Conchas, fogo, fuligem e grafite ganham corpo na exposição ‘Poema 193’

Diferentes processos de queima evocam, em mostra, vivências estéticas e sensoriais. Foto: Diego de Santos/divulgação

Contemplada pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais, a exposição Poema 193, do artista plástico Diego de Santos, vai ocupar até 2 de abril a Galeria Fayga Ostrower, do Complexo Cultural Funarte Brasília. A mostra, composta por desenhos, fotografias e vídeos, convida os visitantes a ativarem sua vivência estética e sensorial. A vernissage está marcada para esta quarta (15), às 18h, com entrada aberta ao público.

A concepção de Poema 193 toma por base um intenso processo experimental. Nele, Diego de Santos aciona o imaginário da concha, da casa e do arquétipo de morada, e o confronta com o fogo e suas simbologias para discorrer poeticamente sobre questões que permeiam tanto o campo da intimidade, quanto o dos conflitos sociais.

As imagens em vídeo reproduzem registros de conchas – em analogia com a estrutura de um lar – em chamas. Esta, de acordo com o artista, é uma forma de tratar poeticamente a questão dos incêndios criminosos que atingem favelas e moradias precárias. Não é casual, portanto, a presença do número telefônico dos bombeiros – 193 – no título da exposição.

Os ruídos que se ouvem nas gravações, explica ainda o artista, foram captados no entorno do ateliê (latido de cães, canto dos pássaros, aviões em trânsito, etc.) com a proposta de, numa edição em slowmotion, darem lugar a “uma realidade distorcida e medonha. É como se o incêndio ganhasse voz, tornando-se, então, corpo testemunha de si mesmo”, afirma.

“A exposição é um dos resultados dos processos de experimentação do projeto Poema 193. Todos os elementos, suas simbologias e conexões já eram, de certa forma, recorrentes na minha produção”, conta Diego. O artista revela ser um velho desejo seu usar algumas conchas que colecionava para uma proposição artística. Em associação com o fogo, a obra relaciona estes objetos colhidos no mar a uma problemática social: os incêndios criminosos.

Para realizar os desenhos expostos na mostra, o artista utiliza a técnica de fixação da fuligem e diferentes processos de queima, e ainda lança mão das condições climáticas naturais e da parafina. “A superfície do papel, posicionada acima da chama da lamparina, recebe toda a fuligem liberada pelo fogo e nunca é possível determinar a imagem a ser gerada. Em alguns momentos, antes de fixar a fuligem com verniz, submeto aquele desenho à ação do lugar: esqueço-os na parede ou no chão para que insetos caminhem sobre eles, deixando rastros; aproveito raros serenos, deixando que gotículas de água da chuva fina intervenham sobre a fuligem. Sujeitar os trabalhos a situações promovidas pelo entorno faz de Poema 193 um irrecusável convite à realização conjunta: eu e os efeitos do espaço ao redor”, esclarece.

Durante o período de exposição, uma ação educativa porá mediadores à disposição do público. O acervo incentiva, ainda, a inclusão social através do acesso à maquete tátil e obras com descrições em áudio e em braile.

Sobre o artista:
Diego de Santos [Caucaia – CE, 1984] é formado em Artes Plásticas pelo IFCE e expõe desde 2005. Vive e trabalha em Caucaia e em Fortaleza. Este ano, foi contemplado com o Prêmio de Criação em Artes Visuais de Teresina, que consistiu em uma residência artística na cidade por três meses, e como resultado final o projeto À margem toda vida, percorrido de bicicleta de Teresina a Parnaíba, usando a estrada como um laboratório a céu aberto. Em 2014 ganhou o prêmio PIPA (Prêmio Investidor Profissional de Arte), o mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais, na categoria Online Popular e produziu o projeto Lar é onde ele está, pelo Porto Iracema das Artes – Escola de Formação e Criação do Ceará. Recentemente, foi premiado no Salão de Artes de Mato Grosso do Sul (edição 2013), além de ter sido premiado também no 8º Salão de Arte SESC Amapá, em 2010. Já participou de edições de feiras como SPArte e ArtRio. Tem obras no acervo do Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza), da Galeria Graça Landeira (Belém), Amparo 60 (Recife) e de vários galeristas, colecionadores e curadores no Brasil e no exterior.

Sobre a curadora:
Yana Tamayo [Brasília, 1978] é artista visual, educadora e curadora independente. Desde 2015 é gestora da Nave arte | projeto | pesquisa, espaço independente onde desenvolve projetos de pesquisa e formação em arte, curadoria e execução de exposições. Doutora em Arte na linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília – UnB (2015), é mestre pela mesma instituição e linha de pesquisa (2009) e especialista pela Universidad Complutense de Madrid (2006). Graduou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFMG (2003). Foi professora na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (2009-2010) e professora no curso de Bacharelado em Artes Visuais da Universidade de Brasília como bolsista Capes/REUNI durante os anos de seu doutorado. Como artista, produz e expõe com regularidade desde 2003. Vive e trabalha em Brasília.

Exposição Poema 193
Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais

Artista: Diego de Santos | Curadoria: Yana Tamayo

Abertura: 15 de fevereiro | Quarta, às 18h
Visitação: de 16 de fevereiro a 2 de abril | De terça a domingo, das 10h às 21h
Gratuita

Local: Galeria Fayga Ostrower do Complexo Cultural Funarte Brasília
Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural, Brasília, DF (Entre a Torre de TV e o Centro de Convenções)

Informações: (61) 3322-2076 / 3322-2029
www.funarte.gov.br

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