Entre os dias 2 e 14 de fevereiro, a Funarte-SP recebe a exposição fotográfica Caminhos do Coco. A mostra reúne 36 fotos feitas por Felipe Scapino e objetos coletados durante a viagem do artista, que percorreu seis estados do nordeste brasileiro, para documentar os rumos que esse ritmo da cultura popular ganhou pela região desde a sua origem.
Na abertura da exposição, às 20h, no Circo Tenda, haverá show do grupo Bongar, de Pernambuco, que também faz parte do projeto. A mostra Caminhos do Coco estará na Galeria Mario Schenberg do Complexo Cultural Funarte. A entrada é gratuita.
O projeto do coletivo Ganzá foi contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Negra/2012, com apoio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e MinC.
Inicialmente composto de uma exposição fotográfica e um documentário de longa-metragem sobre o ritmo e a dança, o projeto tem como objetivo divulgar os mestres, visando o reconhecimento que merecem por sua arte. As variações e os mestres de coco são muitos, mas o Caminhos do Coco mostra um bonito recorte desses artistas populares, sejam eles do sertão ou do litoral nordestino.
No total, seis estados participam do projeto – Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará –, que contou com a participação de oito mestres e/ou grupos de variadas formas de se fazer o coco.
Ficha técnica:
Joice Temple – direção, roteiro e montagem
Hugo Marques – produção executiva e montagem
Juliana Amorim – assistência de direção e produção
Felipe Scapino – direção de fotografia
Kelly Santos – pesquisa e produção
Renan Vasconcelos – direção de som
Cauê Bravim – finalização
Omar Sanchez – arte e produção
Contato:
facebook.com/caminhosdococo
coletivoganza@gmail.com
Grupos apresentados:
Segue abaixo um resumo dos grupos e mestres presentes no projeto.
Samba de coco da Barra dos Coqueiros (Sergipe)
Iniciado há 30 anos a partir de um grupo de idosos da região, o Coco de Roda da Barra dos Coqueiros hoje tem 20 integrantes, a maioria da terceira idade. A coordenadora do grupo é Iolanda Oliveira, de 77 anos. O diferencial do grupo de dona Iolanda é a simpatia, o luxo dos figurinos e a riqueza das coreografias. Quando apresentados, primeiro mostram o samba de pareia e, depois, dispostos em círculos e aos pares, os brincantes trocam de lugares, da direita para a esquerda e vice-versa. Já foram à Brasília, Olinda, Fortaleza, e no Festival do Folclore de Olímpia (SP). Todos os festivais que têm em Sergipe, eles estão lá “brincando”, como costumam falar.
Coco de roda do Mestre Nelson Rosa (Arapiraca – Alagoas)
O Mestre Nelson Rosa, 81 anos, compõe o Registro do Patrimônio Vivo, da Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas, desde 13 de maio de 2005. Ele também coordena, desde 1990, o grupo das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca, que reúne 10 senhoras cantadeiras. Talentoso poeta popular e inspirado embolador, é quem lidera o seu grupo folclórico há mais de trinta anos. É um homem simples, apegado ao amanhã da terra onde nasceu, numa zona rural, e vive, até hoje, cercado por seus familiares, no Povoado Fernandes.
As primeiras apresentações aconteciam apenas entre familiares, onde dançavam seus filhos, sobrinhos, primos, cunhados e amigos. Mais adiante, seus filhos foram casando e afastando-se do coco, sendo substituídos pelos vizinhos, e a dança foi continuando, agora, com apresentações em Festivais de Folclore, Semana da Cultura, Festas Juninas e eventos além das fronteiras.
“Um mestre é alguém que de tanto saber não cabe mais em si e tem que dividir com outras pessoas”, frase de Adriana Millet, em 2010, se referindo ao Mestre Nelson Rosa, enquanto orientava o encontro com o Mestre, num evento de contadores de história.
Coco de Tebei (Tacaratu – Pernambuco)
Tebei é o nome dado ao coco cantado e dançado pela comunidade Olho d’Água do Bruno (Tacaratu / PE), com a intenção de aplainar o chão de barro de uma casa cuja construção está sendo finalizada. Não há instrumentos musicais no Coco de Tebei, que mantém esta tradição de música e dança há mais de 100 anos, pouco difundida em outras regiões do estado. Este tipo de coco só é cantado em poucas comunidades do sertão Pernambucano. A primeira documentação a respeito foi feita em 1938, como parte da missão de pesquisas folclóricas, coordenada por Mário de Andrade. A equipe do pesquisador passou por Tacaratu, onde documentou o rojão-de-roça e o tebei, ritmos de tradição oral. O Coco de Tebei já se apresentou em diversas cidades do Brasil. O grupo lançou seu primeiro CD-DVD , Eu tiro o couro do dançador, em 2008.
Bongar (Quilombo do Portão do Gelo – Olinda – Pernambuco)
O Bongar é composto por seis jovens integrantes do terreiro Xambá, do Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda. Tem como propósito levar aos palcos a tradicional Festa do Coco da Xambá, realizada na comunidade há mais de 40 anos, no dia 29 de junho. Um trabalho voltado para a preservação e divulgação da cultura pernambucana. Sua forte musicalidade, advinda de diversas influências musicais vivenciadas nos cultos afro-brasileiros, principalmente da linhagem Xambá, é herança deixada desde a infância aos integrantes do Bongar. Os mais velhos ensinaram os toques, as loas e as danças durante as festas da Casa Xambá. Em 2006, o Bongar gravou seu primeiro CD em 29 de junho. Seu segundo disco, intitulado Chão Batido Coco Pisado, foi lançado em 2009. Em 2014, começaram a gravação do terceiro CD. O grupo gravou em junho de 2012 seu primeiro DVD, Festa de Terreiro, com a participação do coro da comunidade Xambá, e músicos como Benjamim Taubkin. Em 13 anos de estrada, o Bongar participou de grandes festivais e eventos, dentro e fora do Brasil.
Dona Selma do Coco (Olinda – Pernambuco)
Nascida na região da Mata de Pernambuco, Selma travou conhecimento com a música tradicional pernambucana, em especial o coco de roda, desde a infância, nas festas juninas que frequentava com seus pais. Aos 10 anos, mudou-se com a família para Recife. Casou-se muito jovem e, aos 30 anos, depois de ter 14 filhos, ficou viúva. Passou 15 anos no bairro da Mustardinha, ainda em Recife. De lá, foi morar em Olinda, onde vendia tapioca. Para atrair os turistas e aumentar as vendas, cantava o coco enquanto trabalhava. Nos anos 90, foi descoberta pelos jovens do movimento Manguebeat, como Chico Science, que começaram a elogiar suas músicas. Em 1996, apresentou-se pela primeira vez para um grande público, no festival Abril Pro Rock. No ano seguinte, seu coco A Rolinha fez sucesso no carnaval de Recife e Olinda. Gravou seu primeiro CD, Minha História, em 1998, com músicas compostas em parceria com seu filho Zezinho. A gravação lhe valeu no ano seguinte o Prêmio Sharp. Nos anos seguintes, apresentou-se no Festival Lincoln Center, em Nova York, e no Festival de Jazz de Nova Orleans, além de fazer shows na Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Suíça e Portugal. É um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco, hoje com 79 anos.
Coco de Zambê do Mestre Geraldo (Tibau do Sul – Rio Grande do Norte)
Coco de Zambê é um ritmo nativo do Rio Grande do Norte e bem distinto das demais modalidades do coco nordestino. Há possibilidades de ter surgido no extinto quilombo de Sibaúma. No lugar de pandeiro, triângulo ou zabumba, utilizam dois tambores, um maior chamado de Zambê e um menor chamado de Chama. Outro instrumento peculiar presente no Coco de Zambê é a lata: uma lata de tinta que com duas varinhas emitem um som agudo para acompanhar os dois tambores graves. A dança é uma reverência aos tambores e composta por homens dançarinos, mulheres também podem dançar mas é raro. Mestre Geraldo foi o revitalizador dessa manifestação que estava se perdendo na região. Quando pequeno, o mestre observava a manifestação, pois na época só os mais velhos praticavam, ele guardou os ensinamentos e veio resgatar a cultura tempos depois. Em 1999, lançaram o primeiro CD, Zambê cocos, com 18 composições de autoria do grupo.
Coco de Roda e Ciranda de Caiana dos Criolos (Alagoa Grande – Paraíba)
No passado, segundo as integrantes do grupo, o momento de brincar ciranda e o coco de roda representava um dos poucos instantes de diversão dos moradores de Caiana dos Crioulos. A partir da década de 1990, a ciranda e o coco de roda de Caiana começaram a ser apresentados fora da comunidade, criando-se um grupo com vestimentas próprias e que passou a receber pequenos cachês para se apresentar. No entanto, no mesmo período desse reconhecimento externo, estas manifestações começavam a perder espaço no dia a dia da comunidade, sendo cada vez menos um elo de união entre as pessoas mais jovens. O grupo, formado aproximadamente por 20 pessoas, apresenta uma forte característica política, educacional e de resistência para ressaltar a importância do “resgate” destas manifestações, para que continuem sendo apreciadas e vivenciadas pelas gerações mais jovens. Dessa maneira, o grupo atualmente também é composto por crianças e jovens da comunidade. Para as mulheres do Coco de Roda e Ciranda de Caiana dos Criolos, o momento de viajar para se apresentar ou de “brincar” dentro da própria comunidade, é o momento de evadir por algum tempo de boa parte das situações de dificuldade, físicas e emocionais, e se religam a um passado que no cotidiano não pode (mais) ser sentido, mas que é recordado em suas práticas e rememorações. Edite José da Silva, de 76 anos, é a coordenadora do grupo e liderança comunitária do quilombo. Dona Edite também é cozinheira, parteira e contadora de histórias.
Coco das Mulheres de Batateira (Crato – Ceará)
Conhecido popularmente como “Mulheres do Coco da Batateira” por ser constituído na sua maioria e origem por mulheres, o grupo surgiu em 1979 por uma turma de sala do Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. O militante da cultura popular, Mestre Eloi Teles de Morais foi um dos grandes incentivadores. A trajetória do grupo está ligada aos movimentos sociais como Associação de Mulheres e Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Crato. E a principal responsável por manter essa cultura viva é a agricultora Edite Dias de Oliveira, 72 anos. Ela estudou até a oitava série, mas isso não a impediu de ensinar moradores de Batateira a ler, escrever e a dançar o coco. “Uma monitora sabia cantar o coco e o esposo dela, dançar. Existiam mais umas três pessoas que sabiam dançar. Aí, nós começamos a ensaiar e deu certo”, afirmou Dona Edite. Com o passar dos anos, a brincadeira ficou séria e o grupo se tornou um dos mais tradicionais do Nordeste. Agricultoras da região do Cariri compõem o grupo, que se reúne semanalmente para cantar, dançar e contar histórias de vida. Sete mulheres do grupo se trajam como cavalheiros, enquanto outras sete se vestem como damas. O grupo tem 16 mulheres que são substituídas apenas quando não conseguem mais dançar. As danças são embaladas pelas toeiras que cantam músicas que falam do dia a dia dessas mulheres, das mães de famílias, donas de casa, agricultoras, avós e tias.
Exposição Caminhos do Coco
Abertura: dia 2 de fevereiro (segunda), às 20h
Local: Galeria Mario Schenberg – Complexo Cultural Funarte SP
Al. Nothmann, 1058 – Campos Elíseos, São Paulo (SP)
(próximo ao metrô Santa Cecília)
(11) 3662-5177
* Retirar ingresso uma hora antes do evento.