O público entusiasmado que lotou na noite de quinta (1º/9) o Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música da UFRJ, no bairro da Lapa, no Rio, foi gratificado por um belo espetáculo. A Ópera do Mambembe Encantado, de Tarcisio Pereira (libreto) e Eli-Eri Moura (música), mostrou à plateia, em grande parte formada por estudantes de música, um trabalho de qualidade refinada, desde o figurino, a iluminação e a coreografia utilizada em cena pelos cantores/atores à execução das peças musicais pela orquestra residente ABSTRAI Ensemble.
Durante os 70 minutos, em que foram divididos o prólogo e um ato, o público acompanhou atento a trama narrada em flashback, envolvendo o triângulo amoroso formado pela malabarista Raquel, o palhaço Carranca e o mágico Alex Sandromagia, artistas do Circo Beleza. A ópera inédita, encomenda pela Fundação Nacional de Artes – Funarte tem ainda mais duas récitas: nesta sexta, 2 e no sábado dia 3, às 19h30, com entrada franca.
O compositor Eli-Eri Moura, autor da música, presente à estreia, contou que levou três meses e meio para compor as peças musicais, além de mais duas semanas na conclusão das orquestrações. A partir da convocação feita pela Funarte para participar com uma obra sua do evento, Eli-Eri convidou seu amigo Tarcisio Pereira, teatrólogo, dramaturdo premiado, autor do romance O Mambembe Encantado, ainda não publicado, para juntos criarem a ópera. E Tarcísio então transformou a história em uma peça teatral e depois no libreto.
Sobre as referências que utilizou na composição da obra, Eli-Eri explicou que buscou unir a experiência como compositor de trilhas sonoras e informações da música nordestina. O músico disse também que habita entre a música de concerto e a música contemporânea, e que se considera um “grande melômeno” – “adoro música tonal, adoro música modal”. “A ópera está no meio disso é uma fusão dessas duas experiências, tanto que a linguagem musical utilizada flutua entre muita coisa que utilizo nas peças para concerto e procedimentos que utilizo nas minhas trilhas sonoras, pois a ópera é contar uma história através da música vocal. E como a história é uma fábula regional, não podia deixar de fazer essas referências regionais, muitas citações e incursões ao universo musical nordestino.”
Eli-Eri disse que compor a ópera em formato de câmara foi também um desafio. “O desafio foi escrever para um grupo pequeno de oito instrumentistas soando como uma orquestra. O grupo que acompanha é um grupo diverso, uma espécie de orquestra em miniatura. Eu procurei fazer com que todos os naipes da orquestra estivessem representados. Nas cordas, a gente tem um violino, um violoncelo e um contrabaixo; nas madeiras, uma flauta, o clarinete que toca também um clarone; e nos metais temos um trompete, mais um percussionista e o piano. Me deu paletas e cores orquestrais bem interessantes.”
O compositor, que é natural de Campina Grande (PB), disse que se sentiu honrado com o convite da Funarte. “É uma honra muito grande. Eu tenho uma história longa com a Funarte, pois eu participo das Bienais (de música contemporânea) desde 1985, e nessa mesmo eu era o compositor mais jovem, tinha 21 anos. E, nesse caso específico, abrir esse evento de ópera que é importantíssimo, o primeiro de ópera que a Funarte faz. Embora a tradição operística seja italiana, européia, mas nós temos nosso jeito brasileiro de contar histórias através de música, de ópera e isso precisa ser explorado. Um evento como esse vem justamente fomentar essa criação. Eli-Eri é também autor de A ópera de Dulcineia e Trancoso, que estreou em 2009, no Festival Virtuose Internacional de Música que ocorre todo ano em Recife (PE).
A Ópera do Mambembe Encantado tem no elenco Flávio leite (tenor), como Carranca; Gabriela Geluda (soprano), como a malabarista Raquel; Homero Velho (barítono), como Alex Sandromagia e Lara Cavancanti (mezzo-soprano), como Ana Beleza, a dona do Circo Beleza. A direção artística é de Mario Ferraro e a direção musical do maestro Carlos Prazeres. A direção cênica cabe a Marcelo Gama, com cenário e figurinos de Ricardo Cosendey. A produção é da Artematriz Soluções Culturais. Realização do Centro da Música da Funarte (Cemus).