Magiluth traz Nelson Rodrigues à Funarte São Paulo

'Viúva, porém honesta' em versão do Grupo Magiluth, na Sala Renée Gumiel. Foto: Victor Jucá/ Divulgação

Um teatro independente, de pesquisa e experimentação permanentes, focado na qualidade estética. A vontade de tornar concreta esta proposta reuniu, em 2004, alguns então colegas do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). De lá para cá, eles respondem pelo nome de Magiluth e, com um repertório cada vez maior, não param de atrair prêmios e participações em festivais de artes cênicas nacionais.

Em turnê pela capital paulista este mês, o Magiluth estará na Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo, entre 23 e 27 de abril (quarta a domingo), para apresentar seu sexto trabalho: a peça Viúva, porém honesta, de Nelson Rodrigues. A montagem recebeu o incentivo financeiro do Edital Funarte Nelson Brasil Rodrigues: 100 Anos do Anjo Pornográfico, e estreou em agosto de 2012 no Teatro Dulcina (RJ) para celebrar este dramaturgo, pernambucano de Recife como o grupo. Ainda em agosto de 2012, o espetáculo foi escalado para abrir o 10º Festival Recifense de Literatura, a Letra e a Voz – e esgotou, em meia hora de bilheteria, os 400 ingressos do Teatro de Santa Isabel.

Viúva, porém honesta foi encenada pela primeira vez em 13 de setembro de 1957. A história – que o próprio autor chama de “farsa irresponsável” – gira em torno do Dr. J.B. de Albuquerque Guimarães, diretor d’ A Marreta, um dos mais influentes jornais do país. O empresário quer convencer sua filha única de 15 anos, Ivonete, a deixar de velar o marido, atropelado por uma carrocinha de picolé, e se casar novamente. Para isso, ele contrata uma ex-prostituta, um psicanalista e um otorrinolaringologista – todos charlatões. Para complicar a situação, o marido morto de Ivonete é um ex-fugitivo da Febem, um homossexual chamado Dorothy Dalton. Dorothy caiu nas graças da menina quando J.B., ao saber que seria avô, a mandou escolher um noivo na redação do jornal. Mais tarde, descobre-se que a gravidez de Ivonete era uma invenção do médico da família, Dr. Lambreta, velho esclerosado e maluco. Como nenhum dos contratados achou solução para o caso, o jeito foi ressuscitar o morto para acabar com a viuvez da moça. Este trabalho fica por conta do Diabo da Fonseca, que através de um passe de mágica reaviva o defunto, livra a menina e, como prêmio, a desposa.

A montagem, iniciada em São Paulo pelo diretor Pedro Vilela, recebe contribuições da diretora de arte Simone Mina e da preparadora vocal Mônica Montenegro, esta última responsável, durante anos, pelo trabalho vocal do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), coordenado por Antunes Filho. O grupo investe no despojamento de cena, onde “a precariedade dos elementos impulsiona os atores ao jogo teatral”. Todos os personagens são interpretados por seis atores, em revezamento, numa investigação cênica que propõe comprovar a atualidade de Nelson Rodrigues, “seja na abordagem dos temas expostos, seja nos recursos dramatúrgicos utilizados”.

Sobre o Magiluth: O grupo surgiu em 2004, no curso de Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sua primeira atividade foi o experimento artístico Ato sem palavras, de Samuel Beckett, remontado em 2008 como Ato. Em 2007, estreou Corra, premiado pelo Riocenacontemporanea 2007 e pelo Festival Internacional de Teatro de Blumenau. Ato é considerado um dos principais trabalhos do Magiluth, pela quantidade de festivais nacionais que o receberam. Esta montagem proporcionou ao grupo, em 2009, o prêmio de Melhor Espetáculo do estado (troféu Apacepe – Associação de Produtores das Artes Cênicas de Pernambuco). Em 2010, o Magiluth cria o espetáculo solo Um torto, em que teatro e performance dialogam. No ano seguinte, o grupo traz à cena O canto de Gregório, do paulista Paulo Santoro, e realiza o projeto Do concreto ao mangue – Aquilo que meu olhar guardou para você, em parceria como Teatro do Concreto (DF), através do Edital Rumos Itaú Cultural – Teatro. Esta pesquisa gerou o espetáculo Aquilo que meu olhar guardou para você, encenado pela primeira vez em 2012 como parte do XVII Janeiro de Grandes Espetáculos (PE). Ainda em 2012, estreou no Teatro Dulcina (RJ) Viúva, porém honesta e realizou o projeto Luiz “Lua” Gonzaga, espetáculo de rua aprovado pelo Edital Funarte Centenário de Luiz Gonzaga, além da intervenção urbana Desterritorializando corpos, mapeando sensações, através do Edital Funarte Artes Cênicas na Rua. Em outubro do mesmo ano, realizou a primeira edição do Trema! Festival de teatro de grupo do Recife, de forma totalmente independente. O grupo Magiluth é fundador do Grite (Grupos Reunidos de Investigação Teatral), que discute políticas públicas para o teatro de grupo no estado.

Espetáculo: Viúva, porém honesta
De 23 a 27 de abril | De quarta a sábado, 20h; domingo, 19h

Texto: Nelson Rodrigues | Direção: Pedro Vilela | Atores: Giordano Castro, Lucas Torres, Erivaldo Oliveira, Mario Sergio Cabral e Pedro Wagner | Iluminação e sonoplastia: Pedro Vilela | Direção de arte: Simone Mina | Assistência em direção de arte: Karina
Sato
| Designer gráfico: Guilherme Luigi | Produção executiva: Mariana Rusu | Realização: Grupo Magiluth
Duração: 75min | Recomendação etária: 18 anos
Entrada franca*

Sala Renée Gumiel do Complexo Cultural Funarte São Paulo. Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP. Tel. (11) 3662-5177

* Obs: matéria foi atualizada em 22 de abril de 2014, às 14h49, para corrigir uma informação errada: os ingressos são gratuitos e não vendidos a R$20, como constava anteriormente

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