As memórias carnavalescas da Fundação Nacional de Artes – Funarte não estão só nos livros, discos e itens de acervo sobre artistas que se dedicaram a cantar ou interpretar sambas, marchinhas e frevos. Há também a série “Memória Musical Funarte – em canto e conto”, que ocupou a Sala Funarte Sidney Miller no fim de 2014, com entrevistas musicadas feitas com cantores, compositores e instrumentistas, e está disponível no Portal Funarte.
Entre as histórias e canções registradas na série – produzida pela Coordenação de Difusão e Pesquisa (do Centro de Programas Integrados da Funarte) especialmente para ser exibida no Portal –, estão relatos de momentos marcantes da história do carnaval do Rio de Janeiro. Um deles é o do cantor e compositor Nelson Sargento, que, ao relembrar a infância no Morro de Mangueira, no subúrbio carioca, destacou a importância de Alfredo Português, seu pai adotivo e parceiro na composição de “Cântico à natureza”, samba-enredo com que a Estação Primeira desfilou no carnaval de 1955.
“Alfredo foi um grande compositor da Mangueira, fez música com Cartola, fez música com Nelson Cavaquinho e ganhou quatro sambas-enredo”, contou o veterano mangueirense, na época da entrevista com 90 anos de idade. “Foi na casa dele que eu vi Cartola, Carlos Cachaça, Malvadeza, Aloísio Dias, Babaú e outros. E eu garanto que aprendi alguma coisa com eles.”
Já a memória de Monarco trouxe à tona lembranças como a primeira vez em que a Portela recebeu uma visita do jovem Paulinho da Viola (quando este ainda atendia por Paulo Cesar), no começo da década de 1960, levado por seu primo Oscar Bigode. “Foi um domingo de tarde que Paulinho apareceu lá com o violão e eu perguntei: ‘Quem é esse garoto?’ Aí o Oscar falou: ‘Esse é o Paulo, Paulinho, meu primo e tal’. Ele aí cantou uma primeira parte, que é o ‘Recado’, o Casquinha botou a segunda logo na hora e ele ficou com a gente ali. Mas não era ainda Paulinho da Viola.”
No especial, o cantor e compositor Zé Luiz relembrou baluartes do Império Serrano que ele conhecera, como Silas de Oliveira e Dona Ivone Lara, entre outros grandes nomes. Ele também comentou o fato de ser morador de Oswaldo Cruz, bairro de origem da Portela, principal rival de sua escola de samba. “Eu tinha que botar a fantasia num saco e sair meio escondido para não parecer provocação, né?”, recordou o sambista. “Depois, a coisa foi ficando mais relaxada e hoje sou grande amigo de toda aquela turma lá da Portela, de Oswaldo Cruz.”
A história das marchinhas de carnaval foi o tema da conversa com o cantor e compositor João Roberto Kelly, que falou, por exemplo, das diferenças entre os estilos de antecessores, como Lamartine Babo e Braguinha. “O Braguinha faz a marchinha ficar mais sucinta. A marchinha perdeu aquele lirismo inclusive na letra. Ela ficou um pouco mais enxuta”, define o músico. “Ele não cantou tanto assim a parte lírica. Ele foi mais no fundo, brincou mais com a marchinha de carnaval. E as marchas do Braguinha são todas elas fantásticas.”
A condução das entrevistas coube ao coordenador de Difusão e Pesquisa da Funarte, o jornalista Pedro Paulo Malta, também responsável pela concepção da série, juntamente com a gerente operacional do Centro de Programas Integrados, Kathryn Valdrighi.
Acesse abaixo a íntegra das entrevistas mencionadas no texto:
Nelson Sargento canta e conta a Mangueira
Monarco canta e conta a Portela
Zé Luiz canta e conta o Império Serrano
João Roberto Kelly canta e conta as marchinhas de carnaval
Texto: Codip – Cepin – Pedro Paulo Malta
Edição: CCOM
Funarte