Acervo do dramaturgo, ator e diretor de teatro Zé Renato será doado à Funarte

O acervo do dramaturgo, ator e diretor de teatro Renato José Pécora, conhecido por Zé Renato, em breve estará sob a guarda do Centro de Documentação (Cedoc), ligado ao Centro de Programas Integrados (Cepin) da Fundação Nacional de Artes. Seu filho José Guilherme Pécora, em diálogo com a Diretora do Cepin, Ester Moreira, expressou o desejo dos herdeiros em doar o acervo do artista ao Cedoc. A coordenadora do Cedoc, Maristela Rangel, e a arquivista e historiadora Dilma Nascimento reuniram-se com representantes dos herdeiros em novembro último para discutir os termos do contrato de doação.

O Cedoc é reconhecido pela sua excelência na preservação e difusão das histórias e acervos de artistas e da cultura brasileira. “A aquisição do acervo de José Renato representa a possibilidade de tornar acessível ao público as mais diversas etapas da sua produção intelectual e artística, bem como permitirá estabelecer um diálogo com o conjunto documental de outros intelectuais envolvidos em um importante momento do teatro brasileiro, como Vianninha (Oduvaldo Vianna Filho) e Fernando Peixoto, cujos acervos já se encontram sob a guarda do Cedoc”, afirmou a coordenadora.

Maristela Rangel também esclareceu que o acervo de Augusto Boal está em processo de organização na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que, em breve, estará disponível para consulta. “Assim, será possível formar uma rede de arquivos de fundamental importância para os estudos a respeito do teatro no Brasil”, destacou.

Para o presidente da Funarte, Guti Fraga, este é um passo significativo para o projeto de fazer um Centro de Pesquisa Dramatúrgica no Teatro de Arena Eugênio Kusnet (SP), que foi fundado em 1951 por Zé Renato. “A ideia é disponibilizar, por meio digital, os acervos que contam a rica e fundamental história das artes, construída pelos artistas que criaram e viveram o Arena e a resistência da cultura durante o período da ditadura, produzindo uma dramaturgia que impacta de forma singular as artes e a cultura brasileira ainda hoje, ”afirmou.

Sobre Zé Renato – José Renato Pécora faleceu em 2 de abril de 2011, na cidade de São Paulo, aos 85 anos de idade, vítima de infarto poucas horas após apresentar-se no Teatro Imprensa, onde estava em cartaz com a peça Doze Homens e uma sentença. Após 50 anos longe dos palcos, ele integrava o elenco dirigido por Eduardo Tolentino de Araújo.

Paulistano de nascimento, começou em um grupo amador com os amigos no Clube Pinheiro, em 1948. Formou-se, em 1950, na Escola de Arte Dramática-EAD, em SP (diplomado em ator com especialização em direção). Em 1970, ingressou na Escola de Teatro da Fefierj (Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro) – atual faculdade de artes cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) –, onde se aposentou como professor de direção teatral em 1996. Uma de suas peças, Plantas Rasteiras, foi premiada em concurso da Academia Paulista de Letras.  Como diretor, segmento em que mais se distinguiu, dirigiu mais de 100 peças.

Sua trajetória profissional é marcada pela sua atuação no Teatro de Arena, que foi fundado por ele em 1951, em São Paulo, na Rua Teodoro Bayma, em frente à Igreja da Consolação, hoje Teatro de Arena Eugênio Kusnet, pertencente à Funarte.O primeiro espetáculo apresentado pela companhia Teatro de Arena foi Esta Noite É Nossa, de Stafford Dickens, em 1953, e foi nesse modesto espaço que Zé Renato uniu-se ao grupo amador O Teatro Paulista do Estudante, então liderado pelos dois talentosos jovens Oduvaldo Vianna Filho e Gianfrancesco Guarnieri filho, que estavam em busca de um local para apresentar seus espetáculos. Nessas circunstâncias, o Arena e o TPE uniram-se. Sobrecarregado com a direção dos espetáculos, Zé Renato recebeu, de Sábato Magaldi, a indicação de Augusto Boal.

A união de Zé Renato, Vianninha, Guarnieri e Boal explodiu em criações como: ‘Ratos e Homens de Steimbeck’, direção de Boal. O Teatro de Arena foi o responsável por espetáculos como:Eles não usam Black-Tie, 1958 (Gianfrancesco Guarnieri). A produção era do Teatro Arena, direção de Zé Renato, com orquestra regida pelo maestro Damiano Cozzela, com músicas de Adorinan Barbosa e Guerra Peixe;  Chapetuba Futebol Clube, de Vianninha, direção de Boal entre outras. Nesse tempo, Zé Renato passou um ano na Europa estudando com Jean Villar e retornou a tempo de dirigir Revolução na América do Sul, escrita por Boal, Geni Marcondes e Chico Assis.

Na década de 1960, Zé Renato saiu do Arena, deixando-oestruturado– a última ideia foi a montagem de A Mandrágora, dirigida por Boal,convidado pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT) para comandar o Teatro Nacional de Comédia (TNC) – atual Teatro Glauce Rocha (RJ), administrado pela Funarte. Neste, dirigiu Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, com Milton Moraes no papel principal e Vanda Lacerda, ganhando o Prêmio da Associação de Críticos do Rio de Janeiro.  Ainda montou espetáculos de vários autores, encenando textos de Antônio Callado e Dias Gomes, a exemplo de O Pagador de Promessa, montado em 1963.

Quando veio o golpe de 64, Zé Renato, no Uruguai, dirigiu A Invasão, de Dias Gomes. Desfeito o TNC, foi estudar no Paraná, de onde saiu para dirigir a peça inaugural do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, quando realizou a montagem antológica da Ópera dos Três Vinténs, de Brecht, no fim de 1964. Retornando ao Paraná, assumiu a direção do Teatro de Comédia do Paraná – TCP, até ser convidado para dirigir a divisão cultural da Sala Cecília Meirelles.

Nos anos de 1970, Zé Renato tornou-se, junto com Fernando Peixoto, o diretor mais marcante dos anos de chumbo da ditadura. Em 1972, dirigiu Um Edifício Chamado 200, escrito em parceria com Paulo Pontes e Milton Moraes; em 1973, encontrou-se pela última vez com Vianninha, dirigindo a estreia de Alegro Desbum, de Vianna e Armando Costa; em 1979 dirigiu Baixa Sociedade, de Juca de oliveira. Rasga Coração’foi o último texto teatral do ator, diretor e dramaturgo Vianinha, integrante do Arena de SP. O texto de Vianninha permaneceu anos censurado pelo regime militar de 1964, quando foi liberado estreou no Teatro Villa-Lobos (1979-80), com direção de Zé Renato. Após aproximadamente 25 anos sem dirigir um espetáculo, Zé Renato retornou à atividade em 2009, quando então encenou Chapetuba F.C.

Fontes: http://bernardoschmidt.blogspot.com.br / http://teatropedia.com/wiki/Jos%C3%A9_Renato

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