Instalação ‘Monumento’ é inaugurada em Brasília

Carros destruídos simbolizam, em instalação artística, a falência das utopias. Foto: Ismael Monticelli/divulgação

Os artistas visuais Adriano Guimarães (DF), Fernando Guimarães (DF) e Ismael Monticelli (RS) inauguram na quarta-feira (15), na Marquise/Entorno do Complexo Cultural Funarte Brasília, a intervenção Monumento, projeto contemplado no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais.

Elaborada especialmente para o local, Monumento é uma espécie de jardim feito de restos de automóveis e de elementos que evocam a paisagem da cidade. Neste trabalho, os três artistas – que regularmente se encontram para realizar trabalhos em conjunto – convidam a uma reflexão sobre a modernidade e seus ideais de progresso, velocidade e dinamismo. A criação de Brasília e o desenvolvimento da indústria automobilística no país embasam, também, a construção da obra, aberta à visitação até 2 de abril, de terça a domingo, das 10h às 21h.

Com acompanhamento crítico das curadoras Daniela Name (RJ) e Marília Panitz (DF) o trabalho, como explicam seus criadores, “apropria-se do significado corriqueiro da palavra monumento – construção com finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante – e da sua intrínseca relação com Brasília, a cidade dos monumentos”. A obra utiliza como matéria-prima restos de veículos acidentados, enfocando uma estratégia, ética e estética, recorrente na poética dos três artistas: a valorização do que habitualmente é considerado desimportante ou desprezado pelo senso comum.

Nesta instalação, os criadores direcionam seu olhar para Brasília – lugar, segundo eles, onde ideologia, interesses econômicos e arquitetura estão imbricados desde a sua concepção. “Se Brasília é a cidade-síntese de nossa modernidade como uma espécie de ruína de futuro, talvez o carro seja o maior vestígio dessa ruína”, refletem eles. “A indústria automobilística foi uma das principais plataformas do programa de governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), não apenas no que diz respeito à economia e à política, mas também à imagem de Brasil idealizada durante esse período. O veículo – literal e metafórico – pode nos transportar para a reelaboração dessa história”, ponderam.

Ao utilizar o carro acidentado como escultura do acaso, a intervenção propõe uma visão crítica sobre um fluxo, tão naturalizado que já se tornou invisível, que vai em alta velocidade da produção em massa ao descarte, por meio de uma distribuição acelerada. A expectativa é de que esses restos abandonados e repletos de narrativas possam adquirir visibilidade ao revelar, quando relocados, o avesso de uma utopia. “Adriano, Fernando e Ismael estão lidando com um anticarro e transformando estes restos de velocidade em jardim. Lampejo de poesia”, afirma a curadora Daniela Name.

Monumento, para Daniela, é feito não só dessas inversões, mas também de muitas condensações: da história de Brasília, da história da arte moderna, da história dos próprios artistas envolvidos. “Eu vejo nessa intervenção lastros de trabalhos que os três fizeram juntos e separados. Ao criarem seu próprio eixo com esses desastres, é como se eles investissem, mais uma vez, na necessidade de paralisia, de silêncio e de contemplação para redesenhar metas e mapas. Menos veloz e mais opaca, essa jornada talvez seja a única cartografia possível em meio aos destroços”, diz a curadora.

Para Marília Panitz, criar uma intervenção que coloca o carro desincorporado de sua funcionalidade é, ainda, “fustigar a ideia de retomar um devir que nasceu fadado ao descarte”. A obra – analisa ela – está organizada no espaço externo, em um jardim, constituindo um desenho de instalação a partir dos jardins japoneses, que carregam a ideia de morte – não como saudade ou memória, mas como forma de contemplação sobre a existência. Para Panitz, esta é uma experiência estética de lidar com a ausência que deve ser observada e sentida. “Não existem detalhes a observar e apreender, e sim outro tempo de visão que se permitir. Essa tensão é o que dá à obra o critério de monumento: um estar para refletir”, sentencia.

O projeto oferecerá ao público duas oficinas sobre questões relacionadas ao trabalho, e contará com o lançamento de um catálogo ao fim da exposição, quando haverá também uma conversa seguida de visita à obra, conduzida por Marília Panitz e pelos artistas.

Sobre os artistas
Adriano e Fernando Guimarães | Brasília/DF: artistas visuais, diretores e professores. Apresentam desde 1989 trabalhos em teatro, performance, artes visuais e dança. Realizaram diversas exposições individuais como: Quase nunca sempre o mesmo (Alfinete Galeria, Brasília/DF, 2014); Cheio/vazio (Künstlerhaus Mousonturm, Frankfurt/Alemanha, 2013); No singular. Nada se move, curadoria de Marília Panitz (Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ; Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; SESC Belenzinho, São Paulo/SP. 2012-2013); Juegos – Performances (MARCO, Museo de Arte Contemporânea de Vigo, Espanha, 2005); Dupla exposição, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2003); e Felizes para sempre, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ; Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; Solar do Barão, Curitiba/PR. 2001-2000).
Participaram de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior como: Frestas – Trienal das Artes, curadoria de Josué Mattos (SESC Sorocaba, São Paulo/SP, 2014); Transperformance, curadoria de Lilian Amaral (Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro/RJ, 2011); Brasília Síntese das Artes, curadoria de Denise Mattar (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2010); HiPer>relações eletro//digitais, curadoria de Vitoria Daniela Bousso (Santander Cultural, Porto Alegre/R, 2004); Panorama da arte brasileira 2003 – Desarrumado 19 desarranjos, curadoria de Gerardo Mosquera (Museu de Arte Moderna, São Paulo/SP; Paço Imperial, Rio de Janeiro/RJ. Museu de Arte Moderna Aloísio de Magalhães, Recife/PE; MARCO, Museo de Arte Contemporânea, Vigo/Espanha; Museo de Arte Del Banco de La República, Bogotá/Colômbia; 2003-2008); A trajetória da luz na arte brasileira, curadoria de Paulo Herkenhoff (Itaú Cultural, São Paulo/SP, 2001); The theatre of installation, curadoria de Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley (Museum of Installation, Londres/Reino Unido, 2000); e 21ª Bienal Internacional de São Paulo, curadoria de João Cândido Galvão (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo/SP, 1991).
Ismael Monticelli | Porto Alegre/RS: artista visual e pesquisador. Bacharel em Artes Visuais (UFRGS, 2010) e mestre em Artes Visuais (UFPel, 2014). Realizou exposições individuais como: Le Petit Musée – Sala 1, 2 e 3, curadoria de Raphael Fonseca (Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro/RJ, 2016); Todas as coisas, surgidas do opaco, curadoria de Luisa Duarte (Santander Cultural, Porto Alegre/RS, 2014); A Paixão faz das pedras inertes um drama (Goethe-Institut, Porto Alegre/RS).
Participou de exposições coletivas como: Vértice, curadoria de Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana (Centro Cultural Correios, São Paulo/SP, 2016; Museu Nacional dos Correios, Brasília/DF, 2015; Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Mensagens de uma nova América – A poeira e o mundo dos objetos, 10ª Bienal do Mercosul (Usina do Gasômetro, Porto Alegre/RS, 2015); Ficções, curadoria de Daniela Name (Caixa Cultural, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Situações Brasília, curadoria de Cristiana Tejo, Evandro Salles e Ricardo Sardenberg (Museu Nacional da República, Brasília/DF, 2014-2015); 4º Prêmio EDP nas Artes (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP, 2014); Da matéria sensível, curadoria de Bruna Fetter (Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2014); Homem cultura natureza – Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, curadoria de Mariano Klautau Filho (Casa das Onze Janelas, Belém/PA, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013; SESC Belenzinho, São Paulo/SP, 2013; e Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, 2012); Outras coisas visíveis sobre papel, curadoria de Paulo Miyada (Galeria Leme, São Paulo/SP, 2012), 41º Novíssimos, curadoria de Ivair Reinaldim (Centro Cultural Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2011); e mostra coletiva Olheiro da arte, curadoria de Fernando Cocchiarale (Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro/RJ, 2010). Foi destaque na seleção da Bolsa Iberê Camargo 2011 e premiado no Festival de Fotografia HTTPpix (Instituto Sérgio Motta, São Paulo/SP, 2010).

Monumento– instalação de Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli
Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais

Abertura: 15 de fevereiro | Quarta, às 17h
Visitação: de 16 de fevereiro a 2 de abril | De terça a domingo, das 10h às 21h

Classificação etária: livre
Gratuita

Local: Marquise/Entorno do Complexo Cultural Funarte Brasília. Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural, Brasília, DF (entre a torre de TV e o Centro de Convenções)

Informações:(61) 3322-2076; 3322-2029
Informações sobre o projeto e contatos:
Site: www.projetomonumento.com.br
Email: projetomonumento@gmail.com
Redes sociais: www.facebook.com/projetomonumento | www.instagram.com/projetomonumento

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