Mostra em Pernambuco revela as inquietações do ambiente urbano

"A Especulação Imobiliária" - Daniel Escobar. Foto: Verve Comunicação

A Fundação Nacional de Artes – Funarte/Ministério da Cultura, a Secretaria de Estado de Cultura e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), trazem para a Torre Malakoff, em Recife Antigo, na capital do estado, a exposição A Cidade, as ruínas e depois. O vernissage de inauguração é no dia 6 de setembro, terça-feira, às 19h. A visitação será aberta dia 8. O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Espaços Norte/Nordeste.

A transformação urbana e o momento vivido pelas cidades brasileiras, após anos de crescimento econômico e décadas do legado modernista, são as linhas gerais da mostra. Ela reúne trabalhos de Andrei Thomaz, Daniel Escobar e Marina Camargo, com curadoria de Márcio Harum. A exibição fica no local até o dia 18 de outubro.

Os artistas lançam seu olhar sobre os centros urbanos, como espaços que sofreram diversas transformações nos últimos anos (especulação imobiliária, caos na mobilidade, disputas de território) e que, agora, sentem os efeitos da crise econômica. Já há algum tempo, os três autores tem-se debruçado sobre guias de viagem, mapas urbanos diversos, arquivos de fotografias (que documentam as mudanças da paisagem metropolitana ao longo do tempo), publicidade no espaço urbano. Eles estudaram os mitos urbanísticos, a especulação imobiliária. “Eles fizeram escolhas sobre o que revelar e o que ocultar na urbe. São artistas que pensam e dialogam com o substrato urbano nas suas produções. Todos estão atentos a esse metabolismo das grandes cidades”, pontua Márcio Harum.

As obras retratam e transformam as imagens de paisagens e cenas da cidade, de modo que não é muito possível distinguir realidade e ficção. Este é um ponto comum muito eficiente entre as obras, segundo Daniel Escobar. Para o artista, esse elemento é, por exemplo, capaz de unir obras produzidas por processos totalmente artesanais a trabalhos gerados por programas de computador de última geração. Daniel, Andrei Thomaz e Marina Camargo formaram-se na mesma escola – o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UfRGS) – . Eles têm Porto Alegre como referência, ainda que tenham vivido em outras cidades e tenham percursos artísticos marcadamente distintos. Atualmente, Andrei vive em São Paulo, Daniel na capital gaúcha e Marina entre essa cidade e Berlim (Alemanha).

“O pensamento que norteia a mostra é a metabolização dos espaços urbanos nas grandes metrópoles brasileiras”, diz o curador. “É interessante notar como eles estão trabalhando essa questão da descaracterização da paisagem urbana que tem acontecido em São Paulo, no Recife, em Porto Alegre… É um pensamento sobre o urbano”, comenta.

Ao idealizarem esse novo projeto, o segundo do trio – que desenvolveu em 2010 um outro, intitulado Lugares e Representações –, eles buscaram um espaço urbano novo, onde ainda não tivessem atuado e que estivesse fora do eixo habitual das mostras no país. “Nenhum de nós tinha muito contato com o Recife. Há muito tempo tive uma obra exposta numa coletiva no Museu Murillo La Greca, mas nossa produção pode ser considerada inédita na cidade”, diz Andrei Thomaz. “Para mim, há várias razões nessa escolha. Uma delas é por ser uma cidade que me parece ter um paralelo com Porto Alegre, não por semelhança, mas por serem duas cidades com uma vida cultural ativa e fora de um eixo da região sudeste”, complementa Marina Camargo.

Além disso, a capital pernambucana tinha um espaço interessante e parceiro da Funarte, a Torre Malakoff, edifício que já serviu como um observatório astronômico e que durante muito tempo ofereceu um mirante para a cidade do Recife. “Como nossas poéticas e conceitos de trabalho estão geralmente voltados para questões relacionadas ao contexto das grandes cidades, pensamos que seria interessante projetarmos um universo de discussão acerca da cidade e seus processos de transformação em um local de onde se costumava olhar para a cidade”, pontua Daniel Escobar. O fato do Recife viver um momento especial, no qual a problematização das questões da urbe estão em foco, através, por exemplo, do movimento Ocupe Estelita, também reforçou essa seleção. “Não à toa, Recife é o cenário de O Som ao Redor, filme emblemático do quanto nossas cidades ainda são carregadas por estruturas sociais da época da colonização, ao mesmo tempo que sofrem o efeito da especulação imobiliária”, pontua Andrei Thomaz.

A exposição vai apresentar tanto obras individuais como trabalhos realizados em parceria, especialmente para o projeto. O trio (que prefere não ser visto como um coletivo), também criou o aplicativo As ruínas e depois; produziu uma espécie de guia sonoro da exposição; e, ainda, a documentação visual desta. Esses recursos estendem a abrangência do trabalho para além do espaço expositivo.

Os trabalhos individuais atestam a própria transformação das cidades, vivida ao longo do tempo, através da produção de cada criador. “Se antes o foco estava na forma de representação das cidades, hoje os aspectos políticos da transformação urbana e da representação de espaços, juntamente com os efeitos do tempo, são o centro de atenção. Vemos aqui uma chance de pensar o novo momento social, político e econômico no qual o país se encontra, a partir da produção em arte contemporânea”, dizem os artistas.

O projeto inclui dois encontros com Andrei Thomaz e com o curador Márcio Harum, um no Recife, na própria Torre Malakoff, no dia 20 de outubro; e outro em Olinda (PE), no Atelier Mutirão de Cultura, dia 21. A proposta é conversar com os artistas e com o público locais, abrindo o debate sobre as questões levantadas pela exposição e, ao mesmo tempo, aproximar-se um pouco mais da reflexão sobre a realidade e o contexto urbanos. Também será produzida uma oficina, com até 15 professores da rede pública. Seu objetivo é preparar atividades didáticas, que possam ser desenvolvidas em sala de aula, relacionadas aos temas e trabalhos exibidos; e ainda discutir sobre essas ações. Ao final, será lançado um catálogo, com imagens das obras e do conjunto, com textos críticos de Cristiana Tejo, do curador e da coordenadora do projeto educativo. A obra distribuída para instituições culturais e disponibilizado, em arquivo digital, no site da mostra: http://www.acidadeasruinasedepois.art.br.

Os Artistas

Andrei Thomaz – Porto Alegre (RS), 1981) – artista visual e professor. Mestre em Artes Visuais pela ECA/USP e formado em Artes Plásticas pela UFRGS. Sua produção artística abrange diversas mídias, digitais e analógicas, envolvendo também várias colaborações com outros artistas, tais como performances sonoras e instalações interativas. Entre os prêmios e editais pelos quais foi contemplado, encontram-se: Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014; #1 C.LAB – Blau Projects, com curadoria de Douglas Negrisoli, 2014; Edital de Estímulo à Produção Audiovisual do Espaço do Conhecimento – UFMG 2012; Prêmio de Ocupação dos Espaços da Funarte 2010 (juntamente com Daniel Escobar e Marina Camargo); Edital do Centro Cultural Banco do Norteste 2010; 63º Salão Paranaense – 2009; Prêmio Funarte Atos Visuais – 2007; Prêmio FIAT Mostra Brasil, 2006. Participou de festivais como: Videobrasil (2011), FILE (diversas edições) e outros. Sócio da produtora Mandelbrot, onde atua como programador e coordenador no desenvolvimento de projetos interativos. Vive e trabalha em São Paulo, capital.
Mais informações sobre Andrei Thomaz: www.andreithomaz.com

Daniel Escobar – Santo Ângelo (RS), 1982 – Graduado em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS, sua pesquisa aborda “as paisagens do desejo criadas pelo consumo e pelo entretenimento, a partir da apropriação de objetos ou símbolo ordinários e cotidianos, próprios ao mundo urbano”. Tem produção assídua de mostras coletivas e individuais e residências importantes, em várias cidades do Brasil – com destaque para as mais recentes, realizadas desde 2011 – . Esteve em residência na Casa de Velázquez em Madrid como ganhador da Bolsa Iberê Camargo 2014. Entre suas premiações, destacam-se o Prêmio Aquisição do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (2013), o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2011 (Belo Horizonte – MG) e oPrêmio Fiat Mostra Brasil (São Paulo, 2006). Em 2012, realizou sua primeira exposição individual internacional na RH Gallery, em Nova York. Possui obras em acervos públicos e privados no Brasil e no exterior, incluindo o do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o do Museu de Arte da Pampulha e o do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, além das coleções da Casa de Velázquez (Madri – Espanha) e da Fundação Iberê Camargo, entre outros prestigiados conjuntos de obras.
Mais informações sobre Daniel Escobar: www.danielescobar.com.br

Marina Camargo (Maceió (AL), 1980 – Sua formação se divide entre Porto Alegre (onde tornou-se Mestre em Artes Visuais), Barcelona (Espanha) e Munique (Alemanha), onde estudou como artista bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). Em seu trabalho, “investiga as relações de representação das coisas ou fenômenos do mundo, seja através da relação direta com os lugares ou a partir de referências encontradas”. Entre os diversos prêmios que recebeu, está a bolsa da Fundação Iberê Camargo, para residência na organização Gasworks – Londres (Inglaterra). Tem realizado exposições coletivas individuais com freqüência, com destaque para as mostras realizadas de 2012 a 2015, em várias capitais brasileiras. Participou da Porto Alegre Finisterre, Kultureland, Porto, Portugal Proyector 15, 8, e do Festival Internacional de Videoarte, em Madri, Espanha.
Mais informações: www.marinacamargo.com

Exposição
A Cidade, as ruínas e depois
Andrei Thomaz, Daniel Escobar e Marina Camargo

Curadoria: Márcio Harum. Projeto Educativo: Mônica Hoff. Produção: Marcelo Bressanin e Pedro Ricco

Local: Torre Malakoff – Praça do Arsenal, s/n – Recife (PE)
Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 10h às 17h. Sábados, da 15h às 18h. Domingos, das 15h às 19h
Vernissage de abertura: 6 de setembro de 2016, às 19h
Visitação: De 8 de setembro a 18 de outubro de 2016 (“finissage” de encerramento nesta data, às 19h)

Mais informações: www.acidadeasruinasedepois.art.br
Tel.: (21) 31843180

Agenda de encontros
Recife: dia 20 de outubro – Torre Malakof, às 19h
Olinda: dia 21 de outubro – Atelier Mutirão de Cultura, às 19h

Projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Espaços Norte/Nordeste

Mais informações: Funarte Norte/Nordeste
Reinaldo Freire:
reinaldofreire.naldinho@funarte.gov.br

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