“Quem inventou o Brasil foi seu Paschoal.” Foi assim, subvertendo o verso da marchinha de Lamartine Babo, que a professora, pesquisadora e crítica teatral Tânia Brandão iniciou a apresentação do livro O Teatro do Estudante do Brasil de Paschoal Carlos Magno, de Fabiana Fontana, lançado na noite desta terça (07/06), na Livraria da Travessa, em Botafogo, Zona Sul do Rio (RJ). Tânia disse que usou o truque da marchinha para driblar sua emoção ao falar da obra.
Tânia Brandão contou que Fabiana Fontana, a autora, chamou sua atenção desde o primeiro encontro porque partilhava com ela a mesma paixão: o Cedoc da Funarte. Disse que Fabiana era uma estudante pronta, em atividade num arquivo de primeira linha, o do Cedoc. E que sua “artimanha” como professora de História do Teatro Brasileiro é apresentar o arquivo do Centro de Documentação, com o objetivo de “converter o aluno incauto para esta confraria secreta de amantes da memória do teatro brasileiro, que encontra no Cedoc/Funarte o seu principal templo”.
A professora fez um relato de como foi seu contato com a história do teatro através de Paschoal Carlos Magno – “um gigante brasileiro que o tempo, de alguma forma, andou tentando transformar em anão” e como o empreendedor cultural, “mito para alguns”, foi “apagado, esfumado para outros”. A pesquisadora disse que ao estudar o teatro brasileiro se deparou com a onda de resistência que se opunha às transformações da cena brasileira de então, com produções ainda muito baseadas no século XIX. E que o TEB criado por Paschoal foi um “golpe mortal” nessas tradições arcaicas, já que o projeto dele propunha recrutar uma nova classe teatral, a estudantil.
Ela também explicou como a pesquisa de Fabiana Fontana mostra que o TEB foi um projeto pessoal de Paschoal, “dotado de profunda organicidade, transformado em obra monumental em sintonia com a possibilidade histórica do momento, vinculado em profundidade com o pensamento a respeito da relação entre Estado e Cultura”. Tânia Brandão completou, dizendo que o livro O Teatro do Estudante do Brasil de Paschoal Carlos Magno é “uma obra preciosa, que honra o teatro brasileiro, honra a história do Brasil.”
A autora, Fabiana Fontana, se disse grata ao pessoal do Cedoc/ Funarte e da Gerência de Edições da instituição pelo empenho e colaboração na realização do projeto, que teve início na própria Funarte, a partir da contratação de estudantes de graduação, como ela à época, para o trabalho do acervo.
O tratamento do acervo de Paschoal Carlos Magno, no Cedoc/Funarte, foi realizado em dois períodos, de um ano cada, conforme explicou Fabiana Fontana. Ela disse que a pesquisa sobre o Teatro do Estudante levou uns seis anos, porque foi o resultado do seu projeto de mestrado e depois, doutorado.
“Os documentos inéditos e a própria história que eu descobri ali não tinham uma bibliografia tão relevante quanto eu acreditava que a história merecia”, disse ela. Fabiana contou que o maior problema para a realização do seu projeto foi o excesso de documentos com que lidou para escrever a história do TEB. A autora afirma que O Teatro do Estudante do Brasil de Paschoal Carlos Magno “participa do conjunto de algumas obras que começam a fazer uma revisão historiográfica sobre o teatro moderno, sobre os marcos, sobre as formas como se deu todo esse processo do teatro brasileiro. E como o TEB foi um dos grupos participantes da inauguração desse momento. Eu vejo como uma das obras bastante importantes pra gente poder entender todo esse processo de modernização do nosso teatro. Todos os documentos e todos os registros de como se deu o processo de produção dos espetáculos, mesmo os planos que não foram realizados, tudo foi muito importante pra gente entender o projeto do Teatro do Estudante do Brasil como projeto artístico, qual a ideologia que ele se afiliava, uma visão mais global dessa iniciativa do Paschoal”, completou.
No lançamento, estiveram presentes pesquisadores e personalidades ligadas ao teatro como Orlando Miranda, ex-diretor do Serviço Nacional de Teatro (SNT) e do Instituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen), além da gerente de Edições, Filomena Chiaradia, e da coordenadora de Comunicação, Camilla Pereira, representando a Funarte, e outros convidados.