O dramaturgo Ariano Suassuna, grande intérprete da cultura popular nordestina, completaria 90 anos se estivesse vivo em 2017. Para comemorar a data, a Fundação Nacional de Artes – Funarte publica um videodocumento especial sobre o autor, com depoimentos de seu filho, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, e do professor e ensaísta Carlos Newton Júnior, ex-aluno e amigo de Ariano, autor de livros e ensaios sobre o escritor.
O videodocumento, filmado na casa onde Ariano viveu no bairro de Casa Forte, no Recife, foi realizado pela Coordenação de Difusão e Pesquisa (Codip) do Centro de Programas Integrados (Cepin) da Funarte.
Carlos Newton Júnior explica, em seu depoimento, que Ariano acreditava que havia um fosso entre a cultura erudita e a popular no Brasil: “Em 1970, Suassuna criou o Movimento Armorial, que preconizava a criação de uma arte erudita brasileira a partir da cultura popular do país. Cada ato do ‘Auto da Compadecida’, escrita ainda em 1955, é baseado numa história que Ariano encontrou num folheto de cordel. Ele partia do cordel e recriava, acrescentava personagens. Na obra de Ariano, existe a construção de um erudito, no sentido da carpintaria teatral, a partir de histórias que ele encontrou no romanceiro popular do Nordeste”.
Manuel Dantas Suassuna, que desenvolve sua carreira nas artes plásticas seguindo as ideias estéticas do pai, revela detalhes da vida em família. Ele conta que a sala onde a entrevista foi filmada era usada para os ensaios do Quinteto Armorial, conjunto musical formado por Ariano para resgatar as tradições da música popular nordestina. “Durante os ensaios, eu convivi com os artistas plásticos que frequentavam a casa, como Aloísio Magalhães e Francisco Brennand”, narra Dantas, explicando o seu interesse pelas artes visuais. Já durante os encontros da família, prevalecia a arte de contar histórias. Dantas recorda que Ariano e seus tios formavam uma roda e todos tinham que contar casos sobre um mesmo tema, sem interrupções.
Carlos Newton Júnior conta ainda que Rita de Cássia Suassuna, mãe de Ariano, foi responsável por interromper a sequência de mortes por vingança após o assassinato do pai do escritor, João Suassuna, durante a Revolução de 1930, no Rio de Janeiro. “Quando ela vendeu a propriedade da família e colocou os meninos para estudar no Recife, muito sabiamente ela começou a tirar os filhos daquele ambiente de vingança”, explicou Carlos. Dona Ritinha criou sozinha Ariano e seus oito irmãos, e passou a vida de luto, em protesto pela morte do marido.
A entrevista com Dantas e Carlos é intercalada por trechos de depoimentos do próprio Ariano, do artista plástico Francisco Brennand, amigo de Suassuna desde a adolescência, e por uma rara aparição em vídeo da viúva do escritor, Zélia Suassuna. A realização do video-documento contou com o apoio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer, ligada à Prefeitura do Recife; e da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), ligada ao Governo do Estado de Pernambuco.