Na sexta-feira (15/8), foi aberto o Encontro Rede Funarte Ibero-Americana de Dança, realizado pela Fundação Nacional de Artes e pelo Iberescena, no Teatro Sesi, no Centro do Rio. O evento, que reúne representantes da Espanha, Chile, Uruguai, Bolívia, Peru, Paraguai, México, Costa Rica, Argentina, Venezuela e Brasil, tem duração de dois dias e visa discutir novas ideias e experiências, além do intercâmbio cultural entre agentes e difusores da arte. Participaram da cerimônia de abertura o presidente da Fundação Nacional de Artes, Guti Fraga; o diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte, Antonio Gilberto, e o coordenador de Dança da Funarte, Fabiano Carneiro. O Encontro tem apoio do Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Cultura e do Sistema Firjan/Sesi.
O presidente da Funarte destacou a importância desse projeto. “Acredito na arte e que o papel das instituições seja promover a troca de experiências, criar múltiplas atividades artísticas e romper fronteiras”, afirmou Guti Fraga. Ele ainda agradeceu em nome da ministra da Cultura, Marta Suplicy, à Firjan e a presença do diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura, Antônio Alves.
De acordo com o coordenador de Dança da Funarte, a ideia do projeto surgiu em 2010, quando ele esteve no Chile e pôde constatar que esse país tem mais conexões com a França e a Alemanha do que com o Brasil, assim como outros países latino-americanos. “Pretendemos, a partir desse encontro, que é inédito, traçar estratégias de aproximação com esses países”, afirmou Fabiano Carneiro.
Representando a Funarte, também estiveram presentes o diretor executivo, Reinaldo Veríssimo; os coordenadores de Circo, Marcos Teixeira, de Teatro, Heloísa Vinadé, e de Comunicação Social, Camilla Pereira.
Na manhã desta sexta-feira, a primeira mesa de debates contou com profissionais atuantes nas mais diversas áreas da cadeia produtiva da dança. Participaram Íris Macedo (Recife/PE), Fernando Garcia (Bolívia), Alejandra Diaz Lanz (Paraguai) e Cuauhtemoc Najera (México). Cada um deles relatou suas experiências, projetos e ações, traçou a situação atual da arte onde vivem e trabalham, destacando as dificuldades encontradas na busca por incentivos. Fernando Garcia, por exemplo, contou que o Ministério da Cultura e Turismo da Bolívia só foi criado há cinco anos. O boliviano ainda citou importantes projetos, como o “Formarte”, voltado para jovens acima de 24 anos.
Alejandra Diaz iniciou sua fala agradecendo à Funarte e ao Iberescena pela oportunidade, revelando que são muitos anos de luta pela cultura em seu país, porque o “Paraguai tem larga tradição de ditadura”. Segundo ela, o “Crear em Liberdad”, encontro internacional de coreógrafos independentes, realizado anualmente e que reúne 25 mil estudantes de diferentes áreas artísticas e 400 profissionais, possui conexões com a África e o Brasil pela internet. Alejandra também contou que o “novo presidente do Paraguai está mais interessado em cultura”.
A segunda mesa de debates reuniu artistas independentes, companhias, grupos e coletivos que apresentaram as soluções, estratégias e caminhos encontrados para a manutenção dos seus trabalhos, refletindo sobre os meios de sustentabilidade que cada diferente contexto local possibilita. Participaram Adrian Figueroa Rosales (Costa Rica), Andrea Servera (Argentina), Rui Moreira (Belo Horizonte/MG) e João Fernandes (Manaus/AM). Eles também relataram as dificuldades enfrentadas no dia a dia na criação e produção da dança. Após falar sobre das companhias de dança, dos festivais e principais projetos de seu país, Adrian sugeriu a criação de uma aliança interministerial que possa dar aos artistas a possibilidade de ter um trabalho efetivo. E revelou que, na Costa Rica, muitas empresas privadas apostam no setor independente.
Rui Moreira falou sobre cotas e reserva de mercado para a dança com influências africanas. Já João Fernandes, da Cia das Ideias, citou os diversos projetos de sua companhia: o “Casarão de Ideias”, que promove a cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; o “Mova-se”, que está na quinta edição de solos, duos e trios; o “Lugares que o dia não me deixa ver”, ação de valorização do patrimônio histórico e artístico a partir da iluminação à noite de prédios “que estão à espera de restauro”; e a “Revista Ideias Editadas”, publicação cultural trimestral. Já a argentina Andrea Servera, diretora de uma companhia de dança, relatou os problemas de incentivo frente à crise econômica de seu país.
Durante a tarde, houve mais duas mesas, cujos temas foram: Nossos Caminhos e Nosso fomento. Elas foram mediadas pelo diretor de dança, produtor e cenógrafo Fabio Brazil, que dirige o Instituto Caleidos (SP). Da Mesa 2, participaram: o diretor da Companhia Nacional de Dança da Costa Rica, Adrian Figueroa Rosales (membro da Associação Nacional de Trabalhadores de Dança); a diretora do Festival de Dança de Buenos Aires, Andrea Servera; o bailarino, coreógrafo e pesquisador de culturas Rui Moreira, diretor da ONG que integra a Rede Terreiro Contemporâneo de Dança; e João Fernandes Neto, Diretor do Grupo Cia. De ideias, da Associação Cultural Casarão de ideias, do Mova-se Festival de Dança. A análise crítica coube a Eduardo Severino. Integraram a mesa 3: a fundadora da Rede Nordeste de Dança (Renda) Diana Fontes, também produtora; a diretora do Panorama Festival, Catarina Saraiva; a fundadora da Rede Sul-americana de Dança, Natacha Melo; o Diretor do Festival de Dança do Recife (PE), Arnaldo Siqueira. O analista foi o diretor artístico do Festival Dança em Foco e do PODFest – Festival Internacional de Poéticas, Leonel Brum.
O evento conta, ao todo, com seis mesas de debates e uma roda de negociações. Entre os assuntos abordados pelas mesas de discussão, no segundo dia do evento, estão a apresentação de alternativas de financiamento público e privado para intercâmbio, bem como a difusão e circulação da dança entre os países ibero-americanos. Ainda serão analisados perfis de público e espaços de circulação da dança; e o papel destes espaços e da formação de público para a estrutura da dança. Profissionais convidados farão a análise crítica dos temas apresentados durante o Encontro, que irá produzir um documento visando novas parcerias entre artistas, gestores e produtores nos países ibero-americanos.
Sobre o projeto
Desde 2010, o Brasil se tornou membro do Iberescena – Fundo Ibero-Americano de Ajuda Iberescena, criado em 2006 a partir das diretrizes adotadas pela Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, em Montevidéu, Uruguai, relativas à execução de um programa de fomento, intercâmbio e integração da atividade de artes cênicas ibero-americana. Em 2011, a Coordenação de Dança da Funarte intensificou essa aproximação com os países vizinhos, realizando o “Outras Danças: Brasil, Chile, Colômbia”.
Sediado em Fortaleza, em parceria com a Secretaria de Cultura do Ceará, o evento da Funarte ofereceu atividades artísticas, acadêmicas e pedagógicas para estreitar os laços entre esses países. O “Outras Danças: Brasil, Argentina, Uruguai” também propôs uma residência artística no Rio Grande do Sul, em 2012, com dois coreógrafos sul-americanos (Argentina e Uruguai), apresentando uma mostra de solos e duos e um ciclo de debates, em parceria com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Agora, o Encontro Rede Funarte Ibero-Americana de Dança propõe efetivar um novo intercâmbio cultural, aproximar-se dos países ibero-americanos, estreitar possibilidades, incentivar diálogos com gestores da dança ibero-americanos e promover novas oportunidades para o Brasil.
“O projeto visa a criação de uma rede de articulação internacional, que discuta ações voltadas para o desenvolvimento da dança Ibero-Americana, além da discussão de propostas de políticas públicas internacionais para o segmento”, comenta Fabiano Carneiro, gestor público há 23 anos, sendo 16 anos na Secretaria de Cultura de Porto Alegre e, desde 2007, coordenador de Dança da Funarte.
Mais informações
https://www.facebook.com/encontroredefunarteiberoamericanadedanca