Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1847. Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, a artista é “considerada por muitos críticos como uma das fundadoras da música popular brasileira” e “por todos os historiadores como o maior nome feminino” desse grupo de estilos musicais.
Sua obra tem mais de 250 títulos, “reunindo composições das mais variadas modalidades: valsas, polcas, tangos, maxixes, lundus, quadrilhas, fados, habaneras, gavotas, mazurcas, barcarolas, serenatas e algumas músicas sacras”, enumera a fonte. Entre 1885 e 1933, a compositora musicou ainda 77 peças teatrais, das quais cinco ficaram inéditas. O Dicionário destaca que a maestrina “participou intensamente da implantação do “choro” no Rio de Janeiro dos últimos 20 anos do Império” e “de grupos com os principais chorões de então.
Mulher pioneira na composição – o maxixe e a ascensão do choro
Com poucos recursos financeiros, a artista compôs sua primeira obra, a Canção dos pastores, com letra de seu irmão Juca, aos 11 anos. O primeiro sucesso de Chiquinha foi a polca Atraente, de 1877, “composta ao piano, de improviso”, durante uma festa, tendo atingido muito sucesso – assim como outras peças, que lançou em seguida –. Mas a compositora teria continuado em dificuldades financeiras. Em 1880, anunciava seus serviços de aulas particulares, e em colégios, de piano, canto, francês, geografia, história e português.
A partir dessa década, a artista teria enxergado “uma nova oportunidade profissional com o sucesso do teatro musical no Brasil. Depois de ter obras recusadas, devido ao preconceito por ser mulher, “em 1885, conseguiu musicar A Corte na Roça – o primeiro espetáculo com trilha composta por uma mulher (segundo um jornal da época) –. A pesquisadora Carla Aranha comenta: “A autora chegou a ser chamada de ‘Offenbach de saias’. A partir de então, conseguiu impor-se no meio teatral. Levou maxixes, polcas e outros ritmos, aos teatros até então, destinados à ópera e a opereta (in: Chorinho brasileiro – Onde tudo começou). Segundo a autora, “Embora as canções do espetáculo ainda não se classificassem como choro, a composição Um maxixe na Cidade Nova apresentava pela primeira vez no teatro o maxixe, (ritmo e dança “primos” do choro) e, “a partir daí, o caminho ficou aberto para a ascensão desse gênero”.
Chiquinha e o violão, o abolicionismo e o carnaval
O Dicionário Cravo Albin registra que, em 1886, Chiquinha Gonzaga começou uma campanha pela “revitalização do violão”, promovendo reuniões de violonistas de vários bairros cariocas.
Desde essa época, o sucesso da artista aumentou. Ela Empenhou-se no abolicionismo, tendo participado de uma campanha para arrecadar fundos para a libertação de escravos (para a qual escreveu e editou a música Faceira). Foi inclusive ameaçada de prisão por ter integrado esse movimento. Mais de um século depois, em 2009, foi descoberto que a mãe de Chiquinha era filha de uma escrava, alforriada ainda quando bebê.
Em 1899, a maestrina compôs a primeira marcha de carnaval: Ó Abre Alas, para o bloco Rosa de Ouro, “tornando-se pioneira na produção carnavalesca e antecipando-se em 20 anos à fixação do gênero”, diz o Dicionário da MPB. O Rosa de Ouro venceu o desfile carnavalesco de 1899. A música foi sucesso desse estilo, de 1901 a 1910, “permanecendo até hoje como símbolo e referência do carnaval carioca”.
Entre 1902 e 1910, Chiquinha Gonzaga fez várias viagens à Europa, onde apresentou-se. Em Portugal, tornou-se bastante conhecida do público, ao musicar várias peças lusas, Segundo Geysa Boscoli, a maestrina ficou também conhecida no Brasil como “Madrinha de todos os valores novos:
Em 1914, gravou uma série discos com seu grupo na Odeon. Em 1917 fundou, juntamente com Viriato Correia, Raul Pederneiras e outros, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
Seu último trabalho é de 1933. Ela recebeu, depois de sua morte (em 28/02/1935), muitos tributos – Entre eles um site, lançado em 2011, com o Acervo Chiquinha Gonzaga, idealizado pelos pianistas Alexandre Dias e Wandrei Braga.
A data de 17 de outubro, aniversário da compositora, foi estabelecido como Dia Nacional da MPB, em 2012.