Ator Igor Leal estreia solo “Espécie” na Funarte MG

Primeiro solo do ator Igor Leal, Espécie é um trabalho híbrido que caminha pelo teatro, performance e instalação. Uma experiência que usa as sexualidades como via de expressão artística, ampliando noções de vida e prazer para transcender categorias sociais de sexo e amor. A montagem, uma cocriação do coletivo BEIJO no seu PRECONCEITO e da plataforma artística O QUE VOCÊ QUEER, faz curta temporada na Funarte MG, em Belo Horizonte, de 1 a 4 de junho, com sessões às 21h, de quinta a sábado; e às 20h, no domingo. Os ingressos custam R$12 (inteira) e R$ 6 (meia-entrada). A direção é de Fernanda Branco Polse.

A partir da vivência LGBTIQ+, e com referência e investigação na pós-pornografia, movimento de expressão da sexualidade em que são ampliadas as sensações e possibilidades do corpo e que buscam dinamizar as concepções e vivências de gênero e sexualidade, a dramaturgia de Ana Luisa Santos instaura um rito que evoca uma divindade não nomeada para nos indagar sobre como vemos nossos desejos, o prazer e a alteridade no mundo contemporâneo. A partir de uma perspectiva queer e pós-pornô, Espécie busca desnaturalizar as identidades sexuais e de gênero.

A construção dramatúrgica reflete as práticas artísticas neoliberais, o esforço contemporâneo de combate ao fundamentalismo religioso e que reivindica o exercício democrático da construção política, indagando-nos sobre os lugares específicos e formatos de criação. O trabalho propõe uma cena expandida que borra fronteiras entre teatro e performance. Em cena, Igor Leal experimenta novos formatos de relações e de encontros entre artistas e espectadores. Nas aproximações entre arte e ativismo, o trabalho dialoga com a obra Manifesto Contrassexual, de Paul Preciado, que aponta o sexo como estratégia política. As leituras do filósofo espanhol serviram como importante referência para o processo de criação, ampliando as possibilidades de abordagem das sexualidades no teatro contemporâneo.

A equipe de criação conta com outros colaboradores e pesquisadores no campo de corpos dissidentes, dramaturgia de performance, linguagens híbridas e ritual. A montagem tem codireção e preparação corporal de Benjamin Abras; trilha sonora original do músico Barulhista, e desenho de luz de Jésus Lataliza. Além disso, Espécie compartilhou seu processo criativo com o público, em apresentação no PERFURA – ateliê de performance, no Sesc Palladium.

A pesquisa cênica (des)construiu uma materialidade corporal subversiva ao trabalhar com partes do corpo não-hegemônicas, compondo um corpo vivo que escapa e engana os modelos subjetivos do neoliberalismo. Esse corpo instaura uma relação de intimidade com os espectadores, em que plateia/cena, dentro/fora, corpo/mundo se confundem e juntos vão construindo uma subjetividade transgressora, numa zona sexo-poética que inscreve os espaços e tempos do sexo nas territorialidades da cena teatral, intervindo diretamente sobre as visualidades que contam como sexualmente visível, ou sexualmente possíveis.

Sobre Igor Leal
A trajetória artística de Igor Leal se aproximou da atividade política em 2008, durante o curso de Graduação em Psicologia da UFMG, quando foi cofundador do GUDDS! (Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual). Na época, Igor também era estudante do curso técnico de teatro do CEFAR (Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado).

Desde então, o artista se dedica ao exercício de práticas artísticas aliadas a movimentos sociais, atuando na mobilização pelo respeito à diversidade de gênero e sexualidade. Em 2016, tornou-se membro da Frente Autônoma LGBT, organização que reúne ativistas e movimentos LGBT de Belo Horizonte e arredores.

Espécie foi motivado pela vivência do artista Igor Leal com o workshop Práticas Performativas em torno dos corpos dissidentes, organizado pela Bienal de Performance de Buenos Aires pela Post-op (Espanha), em 2015, e ganhou forma após um diálogo entre as plataformas BEIJO no seu PRECONCEITO e O QUE VOCÊ QUEER – coletivo de Ana Luisa Santos e Fernanda Branco Polse, que assinam a dramaturgia, figurino e direção da peça.

A colaboração entre as plataformas iniciou-se em 2015 no AFAZERES QUEERS (Teatro Espanca!) e vem se estabelecendo através de projetos como a TRANS RESIDÊNCIA EXPERIMENTO QUEER, que aconteceu no Galpão Cine Horto durante a 16ª edição do Festival de Cenas Curtas, em parceria com a plataforma This is noT, de Guilherme Morais. A colaboração entre os coletivos também organizou uma ocupação queer na praça Afonso Arinos na região central de BH : a QUEERMESSE, arraial queer na Virada Cultural de BH 2016.

Sobre Fernanda Branco Polse
Natural de Londrina (PR), Fernanda Branco Polse morou por dez anos em Belo Horizonte (MG), onde se formou em Jornalismo pela PUC-MG e em Artes Plásticas pela Escola Guignard (UEMG). É pós-graduada em Movimento e Ação: A Arte da Performance pela FAV – Faculdade Angel Vianna (RJ). Em sua investigação artística, se interessa pelos discursos da sexualidade, gênero e humor. Seus trabalhos podem ter diversos formatos e mídias, dentre elas vídeo, fotografia, performance, texto e música. Integra a dupla de performance Rocha & Polse, com a qual já se apresentou em exposições em diversas cidades, como São Paulo, Bogotá, Los Angeles, Montreal, Amsterdã. É também proprietária da Coelha Produtora e das Edições O QUE VOCÊ QUEER, com a artista Ana Luisa Santos. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

Sobre Ana Luisa Santos
Ana Luisa Santos é performer e escritora. Mestre em Comunicação Social/UFMG e Pós-Graduada em Arte da Performance/FAV, atua também como curadora em artes da presença na realização de exposições e residências artísticas, núcleos de pesquisa e criação, atividades de formação e política. Desenvolve trabalhos para teatro e dança, com destaque para dramaturgia e figurino. É idealizadora do Perfura Ateliê de Performance e codiretora da plataforma de publicações independentes O QUE VOCÊ QUEER. Vive e trabalha em Belo Horizonte (MG).

BEIJO no seu PRECONCEITO
O coletivo mineiro BEIJO no seu PRECONCEITO possui, como linha de pesquisa, a criação de trabalhos artísticos que friccionam dimensões estéticas, éticas e políticas na sua linguagem. O BEIJO surgiu em 2014, quando Igor Leal e Will Soares realizaram uma intervenção de mobilização pelo respeito à diversidade de gênero durante o carnaval de Belo Horizonte, pregando lambes pelas ruas da cidade.

Em setembro do mesmo ano, o coletivo estreou a cena curta Não Conte Comigo Para Proliferar Mentiras, dirigida por Alexandre de Sena, e selecionada pela crítica para compor a temporada das mais votadas do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. No ano seguinte, o BEIJO criou a “Marcha da Diversidade”, bloco carnavalesco que desfila com intuito de sensibilizar foliãs e foliões no combate à homofobia, à transfobia e à violência sexual e de gênero.

Ainda em 2015, foi organizada a primeira edição da mostra Afazeres Queers: Arte Viada no Centro, que aconteceu no Teatro Espanca! durante o mês de março. O evento reuniu ativistas e artistas para uma experiência de imersão acerca das estratégias queers e suas possíveis contribuições às artes. A programação trouxe apresentações de espetáculos, filmes, exposições, oficinas e ciclos de debates.

O BEIJO no seu PRECONCEITO participou também de duas edições da Virada Cultural de Belo Horizonte. Em 2015, o coletivo fez um giro pela cidade com a Queer Queen Kombi, um desfile de práticas performativas que buscam desconstruir as ideias hegemônicas de gênero, sexo e beleza. Já no ano de 2016, aconteceu a Queermesse, uma releitura lesbitransqueer da tradicional festa religiosa. A ação foi idealizada junto à plataforma O QUE VOCÊ QUEER.

Nesses três anos de existência, o BEIJO também participou de seminários, festivais e eventos dedicados à temática queer e às artes da cena em Minas Gerais e por todo o país. Dentre eles, FETO – Festival Estudantil de Teatro (2015); 7º Festival Breves Cenas de Teatro, em Manaus (2015); Seminárix de Estéticx Queer da Escola Guinard (2016); Forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico (2016); e Mostra Hífen de Pesquisa-Cena, no Rio de Janeiro (2016).

O QUE VOCÊ QUEER
O QUE VOCÊ QUEER é uma plataforma desenvolvida pelas artistas Ana Luisa Santos e Fernanda Branco Polse, que começou em 2015 a partir do compartilhamento de suas experiências artísticas como performers queers, num jogo urgente e ambivalente com o mundo e suas constantes tentativas de criar território para o que foge, para o que vaza, para o que não é. A proposta é a criação de performances, zines, livros, dramaturgias, manifestos e residências com a referência de atuação performática, cotidiana e política de criação de um corpo queer.

Ficha Técnica – Espécie
Direção: Fernanda Branco Polse
Performance: Igor Leal
Dramaturgia: Ana Luisa Santos
Codireção e preparação corporal: Benjamin Abras
Iluminação e operação de luz: Jésus Lataliza
Trilha sonora original: Barulhista
Operação de som: Will Soares
Figurino: Ana Luisa Santos
Cenografia e objetos cênicos: Fernanda Branco Polse e Bruno Lelis
Assessoria de comunicação: Bremmer Guimarães
Design gráfico: Adriana Januário
Fotografia: Mirela Persichini e Raquel Carneiro
Gestão e produção cultural: Bruno Lelis
Agradecimentos: Centro Cultural São Geraldo, Galpão Cine Horto e Funarte MG
Realização: BEIJO no seu PRECONCEITO e O QUE VOCÊ QUEER

Serviço

Espécie
De 1 a 4 de junho
Quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Ingressos: R$12 (inteira) e R$ 6 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 18 anos

Funarte MG
Rua Januária, 68, Centro – Belo Horizonte (MG)

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