção de identidade, além de revisitar a memória cultural afro-brasileira. O público poderá participar da elaboração de turbantes, faixas e lenços.

Dia: 26 de outubro
Horário: 14h às 18h
Local: tenda do OJÁ Mercado de Cultura – Funarte MG
Convidadas:
– Enia Dara -BH /Marca: Enia Dara
– Rosangela Nascimento-SSA/Marca: Drika Arte em Acessórios
– Celia Sampaio-SL
– Ialê Garcia- BSB/Marca: Acessórios Yalodê
Capacidade: 15 (inscrição no local até 1 hora antes)
Trazer o tecido para o Turbante
Público alvo: A partir de 15 anos.

Carolina: O Luxo do Lixo

“Carolina, o luxo do lixo” é um espetáculo baseado no livro “O Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus. Com adaptação e interpretação do ator Wilson Rabelo e direção de Denise Zenicola, o monólogo traz a história de uma catadora de lixo narrada por um Griot, contador de histórias africano.

Dias: 24 e 25 de outubro
Horário: 20h
Local: Funarte MG

Ojá Mercado de Cultura

O Ojá Mercado de Cultura tem de tudo um pouco: roupas, livros, biojoias, sapatos, artesanato, comidas e muitos outros itens poderão ser conhecidos, experimentados e adquiridos nesse grande mercado popular. “O público poderá ver de perto a obra de artistas de renome internacional, como o ceramista Vander Marcílio ou as máscaras africanas, trazidas pelo nigeriano Olusegun Akìnrulì, além de degustar delícias típicas, como a tapioca, o acarajé e até mesmo drinques especiais. A livraria e editora Mazza, especializada na divulgação de escritores negros, apresentará seus títulos clássicos e mais recentes lançamentos”, cita Carlandreia Ribeiro, coordenadora do Ojá.

Dia: 22 a 26 de outubro
Horário: 11h às 23h
Dia: 27 de outubro
Horário: 11h às 18
Local: Funarte MG

Funarte MG
Rua Januária, 68 – Floresta – BH/MG

Informações: Partnersnet Comunicação – (31) 3029. 6855 | 6869

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *