Debate sobre instalações em ambientes aquáticos naturais integra projeto ‘Colônias Submersas’

Uma das "Fisálias" de Paulo Paes

No dia 24 de abril, das 19 as 21hs, será realizado no Salão Nobre da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico – Rio de Janeiro – um bate-papo com o artista plástico Paulo Paes, sobre sua série de obras subaquáticas Fisálias, continentes flutuantes. Ela é desenvolvida e pesquisada através do projeto Colônias Submersas, contemplado no edital Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais /2012. Com entrada gratuita, a conversa terá a participação do crítico de arte Luiz Camillo Osorio. Paralelamente, será realizado o lançamento do site http://continentesflutuantes.com.br, com registros que documentam o trabalho, feitos pelo artista. O evento terá a presença do ilustrador e webdesigner Marcus Wagner.

As “Fisálias” são estruturas instaladas nas águas do mar e em e manguezais, feitas de garrafas pet, plástico, e de outros materiais. Organismos atraídos natural e aleatoriamente pelos artefatos, compõem suas formas. Elas filtram a água e servem de abrigo para pequenos animais – como ocorre, por exemplo, nos recifes de coral -. Supervisionado por biólogos, o projeto tem uma significação ecológica, além da dimensão artística – ele se insere no que se costuma chamar de “campo ampliado” da arte contemporânea. A iniciativa somou parcerias: com pescadores do Rio; em Pernambuco, com o Museu da Ciência de Olinda e com jovens da comunidade dos manguezais, em Recife, com incentivo da Secretaria Municipal de Cultura; e com o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em Cabo Frio (RJ).

O trabalho consiste na construção e numa séries de intervenções nas Fisálias, da parte do artista e de seus colaboradores. Paulo Paes comenta que os processos biológicos naturais aleatórios dos organismos marinhos termina por integrar a obra ao meio. “Isso promove uma intensa colonização nas estruturas, o que as torna esculturas vivas. Elas se transformam de acordo com os ciclos naturais”, define. Segundo o artista, a obra “cria um ponto de atração e fixação de vida”. O acompanhamento das mudanças do ambiente e o desenvolvimento contínuo de soluções, exigido pela vida marinha e pelo próprio meio, com suas instabilidades naturais, criaram rotinas intervenções e registros. Estas, por sua vez, geraram imagens e informações, na forma de textos, fotos, vídeos e desenhos, além de novos objetos, feitos em escala reduzida.

A construção das rotinas teve como foco própria natureza como fonte de poesia e criação. O autor diz que a obra explora o ponto de ligação entre os processos naturais e as estruturas artificiais, “como espaço criativo”, transformando o próprio ecossistema em protagonista de uma ação cultural. “Ela abre uma discussão acerca das formas de nos relacionarmos com o meio ambiente e a história, numa perspectiva ética, que reconhece a dimensão temporal das ações humanas e a mobilidade de suas soluções adaptativas”, propõe Paulo.

Histórico e parcerias

A pesquisa com as Fisálias vêm sendo desenvolvidas desde 2005, a partir das parcerias. Os primeiros experimentos foram feitos com a colaboração de pescadores artesanais, na praia Vermelha, na capital fluminense, quando foram instaladas as fisálias Ilma e Alice. A parceria permitiu o desenvolvimento das primeiras soluções estruturais para as intervenções, criadas a partir dos saberes tradicionais dos caiçaras, de seus barcos e apetrechos.

Em Pernambuco, foram firmadas novas parcerias, com a Ação Comunitária Caranguejo Uçá, na comunidade da ilha de Deus, no Parque dos Manguezais (Centro de Recife) e com o Museu da Ciência, de Olinda. Com apoio dos jovens da Ilha, foi desenvolvido um trabalho de reconhecimento e revalorização do Parque e a instalação de 14 fisálias, com design adaptado àquele ambiente. “Os próprios componentes do Caranguejo Uçá fizeram o acompanhamento e o registro fotográfico do processo de colonização das esculturas pelos organismos marinhos”, relata Paulo Paes. Esses agentes comunitários fizeram um treinamento de capacitação, em oficinas de fotografia oferecidas pelo projeto, com Incentivo da Secretaria Municipal de Cultura de Recife.

O projeto também estabeleceu parceria com o Museu da Ciência. Ela permitiu a instalação de três fisálias, monitoradas permanentemente por um biólogo.

Por fim, foi estabelecida a parceria com o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, que permitiu a instalação da maior e mais complexa das estruturas, no campo de provas da Ilha de Cabo Frio, Em Arraial do Cabo (RJ), num ambiente altamente preservado, onde o processo de “colonização” natural da fisália Djanir foi acompanhado por biólogos do instituto.

O debate – o “natural-artificial” – e o site

Como demarcar a fronteira entre o natural e o artificial? Que “potências desconhecidas (naturais)” cada ação humana mobiliza? Como elas repercutem no meio-ambiente, ao longo do tempo? O artificial pode se tornar natural pela ação do tempo? Essas são questões levantadas durante a pesquisa de Paulo Paes, a serem discutidas no debate.

“O principal produto de uma rotina será sempre ela própria. Mas seu exercício gera uma cultura material e outra imaterial”, argumenta o artista. Ele acrescenta que a cultura material criada seria toda ferramenta e equipamento criado para atender às demandas da ação. “No meu caso vai da embarcação ao vestuário passando pelas próprias Fisálias”. Já a cultura imaterial estaria no discurso que as rotinas geram. “Ele é produzido por elas e com elas. Não houve discurso prévio, mas o que foi construído durante as ações, através de seu registro, em multimeios”.

Essas informações foram reunidas estão sendo publicadas no site, que será lançado no Parque Lage, http://continentesflutuantes.com.br, criado e desenvolvido por Marcus Wagner. São fotos, vídeos, relatórios, diagramas, desenhos, manuais, mapas e links – ou seja, um banco de dados, com gerenciador de conteúdo e mecanismo de busca. Marcus explica que o site é organizado em torno de duas linhas: a “estática” (no menu de histórico), reúne as etapas/experiências anteriores do projeto, já encerradas; a outra, a “dinâmica” – a principal – será alimentada por experiências atuais.

Com os recursos da Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais, Paulo Paes desenvolveu mais três frentes de trabalho, além do site na internet: um roteiro de locais com artefatos subaquáticos, na região costeira do litoral do Estado do Rio de Janeiro; um programa de acesso, monitoramento e manutenção dos sítios, que será cumprido pelo artista e registrado em relatórios, que serão publicados no site; um programa de registro em multimeios de todas as operações envolvidas na pesquisa, bem como do processo de colonização dos artefatos pelos organismos marinhos, também para veiculação no site.

Colônias Submersas

Fisálias, continentes flutuantes

Projeto contemplado com a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais /2012

Bate papo e lançamento do site http://continentesflutuantes.com.br

Presenças: Paulo Paes – artista plástico e autor do projeto; Luiz Camillo Osório – crítico de arte; e Marcus Wagner – ilustrador, webdesigner e artista. Leia mais sobre esses participantes aqui. [minicurrículos]

24 de abril de 2014 de 19 ás 21hs

Escola de Artes Visuais do Parque Lage – Salão Nobre
Rua Jardim Botânico, 414 – Jardim Botânico, Rio de Janeiro (RJ)

Informações: http://continentesflutuantes.com.br

Vídeos de referência: https://www.youtube.com/watch?v=ES3svj8Xw2U

Entrada franca

Classificação Etária: livre

Mais informações no tel. (21) 3042 6829

Acesse matéria jornalística sobre o assunto em:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=39857