Funarte apresenta novas edições da revista sobre teatro de animação, bonecos e afins, a ‘Móin-Móin’

Da esq. p. a dir.: Adriana Schneider Alcure; Miguel Vellinho; Valmor Níni Beltrame; Angela Casanova; o presidente da Funarte, Humberto Braga; Ana Maria Amaral; e Paulo Balardim. Foto: S. Castellano

A Fundação Nacional de Artes – Funarte apresentou, no dia 1º de outubro, sábado, duas novas edições da Móin-Móin – Revista de estudos sobre teatro de formas animadas, no Teatro Duse, na Casa Funarte Paschoal Carlos Magno, em Santa Teresa, no Rio – espaço dedicado a essa linguagem. A revista, cuja distribuição é gratuita, nas versões impressa e digital – disponível na internet –. é apoiada pela Funarte, que patrocinou a edição nº 15.

Na ocasião do lançamento, foi apresentado ao público o nº 14 da revista – única com este perfil de textos formativos na América Latina e única no Brasil sobre o assunto–. A palestra ficou a cargo do  idealizador e editor da publicação, o Prof. Dr. Valmor Nini Beltrame, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA – USP) e com especialização no Institut International de la Marionnette (IIM), na França. A mesa foi composta por vários convidados cuja atuação está ligada à revista, entre eles o presidente da Funarte, Humberto Braga.

“Além do valor que tem em si mesma, a revista guarda uma memória extremamente interessante. Em 2015, quando fui convidado para o lançamento do número 13, sugeri que fossem chamados vários diretores e coordenadores da Funarte ligados à área teatral. Eles perceberam que a Móin-Móin representa para mim muito mais do que só uma revista. Ela faz parte de um contexto maior, do nível a que se chegou na formação do teatro de bonecos no Brasil”, comentou o presidente. Humberto acrescentou que, para quem acompanha esse progresso desde os anos 1970, como ele, o teatro de animação “teve avanços bastante significativos nesses últimos anos”.  Braga lembrou que, se nos anos 80, havia bastante preconceito contra essa manifestação, hoje ela está presente em diversas universidades de vários estados do país; e que isso se deve muito ao trabalho da Professora Ana Maria Amaral (presente à mesa e, uma das precursoras do teatro de bonecos e formas animadas no meio acadêmico), prestando enfática homenagem à artista. “Esses estudos se espalharam pelo Brasil todo e hoje se chegou a um nível de preparo, de conhecimento e de sistematização das informações sobre essa linguagem que configura panorama muito diferente do que existia há alguns anos atrás. A Móin-Móin reflete tudo isso”, comentou Humberto.

A edição nº 15. O presidente da Funarte, Humberto Braga. Abaixo, o bonequeiro pernambucano Sandro Roberto (Citado no livro), hoje morador de Niterói (RJ), no espetáculo do lançamento, e A edição nº 14. Fotos: S. Castellano e reproduções das capas
O presidente da Funarte resssaltou que, em 2015, a direção do Centro de Artes Cênicas da Funarte definiu que a casa patrocinaria o nº 15 da revista, o qual conta com um artigo da autoria dele – muito antes de se cogitar seu nome para a presidência da Fundação, escrito em momento bem anterior –. Pela escolha do tema dessa edição, Teatro de bonecos – Patrimônio cultural imaterial,  Humberto elogiou o Prof. Dr. Valmor Níni Beltrame (UDESC) – idealizador da Móin-Móin e, juntamente com Gilmar Antônio Moretti (SCAR), editor do periódico – bem como o Conselho Editorial da revista. “Há, neste volume, um memorial do processo (que durou quase 11 anos) de registro do teatro popular de bonecos como patrimônio imaterial. Com diferentes fontes, esse histórico é muitíssimo significativo”, relatou. Vários artigos dessa edição, inclusive o do presidente, narram um pouco do que significou esse encadeamento de fatos, de 2004 a 2015, quando saiu o registro. “Pretendemos lançar essa revista em Brasília e convidar o – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – que já tomou as primeiras iniciativas quanto às políticas de salvaguarda do teatro de bonecos. Porque essa revista pode ser usada como estudo de caso de um processo de registro de bem imaterial. Ela documenta o processo de fundamentação, com um dossiê imenso sobre pesquisas em vários pontos do Nordeste Brasileiro. Isso pode servir para outras modalidades artísticas, como o circo itinerante de lona, por exemplo”.

Segundo Humberto, além da difusão que o registro possibilita, colocando o tema num debate nacional (e até internacional), a maior relevância da oficialização está no seu significado em face da Constituição brasileira: ela obriga o Estado a proteger manifestações regularizadas como bens imateriais – “Ao Estado, e não somente a governos” – frisou o presidente. Ele finalizou com um agradecimento Ao. Prof. Níni e ao Conselho Editorial da revista, ali representado pelos professores e mestres Miguel Vellinho (UniRio), diretor da Cia. Pequod, Dr. Paulo Balardim (UDESC) – diretor da Cia. Caixa do Elefante – e Dra. Ana Maria Amaral (USP). Agradeceu também à bonequeira e produtora Ângela Casanova, por sua contribuição para o teatro de animação “A revista é da maior importância essa linguagem artística, no Brasil e na América Latina. Recursos da Funarte para patrocinar as duas próximas edições já estão designados”, anunciou – acrescentando que a Fundação pretende viabilizar ainda patrocínio para o Festival de Formas Animadas de Jaraguá do Sul (SC). E concluiu, homenageando a memória de Magda Modesto, pioneira do teatro de bonecos no Brasil.

Compuseram também a mesa a Profa. Adriana Schneider Alcure (UFRJ) e a bonequeira e produtora Angela Casanova. Estavam presentes o diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Marcos Teixeira, e Marcelo Mavignier (representando Camilla Pereira, Coordenadora de Comunicação da entidade); Lúcia Regina de Lucena, Presidente da Academia Nacional de Letras e Artes; entre artistas, pesquisadores e estudantes de artes cênicas e público em geral.

Formação profissional no teatro de formas animadas

O Dr. Valmor Níni Beltrame é professor e pesquisador no Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado em Teatro) na Universidade do Estado de Santa Catarina (UdeSC), mestre e doutor em teatro pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA – USP), e especializado no Institut International de la Marionnette (IIM) – França –. Primeiramente, ele apresentou nº 14, cujo tema é: Filosofias da formação profissional no teatro de formas animadas, e disse: “Essa edição foi elaborada em conjunto com a Comissão de Formação Profissional da Unima. Foi lançada na abertura do Encontro Internacional sobre Formação nas Artes da Marionete, realizado em Charleville-Mézieres (França) de 16 a 18 de setembro do ano passado. O tema é muito importante para o Brasil, porque as exigências para se tornar ator-animador, hoje, são mais complexas do que nos anos 1970, quando o teatro de bonecos começou a se profissionalizar em nosso país. Nas últimas décadas, esta arte vem passando por importantes mudanças: o ator-bonequeiro deixou de trabalhar escondido atrás de tapadeiras – assim, o espaço de criação e atuação se modificou e, à vista do público, esse artista precisou dominar novos conhecimentos; o teatro de animação passou a dialogar mais intensamente com outras manifestações artísticas e, com isso, incorporou recursos de artes visuais, dança e cinema; e das novas tecnologias – o que resultou na criação de dramaturgias inusitadas, que romperam com as formas tradicionais de teatro –. Finalmente, a exploração de diferentes materiais, tanto para fazer bonecos e objetos, quanto para construir novos sentidos na cena, passaram a ser uma preocupação no trabalho de vários realizadores. Essas mudanças determinaram um reexame na formação de artistas de teatro de formas animadas”.

O professor destacou que, nas últimas décadas, no Brasil, essa forma de expressão vem superando ideias de senso comum, como: a crença de que seriam suficientes para ator-animador o dom, a experiência e o “saber fazer”. “mais e mais a necessidade de profissionalização fica evidente, enfatizando a urgência do domínio de técnicas, práticas e teorias relacionadas ao ofício –. A formação também implica na reflexão em torno de convicções sobre arte e a construção de identidades e personalidades, e pressupõe constante discussão sobre visões de mundo.”

“Nessa edição nº 14 estão reunidos estudos de 13 pensadores, que abordam diferentes facetas dos problemas relacionados com a formação. São artistas, pesquisadores e pedagogos do teatro, que se dedicam a formação profissional em diferentes contextos e culturas: Rússia, Itália, França, Israel, Polônia, Estados Unidos, Canadá, Argentina, China. Essa diversidade oferece um viés, por vezes, autobiográfico, o que enriquece as reflexões. Diversos autores apresentam seus procedimentos pedagógicos e metodológicos e experiências com jovens artistas”, comentou Níni.

Teatro de Bonecos – patrimônio cultural imaterial

Sobre a edição n˚15 cujo assunto é Teatro de Bonecos – patrimônio cultural imaterial, o pesquisador pontuou: “O que mais motivou esse tema foi o registro do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste como bem cultural do Brasil (o Mamulengo, o Babau, o João Redondo e o Cassimiro Coco), cujo reconhecimento deu-se em maio de 2015, junto ao IPHAN, órgão do Ministério da Cultura. Reunimos um conjunto de estudos, organizados em dois blocos: um deles mostra as diferentes manifestações que se incluem nesse conjunto artístico; e as várias etapas do procedimento de registro; outro bloco apresenta expressões do teatro de bonecos de outros países – algumas delas reconhecidas pela Unesco, como Patrimônio Imaterial da Humanidade”, descreve Níni. Ele acrescentou que a expectativa com o registro do teatro de bonecos nordestino como patrimônio do Brasil é de que isso colabore para que o entendimento de nosso teatro tradicional e popular possa ultrapassar os limites do que pode ser considerado “exótico”, “folclórico” e “localizado”. E de que esse reconhecimento possa “superar as demonstrações de ufanismo nacionalista, visto que é uma ação de salvaguarda, que reconhece a universalidade de sua manifestação enquanto bem cultural”. Nine disse que as várias manifestações teatrais de bonecos do Nordeste “reforçam e colaboram na construção de identidades – uma idéia de pertencimento que vai se esboçando e realizando nas suas condutas e nas poéticas dos espetáculos”, e completou: “a ideia de ‘diferença’, que permeia as personagens do mamulengo e das outras expressões, e o universo em que se situam, pode ser vista como elemento que constrói um jeito de ser – outro modo de ver e estar no mundo”. O professor mencionou que a “diferença” é tratada nesse teatro com irreverência, como “insubordinação diante de uma realidade adversa”, numa forma de arte que, além de singular, denotaria uma resistência a discriminações e injustiças, sociais e políticas. Para Níni, essa linguagem evidencia “que não existe uma cultura, mas muitas”. E que esse pluralismo cultural é básico em qualquer democracia.

A esperança do acadêmico é que essa edição possa alicerçar novos diálogos; e que difunda a conquista dessas formas de teatro de bonecos populares brasileiras como Patrimônio Cultural Imaterial.

Sobre a Móin-Móin.

A Móin-Móin é uma revista universitária, publicada pela Sociedade Cultura Artística de Jaraguá do Sul (SCAR) e pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), atualmente com patrocínio da Funarte – Ministério da Cultura. O trabalho está vinculado ao Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Teatro do Centro de Artes da instituição, em Florianópolis (SC).  Hoje a Móin-Móin tem sido utilizada no Brasil como referência teórica importante, para teses de mestrado e doutorado sobre teatro de formas animadas. A revista tem ainda reconhecimento internacional. Sua importância pode ser medida pelo destaque que recebeu na Encyclopédie Mondiale des Arts de la Marionnette, publicada na França, pela editora L’Étretemps, em 2009.

O nome Móin-Móin é uma homenagem à marionetista Margarethe Schlünzen, que faleceu em agosto de 1978 e, durante as décadas de 1950 e 1960, encantou crianças de Jaraguá do Sul (Santa Catarina, Brasil) com suas apresentações. Ela era sempre recebida nas escolas pelo coro “guten morgen, guten morgen!” (“bom dia, bom dia”), em alemão. A expressão tornou o trabalho da marionetista conhecido como “Teatro da Móin-Móin”.

Baixe todas as edições da Móin-Móin no link:
http://ppgt.ceart.udesc.br/?id=601

Revista Móin-Móin – Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas
Apresentação da Edição nº 14 e lançamento da Edição nº 15

1º de outubro de 2016
Teatro Duse – Casa Funarte Paschoal Carlos Magno
Rua Hermenegildo de Barros, 161 – Santa Teresa – Rio de Janeiro (RJ)

Realização: Sociedade Cultura Artística de Jaraguá do Sul (SCAR) e pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Patrocínio: Fundação Nacional de Artes – Funarte/Ministério da Cultura
Editores: Gilmar Antonio Moreti (SCAR – Vice-Presidente de Artes Cênicas) e Prof. Dr. Valmor Níni Beltrame (UDESC)
Apresentação: Valmor Níni Beltrame

Mais informações sobre a revista Móin-Móin e download gratuito das edições:
http://ppgt.ceart.udesc.br/?id=601

Mais informações
Centro de Artes Cênicas
Fundação Nacional de Artes – Funarte
ceacen@funarte.gov.br

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