“Teatro Duse: o primeiro teatro-laboratório do Brasil” foi lançado no Rio

Escrito pelo ator, diretor e professor Diego Molina e editado pela Fundação Nacional de Artes, o livro Teatro Duse: o primeiro teatro-laboratório do Brasil foi lançado na noite de terça (17/05), na Livraria da Travessa, no bairro de Botafogo, no Rio, reunindo personalidades da área, público e funcionários da instituição.

Na apresentação da obra, o dramaturgo Bosco Brasil, analisando o período de funcionamento do Teatro Duse, afirmou que a publicação “descortina um momento muito especial, com informações muito preciosas, trazendo contribuição definitiva para um momento que é muito pouco conhecido”. Bosco, que assina o prefácio de Teatro Duse: o primeiro teatro-laboratório do Brasil, falou para o público que lotou o espaço da livraria que “a experiência do Duse foi feita com muita impulsividade, mas com muito cuidado”. “Foi um momento que definiu e deu a cara do fazer teatral no Brasil. O livro dá um salto no entendimento do teatro brasileiro que a gente não tinha; recupera esse momento com muita precisão e muita força teórica e uma pesquisa potente. É fundamental para quem é apaixonado pela história do teatro brasileiro.”

O autor Diego Molina contou que a idéia do livro nasceu quando ele integrou a equipe comandada por Helena Ferrez, então diretora do Centro de Documentação da Funarte, durante um ano, período em que teve contato com os cerca de 25 mil documentos do acervo de Paschoal Carlos Magno, empreendedor cultural que nos anos 1950 agitou as artes cênicas no país.  Diego explica que, após desenvolver a dissertação de mestrado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), em 2009, voltou à Funarte já com o propósito de transformar o material no livro, com foco no Teatro Duse, o teatro-laboratório, montado por Paschoal em sua casa em Santa Teresa e que lançou autores e atores no cenário brasileiro, além de contribuir para a formação de muitos profissionais da área teatral.

Na elaboração da obra, o autor contou com depoimentos importantes de profissionais que passaram pelo  Duse como Othon Bastos, Agildo Ribeiro, Maria Pompeu, que colaboraram para enriquecer o conteúdo da publicação da Funarte. “Paschoal era um grande promotor dele mesmo. Então, como lidar com esse objeto de estudo de uma maneira que revelasse esse trabalho, mas que tivesse um olhar crítico sobre ele? E em cartas e documentos eu consegui pegar um olhar crítico sobre ele”, disse Molina.

Ao comentar sobre o perfil plural de Paschoal Carlos Magno, Diego Molina o descreve como “um ministério da Cultura”. “Desde aquela época, as pessoas se referem a ele – está em livros de história – como fazendo um serviço equivalente ao de um ministério da Cultura. Ele desempenhava a função de um ministro da Cultura, porque não era algo só ligado ao Rio de Janeiro. Ele tinha em todas as regiões do Brasil algum tipo de trabalho: Caravana da Cultura, o Trem da Cultura, festivais de dança, festivais de música, festivais de teatro em Porto Alegre, em Recife, ele realmente pensava de uma maneira maior. Acho que ele levou essa vocação de diplomata para abranger o Brasil inteiro”, concluiu.

O ator Othon Bastos, que frequentou o Duse, contou que, embora como espectador de teatro tenha assistido muitos espetáculos montados por Paschoal, no Teatro do Estudante que funcionava no Teatro Fenix, nunca tinha pensado em ingressar na profissão. Ele disse que foi levado ao Duse por um aluno que frequentava o teatro de Paschoal, depois de vê-lo numa encenação baseada em Othelo, no Colégio Rio de Janeiro, onde estudava. Ele fazia o “ponto” e substituiu Walter Clark no personagem “Iago”, depois que o colega desistiu do papel. Em Santa Teresa, foi recebido por tia Orlanda, uma das irmãs de Paschoal e depois pelo próprio – “ele era uma potência, conhecido mundialmente; já era Cônsul na Inglaterra, conhecido do Michel Redgrave (ator britânico) e todo o teatro da Inglaterra.” A pedido dele, Othon foi a uma varanda usada como palco e disse uma frase: “As rodas rodam pelas ruas da cidade.”

“A única coisa que posso fazer pra você é você ser ouvinte. Você fica como ouvinte aqui na escola. Sempre começam 50 e acabam 15. E na primeira oportunidade você entra e começa a frequentar as classes. Vamos ver se o ‘bicho do teatro’ te pega.”, lhe disse Paschoal. Othon contou que ficou como ouvinte por cinco meses, e foi colega de Agildo Ribeiro, Oswaldo Loureiro, Rogério Fróes, Maria Pompeu, Miriam Pérsia – “era lindíssima”, Silvinha Telles – “já cantava maravilhosamente bem”, Leon Eliachar, Jorge Chaia.

“Fiquei no Paschoal por três anos e estreei em 1951″, continua Othon. “O que me ensinou no Paschoal é que ele não nos deixava estrear logo, você tinha que fazer o bastidor do teatro. Então eu aprendi a iluminação, a sonoplastia. Aprendi a ser diretor de cena, como se faz um trainel (tapadeira ou bastidor) para botar no palco. O que me fascinou é que eu sabia tudo o que estava acontecendo: uma luz, onde me colocar, se o som estava alto ou estava baixo, se a contrarregragem estava em cena perfeita.” Othon Bastos disse que tinha, então, 18 anos, e que a ousadia de Paschoal o encantava. “O Duse apresentava uma peça por mês. Ele lançava autor, diretor, cenógrafo, figurinista.”

Além de Othon Bastos, também estiveram presentes ao lançamento o cenógrafo José Dias; o ator e escritor Sérgio Fonta; os atores Marcius Melhem, Antonio Carlos Bernardes, Maria Pompeu, Carine Klineck; a autora e diretora Renata Mizrahi, entre outros. A Funarte esteve representada pela gerente de Edições Filomena Chiaradia; pela diretora do Centro de Documentação Denise Portugal; pela coordenadora de Comunicação Camilla Pereira, e outros servidores.

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