Após o show que apresentou na Sala Funarte Sidney Miller, no dia 28 de março de 2014, no Música no Capanema, músicos da banda Cidade Negra falam com exclusividade para o Portal da Fundação Nacional de Artes – realizadora do projeto.
O álbum Hei Afro! marca o reencontro do grupo com Toni Garrido. O vocalista comenta que o disco é importante, porque as bases e as idéias originais do Cidade Negra estão bem presentes nele. “A gente mistura nosso projeto de vida com o projeto artístico. Esse trabalho está muito mais ligado ao projeto de vida e a base do grupo”, define o cantor.
O baterista Lazão diz que o Hei Afro! Chama a atenção para a comunidade e para o cidadão. Ele diz que o objetivo é que as pessoas melhorem sua vida, de forma consciente e com uma visão política de futuro. “Afinal, o que é uma favela? Abandono da época da escravidão, somada ao descaso político de mais de um século, com corrupção, passando pela ditadura militar e pela conivência com políticos e partidos e meios de comunicação. Quero ver felicidade lá em nossas comunidades, como foi feito em Nova York [EUA], no Brooklyn e no Harlem, guetos até então abandonados. Lá fizeram prédios e reconstruíram ruas, com teatro, cinema, área de lazer, escolas profissionalizantes. Não funciona encher a comunidade de polícia e exercer o controle na base da força, sem levar o básico da vida para as pessoas. É sobre isso que o Hei Afro! chama a atenção: temos uma Etiópia no Nordeste e sowetos no Brasil todo. Somos, na verdade, uma grande favela com algumas cidades no meio. Mas isso vai mudar.
O Cidade Negra foi lançado comercialmente em 1986. Mas Lazão ressalta que o grupo retrata, em sua obra, o contexto vivido em Belfort Roxo, cidade da Baixada Fluminense, dos anos 1970, onde ele próprio nasceu. “A ditadura calava a boca dos compositores e de todos que se manifestavam contra ela. O município era a lixeira, o esgoto da polícia da época. A Unesco chegou a considerar Belfort Roxo, em sua pesquisa, em 1974, mais violenta do que o Líbano, naquele tempo”. O músico explica que a banda foi criada com esse estigma e com um ideal de mudança da comunidade. Lazão e Bino Farias são da cidade, e Toni Garrido da Vila Kennedy, na Zona Oeste. “Mas é um gueto só. Todo o subúrbio se parece. E a gente nasceu dessa necessidade de se expressar de uma forma mais forte e política”. Lazão lembra que o Reaggae, em sua origem, na Jamaica, tinha essas mesmas características – porque fez parte da luta pela independência do país, então colônia inglesa – .
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