Artistas e críticos prestigiam mostra de Fernanda Junqueira na Funarte RJ

Fernanda Junqueira comenta uma das piscinas, durante a abertura

A Fundação Nacional de Artes abriu a mostra de Fernanda Junqueira, Jardins Submersos: um espaço líquido, no Mezanino do Palácio Gustavo Capanema – Centro do Rio de Janeiro (edifício-sede da Funarte), no dia 31 de julho. Um dos quatro projetos selecionados para ocupar o espaço, no edital do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2013 – Projéteis Funarte de Artes Visuais Rio de Janeiro, o trabalho é confeccionado com 231 pequenas piscinas, formando uma grande instalação, que reproduz a planta do jardim-terraço projetado por Burle Marx, que fica sobre a marquise do Palácio. A exposição fica aberta até o dia 29 de agosto, com visitação gratuita.

“É um jardim submerso, baseado nos canteiros do paisagista, diz Fernanda Junqueira. O projeto recria as formas curvilíneas do jardim, através do conjunto de reservatórios d’água – cada um medindo 1,6cm x 1,6cm; e 6cm de altura – feitos com chapas de plástico reciclável, chamadas PetG. A proposta é que o espectador passeie por um “jardim de águas”. Uma das obras contém o que parece ser o reflexo de uma paisagem, mas é também uma projeção, o que torna a instalação igual a um lago, a refletir um ambiente natural. É a imagem de uma pequena lagoa real, que fica no Sítio Burle Marx. A obra já havia sido criada quando a artista foi ao local e os espelhos d’água chamaram sua atenção. É mais uma homenagem ao arquiteto, além de referência aos lagos de Giverny (Normandia – França), que inspiraram o pintor Monet.

Na água das piscinas, há tinta de aquarela, em vários tons de azul, em cada segmento da obra. Eles criam uma superfície fina, quase uma lâmina líquida, ora transparente, ora espelhada. “Ao transpor as formas dos canteiros do terraço para o salão, a instalação reproduz o jardim forma líquida”, diz Fernanda.

“Aquarelas vivas”

O elemento água também está relacionado à aquarela, azul e verde, em diferentes graus de diluição, o que gera, a variação das tonalidades. “O trabalho é uma consequência do uso desse material”, comenta Fernanda. “A água tem a qualidade de refletir as coisas; a transparência; a maleabilidade; a plasticidade natural. Nela pode ser utilizada a aquarela em vários tons; e em estado líquido – por isso, ainda está ‘viva’”, explica Fernanda. As cores das peças sempre mudam, porque a artista vai acrescentando tinta às águas e troca, eventualmente, esse conteúdo.

As aquarelas “ganham vida” também na captura das imagens da natureza, apresentadas em várias das células da estrutura. Uma delas tem a projeção de dois peixinhos, que parecem reais. Segundo a autora, eles aludem à natureza, mas também à própria arte, lembrando os peixes dos aquários do pintor Matisse. Um dos segmentos reproduz a chuva caindo n’água, como se ela tivesse mesmo sido apreendida. É uma simulação exata da imagem e do som naturais. “Na verdade, a projeção é feita com a filmagem de gotas caindo numa piscina”, revela Fernanda.

Eles passearam pelos ‘jardins submersos”

Vários artistas e curadores prestigiaram a inauguração, além de Xico Chaves, diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, e Camilla Pereira, coordenadora de Comunicação, entre outros. Críticos importantes também estiveram presentes, como Paulo Sérgio Duarte, professor, pesquisador e coordenador de estudos culturais da Universidade Candido Mendes, membro da Comissão de Projetos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage – Rio de Janeiro – um dos mais conceituados especialistas do país. “Evito falar sobre um trabalho no primeiro encontro com ele, ter um discurso sobre ele, o que significaria não ter sido surpreendido. Mas posso dizer que não se parece com nada que eu tenha visto antes, o que já é, para mim, importante. Ou seja: é um trabalho sobre o qual é preciso pensar para comentar”, disse. O estudioso acrescentou que a obra traz referenciais históricos sob forma contemporânea, por reproduzir o projeto da obra de Burle Marx. “Elas ficam exatamente acima do salão. Sendo absolutamente contemporâneo, o trabalho traz a memória e a história”. Paulo Sérgio lembra que o encontro da ideia da água (não somente como substância, mas também como base cromática para diversos tons), com as projeções é muito interessante e provocativo.

A mostra é uma obra “in situ” (instalação dedicada ao próprio local, que integra a expressão da artista aos elementos específicos do espaço – reconhecido como marco da arquitetura modernista). A Funarte idealizou o edital do prêmio de arte contemporânea do RJ para que as exposições interagissem com o salão e com o Palácio Gustavo Capanema. “O prédio é a mais importante construção modernista em grandes dimensões do mundo”, destaca Xico Chaves. “A palavra ‘Projéteis’, faz parte do nome edital, criado em 2004. Foi pensado para que o artista dialogasse com a arquitetura do prédio, seu entorno e com a própria cidade. Desde então, os contemplados têm desenvolvido trabalhos incríveis, que formam um conjunto. Ele expressa a conversa entre o contemporâneo e o moderno. A exposição de Fernanda Junqueira provoca esse diálogo e cria um reflexo muito interessante do jardim do terraço”, acrescenta o poeta e artista plástico.

Jardins Submersos: um espaço líquido
Fernanda Junqueira

Projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2013 – Projéteis Funarte de Artes Visuais Rio de Janeiro

Galeria do Mezanino | Palácio Gustavo Capanema – Funarte
Rua da Imprensa, 16 – Centro –Rio de Janeiro – (21) 2279-8089 | 2279-8078

Até 29 de agosto
Visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h
Entrada gratuita

Ficha técnica
Concepção, arte, pesquisa e planejamento: Fernanda Junqueira
Produção das peças em PetG: Marplastin. Filmagens e stills: André Sheik. Texto do catálogo: Paulo Venâncio Filho. Design Gráfico do catálogo: Marcos Martins. Fotografia: Wilton Montenegro. Produção da exposição: Endora – Mauro Saraiva & André Fernandes