Cedoc – Funarte revela aspectos importantes da carreira de Umberto Magnani

Texto: Cláudio Felício

Uma breve pesquisa no dossiê de fotografias e reportagens existente no Centro de Documentação e Informação da Funarte (Cedoc) sobre Umberto Magnani traz informações importantes sobre sua trajetória.

Foi ao assistir uma apresentação da peça Os Pequenos Burgueses, de Gorki, com direção de José Celso Martinez Corrêa, que Umberto Magnani decidiu que o seu negócio não era contabilidade, mas sim o teatro. Para poder estudar na Escola de Arte Dramática da USP, no entanto, o então candidato a ator não largou os números de vez. O escritório contábil no qual cumpria jornada integral foi trocado pelo trabalho de meio expediente como caixa de banco. Com a grana garantida para o sustento e o tempo livre necessário para os estudos, ele se formou em 1967.

A estreia profissional aconteceu logo em seguida com a montagem de Este ovo é um galo – texto de Lauro César Muniz – na companhia Ruth Escobar. A partir daí, Magnani não abandonou o seu ofício até seus últimos momentos em vida. Ele sofreu um acidente vascular encefálico enquanto se preparava para gravar cenas da novela Velho Chico, de Benedito Ruy Barbosa, na qual interpretava o Padre Romão, e veio a falecer no dia 27 de abril de 2016, dois dias depois do seu aniversário.

Nesses seus quase cinquenta anos de carreira, Magnani trabalhou no Teatro de Arena, foi assistente de direção de Paulo Autran em Morte Vida Severina e atuou em montagens consagradas de peças como O Santo Inquérito, Concerto Número Um para Piano e Orquestra e Mocinhos Bandidos, entre outros espetáculos. Mas, embora sempre fosse considerado ótimo ator, uma outra fama, por um tempo, eclipsou um pouco seu brilho como intérprete: a de excelente administrador.

“Isso acabou por me prejudicar. Primeiro, porque faltavam administradores e me solicitavam sempre, e também porque como essa atividade é mais bem remunerada que a de ator, eu era às vezes obrigado a aceitá-la por necessidade de sobrevivência”, declarou Magnani na edição do Jornal da Tarde de 1 de fevereiro de 1982.

Justamente na época em que deu essa declaração, Umberto vivia um momento muito especial em sua carreira. Público e crítica foram arrebatados por sua atuação como Guima, personagem de Lua de Cetim, peça de Alcides Nogueira, com direção de Marco Aurélio, que foi encenada na Sala Funarte Guiomar Novaes em 1981. Pela interpretação desse homem pequeno e malsucedido, comerciante de tecidos que esperava o improvável dia em que teria uma cadeia de lojas, Magnani recebeu os prêmios Mambembe e Molière.

Sobre Guima, Magnani costumava de dizer que havia conhecido pelo menos uns 20 tipos parecidos em Santa Cruz do Rio Pardo, sua terra natal localizada no interior de São Paulo. “Numa primeira etapa do trabalho, eu procurei simplesmente imitá-los, procurei seus gestos de fora para dentro até que, automaticamente, senti esse processo se inverter. Já não era eu, um ator fingindo um personagem, mas um personagem verdadeiro que nascia e determinava meu comportamento em cena”.

Ciente de que seu ofício ia muito além da atuação, Magnani nunca deixou de trabalhar pelo teatro. Entre muitas atividades importantes para o desenvolvimento da área, dirigiu a Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp), entre 1972 e 1988, e foi diretor regional em São Paulo da Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen), do Ministério da Cultura, de 1977 a 1990. Ele, como poucos, sabia que o brilho da lua – sem trabalho e dedicação – não podia acontecer.

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