Livro de memórias de Sergio Britto é lançado pela Funarte

Fernanda Montenegro e Paulo Brito, no lançamento - foto: S. Castellano. Sergio Britto, em "Jung e eu" (2005). Foto do livro

Com o lançamento do livro Memória a dois, a Fundação Nacional de Artes – Funarte presta homenagem a um dos grandes nomes do teatro brasileiro: o ator e diretor Sergio Britto. A obra foi lançada no dia 2 de março, quarta-feira, no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa do Leblon; e em São Paulo, no dia 7, na Livraria da Vila de Vila Madalena.

Artistas e personalidades da vida cultural das duas capitais estiveram presentes aos eventos.

No Rio, as atrizes Fernanda Montenegro e Jacqueline Laurence estão entre os nomes do teatro, cinema e TV, e de outras linguagens artísticas, que prestigiaram o lançamento. A apresentação na livraria da Travessa foi realizada pelo médico, psicanalista e analista junguiano Walter Boechat  –  que assina o prefácio do livro. Em 2005, Sergio Britto recorreu a ele para ajuda em relação aos conceitos da psicologia de Carl Gustav Jung, utilizados na peça Jung e eu, de Domingos de Oliveira e Giselle Kosovski. O trabalho rendeu a Sergio uma indicação ao Prêmio Shell de melhor ator, naquele ano.

Paulo Brito e Walter Boechat. Foto: S. Castellano

“Sergio encontrou em seu sobrinho Paulo César o ouvido amigo, organizador de ideias, cristalizador de memórias, aglutinador do amor, companheiro constante na procura de seu ser…, define Walter. Ele relembra que, nos encontros com Sergio Britto, pôde descobrir no artista “um discurso vibrante, cativante, puro transporte, a magnética presença de um ator e diretor teatral de personalidade inigualável”. E acrescenta: “Ouvindo-o pude perceber a sabedoria da idade avançada convivendo com a inocência e espontaneidade da criança. Parece-me ser essa a maturidade maior […]. Boechat destaca que, como o “imortal” artista que foi, Sergio foi “sempre um canal perfeito para personagens representantes de imagens arquetípicas do inconsciente coletivo”; e que “ele sempre nos levou às nossas catarses, ás nossas transformações, às nossas curas através de suas performances”. O analista explica que, quando Sergio o procurou, o interesse do ator por Jung vinha já de algum tempo; e que a identificação com as idéias junguianas levou o artista, logo após Jung e Eu, a fazer uma apresentação para a edição de 2006 do conhecido livro autobiográfico do psicólogo, Memórias Sonhos e Reflexões.

Walter acrescenta que, no livro, Sergio “surpreende a todos com sua força criativa. Em momento de extremo sofrimento, busca um caminho inesperado de resgate de sua memória, de suas imagens internas e de sua identidade. Nesses momentos difíceis o gênio de Sergio Britto e o ajuda nesse caminho semelhante ao do teatro, como se houvesse um texto teatral a ser relembrado, em diálogo constante com seu sobrinho Paulo César. Paulo, a escuta amorosa, Sergio a busca de ordem psíquica. […]”. E declara: “Depois de legar para a cultura brasileira esses importantes Diálogos, Sérgio Britto nos deixou órfãos de sua rica presença. Esse ‘Memória a dois’ é sua derradeira obra criativa, uma mensagem de otimismo, força criativa e crença no poder espiritual da vontade”.

O Lançamento em São Paulo também contou com uma apresentação do livro, realizada pelo psicólogo e psicoterapeuta João Bezinelli, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC – SP. Professor e ex-coordenador do curso de especialização Jung e corpo, do Instituto Sedes Sapientiae (SP), Bezinelli leciona também no Curso de Pós- graduação em Psicoterapia Junguiana da UNIP-SP.

O analista Walter Boechat (dir.), apresenta o livro, com o autor. Foto: S. Castellano

Sobre Memória a dois

Escrito entre abril e maio de 2011, meses antes da morte do artista, o livro, de 184 páginas traz também fotos, a maioria do acervo da família do ator. Na obra, Sergio Britto exercita sua memória, relembra momentos de sua vida como a adolescência, os estudos de medicina, parte de sua trajetória profissional, além de movimentos importantes do teatro brasileiro e artistas com quem compartilhou experiências marcantes, como Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Nathalia Timberg, entre outros.

A gerente de Edições da Funarte, Filomena Chiaradia, afirmou que a oportunidade da edição de Memória a dois pela Funarte leva ao público um texto único, “de uma narrativa inesperada, tornando-se, como disse o psicanalista Walter Boechat ao apresentar o livro na ocasião de seu lançamento, ‘a última performance de Sergio Britto”. Filomena ressalta que as edições Funarte cumprem, assim uma de suas atribuições: “materializar narrativas e reflexões artísticas diversas e de inegável valor para a história da cultura brasileira”.

Paulo Brito comenta sua obra

Para o autor, Paulo Brito o livro é um “milagre”. Ele explique: “Sergio estava chegando em casa de uma longa internação, debilitado, convalescendo, quando me fez o pedido: ‘Paulinho, agora você vai organizar o meu pensamento’”. Paulo considera que parte do “milagre” é ele ter entendido o que estaria “por trás” do pedido. “Isso é o que chamo de milagre. Está tudo ali para acontecer, mas foi preciso que Sergio e eu estivéssemos disponíveis. Outro ponto importante foi a Funarte aceitar editar o livro. Sergio e eu sempre desejamos isso. Agradecemos a todos da Funarte […]”, destaca.

Paulo comenta que o texto do livro foi também um exercício para manter a esperança que Sergio tinha de voltar ao palco – “seu maior desejo”, destaca. Durante a criação da obra, Sergio ainda fazia paulo leituras da peça de Tchecov, O Canto do Cisne, que pensava encenar. “Ele tinha paixão por essa peça, e esse desejo ainda esteve presente até quando percebe sua incapacidade em memorizar”, relembra Paulo.

“Diariamente fazíamos exercícios teatrais, exercícios físicos, dizíamos poemas, cantávamos, Sergio eu e Marilia; dançávamos muito. Sergio adorava tudo isso. Precisava se expressar e era necessário manter o seu tempo ocupado”, narra o autor. “Já no fim de sua vida, na sua última internação em dezembro de 2011, Sergio pede que o tire da cama do hospital: ‘Paulinho, para eu ser feliz eu preciso trabalhar na boate, o único lugar do mundo que eu posso ser feliz é a boate ali, ao lado do teatro da Jacqueline Lawrence’. Era o ator que precisava atuar, e quando me ditou esse texto, era um ator em estado de graça!”, resume Paulo

O autor acrescenta que a obra faz parte de todo um projeto da sua família, coordenado por sua irmã Marília Brito. A iniciativa, cujo objetivo é a  preservação da memória de Sergio Britto, inclui ainda a Ocupação Sergio Britto em São Paulo e o Projeto Sergio Britto Memórias, entre outras propostas.

Sergio Britto

Carioca de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, Sergio Pedro Corrêa de Britto nasceu no dia 29 de junho de 1923 e morreu em dezembro de 2011, aos 88 anos. Formado em medicina, ele trocou a carreira pelos palcos e dedicou sua vida ao teatro e à arte brasileira. Sua estreia foi em 1945, interpretando Benvoglio na montagem deRomeu e Julieta, de William Shakespeare, no Teatro Universitário.

Ator, diretor e produtor, Sergio Britto fez parte de importantes companhias do teatro brasileiro, como Teatro do Estudante de Paschoal Carlos Magno, Teatro dos Doze, Cia. Maria Della Costa, Teatro de Arena, Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Foi também um dos fundadores do Teatro dos Sete, nos anos 1950, e um dos sócios do Teatro dos Quatro, na década de 80.

Durante sua carreira, recebeu os mais importantes prêmios de atuação e direção teatral, entre os quais três prêmios, como diretor, porOs Veranistas, de Gorki; Prêmio Molière Especial porRei Lear, de Shakespeare; e Prêmio Mambembe porA cerimônia do Adeus, de Mauro Rasi. Dirigiu algumas óperas, comoLa TraviataeO Guarani.

Na televisão, foi pioneiro do teleteatro como criador, diretor e ator doGrande Teatro Tupi, que produziu mais de 450 peças. Participou de novelas, minisséries e especiais. Na TV Brasil, escreveu, dirigiu e apresentou o programaArte com Sergio Britto, dedicado ao teatro e à arte de interpretar.

Em 2010, lançou sua biografia,O Teatro & Eu – Memórias, publicada pela editora Tinta Negra. O livro recebeu o Prêmio Jabuti 2011 na categoria Biografia.

Memória a dois
Sergio Britto e Paulo Brito
Edição: Fundação Nacional de Artes – Funarte

Preço: R$ 30
184 p.
ISBN 978-85-7507-170-0

Informações sobre aquisição do livro

RJ
Livrarias da Travessa e Livraria Mário de Andrade – Funarte (Rua da Imprensa 16 – Centro, Rio de Janeiro

SP
Livrarias da Vila

A compra também pode ser solicitada através do e-mail: livraria@funarte.gov.br, para envio para todo o Brasil.

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