Funarte debate, até quinta-feira (6/11), no Rio, as residências artísticas

Clique aqui e acompanhe o evento online, em tempo real, até quinta-feira, 6 de novembro, a partir das 9h30

Começou, nesta terça-feira (4/11), no Rio de Janeiro, o Seminário Funarte de Residências Artísticas, que conta com a participação de artistas, pesquisadores e gestores culturais. Na abertura do evento, o presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte, Guti Fraga, destacou que a Fundação considera os processos artísticos desenvolvidos nas experiências e programas de residências fundamentais para a qualificação da nossa cultura. “Desde 2013, quando aqui cheguei, eu vim apostando no respeito à diversidade, à diferença, tentando o tempo todo garantir o diálogo e a troca de experiência. Cada dia mais, acho que as diferenças ficam de fora e a gente tem que estar junto em prol de um objetivo comum e esse seminário faz parte do nosso objetivo comum. É uma proposta de diálogo com a sociedade, com os fazedores e gestores de cultura para, juntos, sociedade civil e poder público, construirmos uma política eficiente, inovadora de apoio às residências que valorizem cada vez mais as trocas e experiências estéticas de nossos artistas”.

Além do presidente da Funarte, estiveram presentes o diretor executivo da instituição, Reinaldo Verissimo; os diretores Ester Moreira, do Centro de Programas Integrados, e Xico Chaves, do Centro de Artes Visuais; os coordenadores Marcos Teixeira, do Circo; Camilla Pereira, da Comunicação; Sandra Baruki, do Centro de Conservação e Preservação da Fotografia; e Maristela Rangel, do Centro de Documentação e Informação em Arte (Cedoc). O evento, que está sendo realizado na Sala Funarte Sidney Miller, no Centro do Rio, vai até a próxima quinta-feira (6/11).

Primeiro conferencista, o artista e curador Amilcar Packer falou sobre o tema ‘Resiliências artísticas’. Codiretor do Capacete – programa internacional de residências artísticas de pesquisa no Rio de Janeiro – e professor convidado do Programa de Arte, Pesquisa e Prática da Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris, e de outras instituições de pesquisa, ele abordou questões como o financiamento; a relação entre artistas, instituições públicas e/ou privadas e o mercado; os desafios das residências e a luta por uma multiplicidade de espaços.

Segundo Amilcar, atualmente, existem mais de quinhentos programas contínuos de residência no mundo. Mas, “obviamente, profissionais de países da Europa e da América do Norte têm muito mais acesso a esse tipo de programa do que da América do Sul, da África e até da Ásia”. No Brasil, pelas dimensões do país, são poucas as instituições que oferecem esse tipo de apoio e, na maioria das vezes, em um modelo, de acordo com ele, ineficaz. Como o financiamento é restrito, “o artista tem que ter outro trabalho ou fica preso ao sistema de editais”. Amilcar defende que, assim como na área da medicina, as residências artísticas estejam relacionadas à noção de formação, de educação, de pesquisa, de conhecimento. “Por que não pensar em residências artísticas de dois anos, três anos, cinco anos? Imagine um jovem curador que ficasse no Museu Nacional de Belas Artes como residente por dois, três anos, tendo acesso à instituição e ao seu potencial, seu acervo, seus profissionais. Eu acredito que a arte é tão necessária para a vida do ser humano quanto a medicina e que ela tem que ser levada tão a sério quanto”, enfatizou.

Mapeamento de Residências Artísticas
Neste primeiro dia do Seminário, foi lançada a publicação Mapeamento de Residências Artísticas no Brasil, levantamento inédito sobre artistas e instituições que desenvolvem essa modalidade de produção cultural no país. A edição é gratuita e também está disponível em versão digital no site da Fundação (funarte.gov.br/residenciasartisticas). Após a abertura do evento pela manhã, os servidores do Centro de Programas Integrados (Cepin) da Funarte Ana Vasconcelos e André Bezerra, responsáveis pela pesquisa, apresentaram o estudo e falaram sobre a metodologia utilizada.

Esta sondagem – explicaram – foi feita por meio de um questionário online disponível no site da Funarte e teve como público-alvo participantes de ações da Fundação e demais interessados. Os pontos de partida para a realização do estudo – contou Ana – foram o II Encontro Funarte para as Artes, em 2012; os resultados dos programas Rede Nacional de Artes Visuais, Conexão Artes Visuais e Interações Estéticas – Residências Artísticas, promovidos pelos centros da Funarte; além do visível crescimento do setor e de suas demandas em editais públicos da Fundação e de outras instituições federais, estaduais e municipais.

“Aqui na Funarte, desde 2008, já tínhamos ações específicas para o campo das residências. Neste ano, foi criado o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, em parceria com a Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. Foram lançados quatro editais – 2008, 2009, 2010 e 2012 –, com fomento direto ao artista, e não ao ponto de cultura, tendo beneficiado cerca de 400 artistas”, contou.

Ana esclareceu que, além do Interações Estéticas, também se destaca entre as ações da Funarte o Outras Danças, realizado em duas edições (Fortaleza /CE e Porto Alegre/RS), mediante convênio com prefeituras e coordenado pela Coordenação de Dança da Funarte. Com duração de um mês e meio, esse programa recebeu dois artistas convidados de diferentes países e artistas brasileiros interessados em fazerem residência com os convidados. Além dessas ações, a servidora também ressaltou a importância do edital Bolsa Funarte de Residências Artísticas em Artes Cênicas (2010).

A pesquisa foi sistematizada de forma a oferecer informações sobre onde estão localizadas, como funcionam, como se financiam e quem são os envolvidos e beneficiados pelas atividades de residência. Outra preocupação foi conhecer quais os segmentos artísticos contemplados e quais os processos e produtos resultantes das experiências.

O Mapeamento das Residências Artísticas no Brasil possui, ainda, artigos dos pesquisadores convidados Amílcar Packer, artista visual, curador e um dos responsáveis pelo programa de residências Capacete, realizado no Rio de Janeiro, e Marcos Moraes, docente da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e coordenador do programa de residência da instituição. Os textos oferecem subsídios conceituais e teóricos em torno das residências e suas implicações no contexto cultural e social.

Também há entrevistas com gestores de algumas instituições, como o Instituto Sacatar (BA), o circo Crescer e Viver (RJ) e o Lote (SP). O objetivo é conhecer melhor as experiências dessas entidades e ter um melhor entendimento sobre suas áreas de atuação.

Hot site
De acordo com os coordenadores da pesquisa, além da versão online da publicação, já está disponível no site da Funarte um ‘hot site’. Nesse link, há uma plataforma para emissão de relatórios, onde é possível fazer buscas específicas de residências artísticas por cidade, área, etc.

Laboratórios de experiências – O processo criativo, a experimentação e a troca
Na parte da tarde, quatro convidados trouxeram seus relatos de experiências com programas de residências artísticas. Paula Maracajá, do programa Residência Crescer e Viver, do Rio de Janeiro, destacou que é importante estimular os espaços de residência para acolher a demanda dos artistas, além de ser fundamental a manutenção desses espaços para a criação de coletivos. Ao falar sobre sua experiência, ela sublinhou os ganhos do artista que se dedica às artes do corpo, questionando as dificuldades que enfrenta diante dos padrões acrobáticos das escolas clássicas do circo e sua pouca expressividade; e as situações que cerceiam os intérpretes, como o distanciamento dos diretores, que por vezes se colocam no lugar daqueles.

Livia Simas, do Circo Crescer e Viver, também do Rio de Janeiro,  falou sobre o trabalho na área de circo, oriundo de projeto de circo social nascido na Escola de Samba Porto da Pedra, em São Gonçalo, e que hoje é aplicado na Praça Onze, Centro do Rio.  Ela afirmou que o circo social ainda está na essência do projeto Crescer e Viver, com atividades de formação e de aulas de circo para a comunidade, nas quais as crianças aprendem acrobacias, acrobacias aéreas, malabares, além de participarem em mini companhias, se apresentando em espetáculos, “para que se sonhem como artistas”.

Outra experiência do Rio de Janeiro, trazida por Beatriz Lemos, foi o projeto Pedregulho Residências Artísticas que, no período 2009/2010, desenvolveu quatro residências artísticas, promovendo atividades junto à comunidade do Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte da cidade. Esse foi o primeiro projeto coordenado por ela, e que reuniu grupos de profissionais multidisciplinares – artistas, arquitetos e urbanistas, críticos e historiadores de arte e cultura. O programa foi possível através de edital do Ministério da Cultura e durou seis meses. Beatriz falou sobre a importância do projeto arquitetônico proposto por Affonso Eduardo Reidy, um dos pioneiros da arquitetura modernista, que tinha como objetivo, abrigar funcionários públicos de baixa renda da, então, capital do país à época. Ela explicou que todo o processo foi acompanhado pelo presidente da associação de moradores e que cada artista residiu lá por um mês. Foram desenvolvidas várias atividades, com participação de boa parte dos moradores, inclusive crianças e adolescentes. O registro dessas vivências no complexo foi discutido pelos artistas no Museu de Arte Moderna, com textos publicados.

Eduardo Rosa, do Coletivo Construções Compartilhadas, da Bahia, falou sobre os resultados da residência em teatro público em Brotas, que foi transformado por meio de várias  atividades artísticos, em 2009. O processo criativo, segundo Rosa, foi expandido à escola do bairro, com uma mostra pública, um curso técnico de dança com vaga de estágio para os alunos, programação para o público do teatro e galeria de arte, além de conseguir agregar outros artistas ao projeto, resultando na criação do coletivo.

A diretora do Centro de Programas Integrados da Funarte, Ester Moreira, disse que os relatos dos convidados trouxeram experiências de espaços de residência, de metodologia, de compartilhamento artístico com a comunidade, experiência de curadoria, além da diversidade na organização dos programas. E que a expectativa do Cepin é que essas experiências possam contribuir para a formulação de um programa político de fomento e de incentivo para a atividade, com a diversidade de estratégias que visem também à manutenção dos espaços e dos projetos.

Em seguida, os convidados Nadam Terra (Terra Una), de Minas Gerais; Marcos Moraes (FAAP), de São Paulo e Francisco Lima (O Imaginário), de Roraima, participaram do painel que discutiu o lugar das residências artísticas na arte contemporânea.

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