Premiado pela Funarte, ‘Camille Claudel’ está em cartaz em SP

Espetáculo 'Camille Claudel'. Foto: divulgação.

O espetáculo Camille Claudel, escrito, dirigido e interpretado por Ceronha Pontes, apresenta o gênio da escultora francesa, impresso em sua obra e em sua personalidade.  O espetáculo – que já circulou por diversas cidades do Brasil – faz curta temporada em São Paulo, capital, com apresentações do dia 18 ao dia 21 de outubro, às 21h, no Viga Espaço Cênico (Pinheiros). No dia 20, quinta-feira, após a apresentação, haverá um debate sobre o tema “arte e loucura”.

Camille Claudel nasceu na França, em 1864, em um mundo dominado pelos homens, e passou os últimos 30 anos de sua vida internada num manicômio, sem que fosse, de fato, louca. No espetáculo, a personagem desgasta-se pelos anos de reclusão forçada e pelo abandono, amargurada pelo pouco crédito que lhe deu a sociedade francesa e ressentida com Rodin, que não a assumiu como esposa, nem a defendeu quando ela foi acusada de copiar a arte do mentor.

No espetáculo, à medida que Claudel é revelada, rudimentos do ofício de esculpir se materializam no corpo da atriz, com o barro e a argila. “Quis que meu corpo pudesse representar as obras de modo que a legião de criaturas extraordinárias atravessasse o gestual com naturalidade”, diz a atriz. O cenário faz referência ora ao ateliê, ora ao antigo asilo de Montdevergues e remete também ao Inferno (A divina Comédia, Dante Alighieri), que inspirou a obra Porta do Inferno, de Auguste Rodin.

A narrativa não segue uma ordem cronológica e procura ultrapassar o caso amoroso com Rodin – que entrou para a história e ofuscou a obra da escultora. Para Ceronha, “os mecanismos da repressão são terríveis. O que dizer da violência exercida sobre um espírito livre e revolucionário que ousou instalar-se no corpo de uma mulher? Você se calaria? Eu também não! Camille foi banida da sociedade por ser genial, por ousar desafiar o talento dos homens em uma época em que as mulheres não eram aceitas na escola de Belas Artes”.

O debate Arte e loucura

Após a apresentação do dia 20 de outubro, quinta-feira, o público será convidado a participar do debate, que contará com a presença da Escola Brasileira de Psicanálise e do Instituto A Casa – Desenvolvimento e Pesquisa da Saúde Mental e Psicossocial.  Ceronha Pontes propõe uma conversa sobre questões atuais, como a luta antimanicomial e as condutas médicas. Para a intérprete, “a arte e a loucura são vizinhas, uma vez que são modos diferentes e quase sempre incômodos de enxergar e de exercer a realidade”.

Sobre a atriz

Nascida em Tamboril, interior do Ceará, Ceronha Pontes é formada em filosofia e teatro pelas universidades Estadual e Federal do Ceará. A atriz também estudou no Colégio de Direção Teatral (1997-1999), do Instituto Dragão do Mar, e fez estágio no Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), em São Paulo, dirigido por Antunes Filho (2002). Atuou em Pouco me importa se tu me amas. Eu sou Duras!, monólogo sobre Marguerite Duras, com direção de Claudio Kovacic, Os Iks, de Peter Brook, com direção de Celso Nunes, Camille Claudel, de sua autoria e direção, Minha irmã, de Marcos Barbosa, com direção de Pedro Domingues, entre outros. Atualmente, radicada em Recife (PE), faz parte do coletivo Angu de Teatro, tendo se tornado referência na arte dramática nos palcos e no cinema, com destaque para Essa febre que não passa, de Luce Pereira, com direção de André Brasileiro e Marcondes Lima, e A mulher biônica, de Armanda Praça.

O encontro com Sakuntala

Apesar de ser filha de escultora, Ceronha só atentou para a obra de Claudel depois dos vinte anos. “Até então, tudo o que eu sabia era que ela tinha sido amante de Rodin”, diz a atriz. Em 1997, uma amiga lhe mostrou a imagem de Sakuntala, obra da escultora. Depois disso, fotos, cartas e documentos aproximaram a atriz-criadora do universo de Claudel: “foram nove anos de gestação e eu sabia que, antes de levar essa história para o palco, precisaria amadurecer como pessoa, como artista”. Camille Claudel estreou em 2006 e recebeu o prêmio cearense Destaque do Ano. A peça foi retomada em 2013, em Recife (PE), 100 anos após a internação e 70 anos após a morte da escultora. Em 2014, Ceronha recebeu o Prêmio APECEPE de Melhor Atriz, no 20º Janeiro de Grandes Espetáculos.

Sobre Camille Claudel

A escultora francesa apresentou aptidão para o ofício desde a primeira infância, incentivada apenas pelo pai. Seu talento impressionou Auguste Rodin, escultor oficial do governo francês, que a admitiu como aprendiz. Rodin e Claudel tornaram-se amantes, mas o relacionamento conturbado deixou marcas profundas e irreparáveis na artista. Desorientada, ela passou a nutrir por seu amante um misto de amor e ódio, que a levou a ser diagnosticada como esquizofrênica. A separação do casal, a morte do pai, o desprezo da mãe e da irmã, a indiferença de seu irmão e o reconhecimento tardio dos críticos de arte aumentaram o sofrimento da escultora, que faleceu em 1943, aos 79 anos. Claudel foi interpretada no cinema por Juliette Binoche e Isabelle Adjani.

Espetáculo Camille Claudel

Projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014

De 18 a 21 de outubro. De terça a sexta, às 21h.

Viga Espaço Cênico

(Rua Capote Valente,1323, Pinheiros)

73 lugares

Duração: 60 min. Classificação etária: 16 anos.

Ingressos: R$20 (meia-entrada: R$10)

Ficha técnica

Dramaturgia, direção e atuação: Ceronha Pontes | Concepção do cenário: Yuri Yamamoto | Confecção do cenário: Yuri Yamamoto, Ceronha Pontes, Gustavo Araújo e Sr. Isaque | Concepção de iluminação: Walter Façanha | Operação de luz: Sávio Uchôa | Sonoplastia: Ceronha Pontes | Operação de som: Tadeu Gondim | Figurino: Ceronha Pontes | Orientação: Marcondes Lima | Confecção de figurino: Maria Lima e Antônia Castro | Coordenação de produção: Tadeu Gondim  | Produção executiva: Rodrigo Lucena | Produção local em São Paulo: Fernanda Moura / Palimpsesto Produções Artísticas | Assessoria de imprensa: Isabella Menezes / Palimpsesto Produções Artísticas  | Apoio: Planeta’s Restaurante, Cantina Luna Di Capri, Cantina Piolin, Apfel Vegetariano | Apoio institucional: Escola Brasileira de Psicanálise, Instituto A Casa – Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa da Saúde Mental e Psicossocial | Incentivo: Prêmio Myriam Muniz/Funarte | Realização: Ceronha Pontes, MC Apoio, FUNARTE, Ministério da Cultura e Governo Federal

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