O presidente da Fundação Nacional das Artes – Funarte, Francisco Bosco, deu início à série de debates, na terça, 12 de maio, no Salão Portinari do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro (RJ). O encontro que se estende até a quarta, dia 13, conta com a participação do diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura do Brasil, Gustavo Pacheco, e de representantes dos países membros e associados do bloco, na área cultural. As propostas que forem aprovadas nesta reunião serão debatidas na 40ª Reunião do Comitê Coordenador Regional, e os temas deliberados neste encontro serão discutidos na 38ª Reunião de Ministros da Cultura, que ocorrerá no dia 18 de junho, em Brasília. A primeira reunião foi realizada em Buenos Aires, capital da Argentina, em outubro de 2014.
O presidente da Funarte destacou que a ideia principal do encontro é aproximar a cultura e construir um intercâmbio de arte com os povos próximos, sinalizando a importância de tornar essa iniciativa uma realidade. Francisco Bosco também reafirmou o desejo de consolidar o Mercosul Cultural. O presidente falou, ainda, sobre o Brasil ser reconhecido por sua cultura, que é seu maior embaixador. Acrescentou que a Funarte é a principal instituição para cuidar das artes no Brasil e que criar um eixo sul para aproximar trocas simbólicas e econômicas é uma das metas da Fundação.
Além do presidente da Funarte, participaram do encontro, Olga Abraham, assessora da Direção Nacional de Artes do Ministério da Cultura da Argentina; Victoria Figueredo, diretora de Criação e Produção da Direção Geral de Diversidade e Processos Culturais da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai; Rolando Ruiz Rosas, representante do Consulado-Geral e conselheiro da Embaixada do Peru em Brasília; Begoña Ojeda, diretora de Programas Culturais da Direção Nacional de Cultura e do Ministério de Educação e Cultura do Uruguai; Giordana García, vice-ministra de Cultura do Ministério do Poder Popular para a Cultura e Katherine Castrillo, diretora General de Diseño de Políticas Culturales, ambas da Venezuela; Alexander Vega, sub-secretário de Artes e Criatividade no Ministério da Cultura e Patrimônio do Equador e Maximiano Vera, representante da secretaria do Mercosul Cultural. A mediação ficou a cargo do diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura do Brasil, Gustavo Pacheco.
A Fundação Nacional de Artes também foi representada pelo assessor da Presidência, José Maurício; diretor do Centro de Artes Visuais, Xico Chaves; diretor do Centro da Música, Marcos Lacerda; coordenador de Música Erudita, Flávio Silva; coordenador de Circo, Marcos Teixeira; coordenador de Dança, Fabiano Carneiro; diretor da Escola Nacional de Circo, Carlos Eugênio; e Fernando Cocchiarale, professor e assessor do Centro de Artes Visuais.
No primeiro dia, os temas abordados foram: Prêmio Mercosul de Artes Visuais; Portal de Orquestras Infanto-Juvenis; Rede de Festivais e Corredores Culturais.
Gustavo Pacheco, da DRI/MinC explicou que a Reunião do Mercosul Cultural tem por objetivo fortalecer a agenda positiva no segmento das artes dos países membros – Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e Equador. A estrutura do bloco é formada por três Comissões – Diversidade Cultural, Patrimônio e Artes, e a presidência pro tempore (alternada a cada seis meses) cabe atualmente ao Brasil. Esta segunda reunião visa promover o diálogo sobre o conteúdo dos projetos propostos na primeira reunião, além de discutir ações que facilitem o intercâmbio de informações e de futuros encontros para a discussão de novas pautas. As recomendações dos representantes das delegações irão constituir um documento que será apresentado ao Conselho de Coordenação Regional a ser submetido à apreciação ministerial.
Olga Abraham, da Argentina, apresentou a proposta sobre o Prêmio Mercosul de Artes Visuais, uma iniciativa do seu país, inspirado no Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia. O projeto tem como objetivo incentivar, premiar e reconhecer os artistas visuais da região e contribuir com a integração regional entre os países membros e associados do Mercosul. A premiação será dividida em duas categorias: Premio Mercosur a la Trayectoria Artìstica, para um artista consagrado e com relevância no campo das artes visuais contemporâneas e Premios Estímulo Mercosur para quatro artistas jovens e em início de carreira. Após a premiação será criado um catálogo com as obras para dar maior visibilidade ao trabalho dos artistas contemplados.
Durante a exposição da proposta, vários representantes expuseram suas opiniões, críticas e sugestões. Uma das opiniões contrárias em relação ao termo “artista consagrado” foi dada por Begoña Ojeda, do Uruguai. Os representantes de Argentina, Venezuela e Uruguai propuseram rever este conceito, já que é difícil avaliar a trajetória ou a vida profissional de um artista. Segundo o diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, Xico Chaves, a sugestão é expandir esta premiação para que mais artistas sejam contemplados. “O momento é de expansão e de difundir o maior número de artistas possíveis, desfazendo as fronteiras. A premiação tem que ser capaz de divulgar ideias desenvolvidas nas artes visuais ou em outras artes.”
Francisco Bosco, presidente da Funarte, falou sobre o projeto de criação de uma coleção bilíngue que circularia nos demais países e também contemplaria outras linguagens, além das Artes Visuais, como Literatura, Teatro, Circo, Dança, Música, dentre outras expressões artísticas. Gustavo Pacheco, do Ministério da Cultura, sugeriu a criação de um sítio do Mercosul para difusão das ações do programa. “Devemos pensar desde já na criação deste mecanismo de acesso para dar um salto e facilitar o diálogo através das redes sociais e internet. A presença do mundo digital tem que ser levada em conta desde o início, pensado sistematicamente entre todos os países envolvidos. Precisamos de uma equipe que atualize a página diariamente e filtre as informações que forem surgindo.”
Olga Abraham, da Argentina, falou sobre a iniciativa de criação do Portal de Orquestras Infanto-Juvenis do Mercosul e apresentou o site do Programa Social Andrés Chazarreta, projeto realizado em Buenos Aires. O coordenador de Música Erudita da Funarte, Flávio Silva, expôs um breve histórico das primeiras orquestras do Brasil e do mundo e alguns projetos ligados à música clássica, como o Projeto Espiral (1976) e a Bienal de Música Brasileira Contemporânea que este ano vai para a 21ª edição. Ele também falou sobre a inclusão do ensino de música nas grades curriculares em todas as escolas do Brasil, que visa desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos. Também fez menção ao ensino musical nas orquestras da Argentina, onde os ritmos brasileiros samba e baião já estão incluídos no repertório. E brincou: “A Argentina já faz integração e intercâmbio com Brasil há muito tempo”.
O assessor da presidência da Funarte, José Maurício, falou sobre o Portal Funarte Brasil Memória das Artes e direitos autorais e dos Centros da Música, Artes Cênicas, Artes Visuais e Programas Integrados, que integram a instituição.
No período da tarde, o diretor de Relações Internacionais do MinC, Gustavo Pacheco, fez uma leitura da Ata da primeira reunião, quando foram apresentadas as seguintes propostas: criação de uma rede de articulação de diálogo, com o objetivo de ampliar a agenda de circulação de artistas e grupos a outras cidades e países da América Latina, além do local de origem de sua apresentação; criação de um festival próprio, buscando a integração e a transmissão de informações, com a utilização das novas tecnologias; e a criação de um projeto piloto dessas ações, detalhando formato, periodicidade etc.
Giordana García, vice-ministra da Cultura da Venezuela, traçou um panorama do Festival Sonamos Latinoamérica, durante o painel que debateu a criação da Rede de Festivais Mercosul, na área da música. Segundo ela, o Sonamos, que tem grande alcance em seu país, é promovido por organizações independentes, integrando as universidades venezuelanas e disponibilizando partituras ao público via internet. Fabiano Carneiro, coordenador de Dança da Fundação Nacional de Artes falou sobre as iniciativas promovidas pela Funarte, na área de artes cênicas e música, por meio de editais como o Encontros, Seminários, Mostras, Feiras e Festivais 2013; e os que têm apoio da fundação como o Circuito Brasileiro de Festivais Internacionais de Dança, o Iberescena e o Outras Danças. Programas que possibilitam a circulação de artistas e grupos nacionais e internacionais e que contam com a participação de países como Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia.
A criação de uma identidade para o Mercosul Cultural e de uma página eletrônica e um perfil na rede social Twitter foram propostas que obtiveram unanimidade entre os integrantes das delegações. O representante do Equador, Alexander Veja, destacou a importância dessas iniciativas que terão como finalidade abrir caminhos para o Mercosul Cultural, reforçando seu caráter institucional. Mas ressaltou que é preciso traçar um plano de trabalho para que tais iniciativas sejam cumpridas e coordenadas, a fim de que fortaleçam as ações dos países do bloco.
O presidente da DRI/Minc informou que já existe no Ministério da Cultura brasileiro um estudo para a criação de um selo Mercosul Cultural, que será apresentado na Comissão de Economia Criativa.
A criação de um fundo para o Mercosul Cultural foi discutida durante o painel Corredores Culturais. Os representantes do Uruguai, Venezuela e Equador sugeriram a criação de uma política permanente de intercâmbio com projetos de residências artísticas que contemplem professores e estudantes de artes cênicas, formulando um sistema capaz de construir uma cultura de Arte para consumo. O representante do Equador frisou que a memória e o patrimônio devem constituir eixos importantes dessa discussão e sugeriu a criação de comissões que tratem desses temas.
O Programa Multidisciplinar de Residências do Mercosul/Mapa de Residências Artísticas é o tema de discussão do segundo dia da reunião, encerrada na quarta, 13, com uma apresentação de alunos da Escola Nacional de Circo.