O grupo teatral paulista Coletivo Negro reestreia quinta-feira, 16 de abril de 2015, sua mais recente montagem, {ENTRE}. Com forte inspiração na música de Itamar Assumpção e no documentário Edifício Master, do cineasta Eduardo Coutinho, a peça faz sua segunda temporada na Funarte (a primeira foi em setembro) e ficará em cartaz até 26 de abril na Sala Arquimedes Ribeiro – com ingressos gratuitos.
O espetáculo é fruto de um ano e meio de “investigações cênico-poéticas-raciais”, como o grupo define, viabilizadas pelo projeto A Celebrização do Comum, contemplado pela 20a edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, em 2011. Com este trabalho, o coletivo busca uma abordagem do “homem em seu espaço, suas relações sociais, suas lutas e toda a poesia que brota deste cotidiano, mesmo nas condições mais hostis”.
A narrativa se passa em um conjunto habitacional, onde um pequeno espaço é dividido por centenas de famílias, em meio à precariedade de uma região sem transporte, sem médicos, sem escolas e sem oportunidades de cultura e lazer. Ali, vivem quatro personagens, todos negros: uma grávida, que terá o filho sozinha; um homem que quer voltar para a família depois de violentos atritos com a mulher e o filho; um filho à procura de seu caminho e identidade; e um médico que retorna à casa materna depois de muito tempo ausente.
O primeiro espetáculo do grupo, Movimento Número 1:O Silêncio de Depois…, retratou a desapropriação material e simbólica acarretada pela Diáspora Negra, no século XIX. Agora, os atores-criadores buscam as “pequenas diásporas diárias” de “homens que se deslocam de si e de seus bairros, por muitas horas dos seus dias, por muitos dias de seus meses e por muitos meses de seus anos”.
O que no espetáculo inaugural do Coletivo Negro foi “o silêncio de depois”, nesta montagem são “bocas que se abrem e pronunciam os feitos cotidianos de negros comuns: que constroem os fatos, fazem história e são cidadãos dela”.
Sobre o Coletivo Negro: O grupo foi formado em 2008 por atores afrodescendentes vindos da Escola Livre de Teatro de Santo André e da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/USP). Inspirados por Abdias do Nascimento e seu Teatro Experimental do Negro (1946), os artistas se concentraram no estudo da arte teatral e sua relação histórica com as vertentes da cultura negra brasileira.
Em 2007, após a montagem do experimento cênico Um longo caminho que vai de Zero a Ene, de Timochenko Wehbi, dentro do curso de direção da Escola Livre de Teatro de Santo André, Jé Oliveira, diretor da experimentação, junta-se aos então artistas-aprendizes Thaís Dias e Jefferson Matias para aprofundar a pesquisa realizada para aquele trabalho, cujo pano de fundo era a invisibilidade social.
O desejo de continuar a debater e d fazer um teatro comprometido com questões poético-étnico-raciais, levou Jé Oliveira a convidar os também atores Raphael Garcia, da Escola de Arte Dramática da USP, Flávio Rodrigues e Aysha Nascimento, também da Escola Livre de Teatro de Santo André, a formarem um grupo de pesquisa que se voltasse para a situação socioeconômica e a produção estética do negro brasileiro.
Espetáculo: {ENTRE},
De 16 a 26 de abril | Quintas a sábados, às 21h; domingos, às 20h
Atores-criadores: Flávio Rodrigues, Jefferson Matias, Jé Oliveira e Thaís Dias | Música ao vivo: Fernando Alabê e Cássio Martins | Direção musical: Fernando Alabê | Assistente de direção musical e musicalização: Gabriel Longuitano | Direção: Raphael Garcia | Assistente de direção: Aysha Nascimento | Dramaturgia: Jé Oliveira | Provocação dramatúrgica: Grace Passo | Cenário e iluminação: Júlio Dojcsar | Figurino: Silvana Marcondes | Audiovisual: Zeca Caldeira | Artistas gráficos: Sato e Murilo Thaveira | Produção geral: Coletivo Negro | Parceria: Casadalapa
Duração: 90min | Classificação etária: 14 anos
Entrada franca
Sala Arquimedes Ribeiro do Complexo Cultural Funarte São Paulo
Alameda Nothmann, 1058