Bienal de Música é aberta no Rio de Janeiro

A 19ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea da Funarte foi aberta na noite desta segunda (10/10), no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, com as primeiras audições de seis composições premiadas no Concurso Funarte de Composição Clássica 2010. A Orquestra Petrobras Sinfônica, regida pelo maestro André Cardoso, executou as músicas, com a participação das pianistas Midori Maeshiro e Maria Teresa Madeira, solistas em duas obras – Variantes, de Alexandre Schubert e Aleph, de Vagner Cunha, muito aplaudidas pelo público.

Myriam Lewin, diretora executiva da Funarte, representando Antonio Grassi, presidente da Fundação – que está na Europa, participando da Europália –, lembrou na cerimônia de abertura que esta é a quarta Bienal realizada pela Funarte, desde que ela vem ocupando a Direção Executiva da Instituição. Ressaltou, ainda que a 19ª Bienal se caracteriza pela pluralidade – “temas de mesma linguagem e diferentes gêneros e modos, construídos e convivendo lado a lado”. Esclareceu, também, o uso de dois mecanismos para a escolha das obras: o edital público e a encomenda de composições. Myriam Lewin chamou a atenção para os recursos que a Fundação Nacional de Artes vem destinando ao projeto da Bienal de Música: “Há oito anos, a Bienal esteve ameaçada, mas conseguimos realizá-la. Nesse último ano, aumentamos em seis vezes o volume de recursos, o que significa um olhar importante da gestão para essa área”. A diretora da Funarte finalizou agradecendo o empenho de todos os servidores envolvidos na execução do projeto.

Um dos mais respeitados autores do universo clássico brasileiro, Edino Krieger disse ter gostado bastante do nível das primeiras obras apresentadas, principalmente as de Danilo Valadão e Wellington Gomes, que classificou como “excelentes e muito consistentes”. Edino disse ter apreciado a qualidade das composições e seus estilos. “É bom ver nessa Bienal que os compositores fugiram de um certo padrão, um certo esquema comum há 20, 10 anos, e que ainda predominou na última Bienal, que era o tipo de linguagem copiada nos anos 60 dos festivais de Darmstadt, na Alemanha. Vi uma valorização muito boa do ritmo, essencial na música. Nessas duas composições (A tempestade e Geometrias flutuantes), uma delas trazia, lá no fundo, um afoxé. São tradições, elementos da nossa cultura que não devem ser desprezados. Temos que estar atualizados, mas não podemos esquecer que somos brasileiros”, completou com entusiasmo. Edino Krieger e Myriam Dauelsberg foram os criadores da Bienal de Música Contemporânea, em 1975.

O compositor e maestro Tim Rescala, que no dia 18 tem sua obra Sete vezes apresentada em primeira audição na Bienal, disse que o evento mostra um perfil interessante por renovar sua forma de organização para a escolha de compositores. “Isso é bom para mudar e, principalmente, a encomenda de obras a novos compositores é um diferencial importante. Minha expectativa é conhecer esse trabalho. Essa é a função principal de uma bienal: mostrar a produção mais recente”, afirmou o músico.

“Conhecer primeiras audições de compositores que já se firmaram no cenário musical brasileiro é sempre uma expectativa no nosso universo de música clássica”, disse Ricardo Tacuchian, outro compositor presente ao evento. “A Bienal também oferece a oportunidade de conhecer compositores novos, jovens que estão ingressando no mundo da criação musical e que, possivelmente, serão os grandes compositores de amanhã”.

Tacuchian, que recebeu da Funarte a encomenda para escrever o Quarteto de Corda nº 4 “Trópico de Capricórnio”, contou que essa obra mostra a emergência do hemisfério Sul na política internacional. “É um hemisfério que foi sempre deixado de lado e que agora marca uma posição nos destinos da humanidade”, completou o compositor.

Um dos premiados no Concurso Funarte de Composição Clássica 2010 com a obra Aleph, o gaúcho Vagner Cunha contou que se inspirou no personagem de mesmo nome do escritor Jorge Luis Borges, “um personagem sofredor e solitário”. Vagner destacou nas obras executadas “a diversidade estética”. –“Isso é fantástico. Mais importante é encontrar pessoas diferentes, fazendo coisas diferentes no mesmo lugar”, frisou o artista. Vagner participou da penúltima Bienal com um concerto para violino, executado por Eliane Toquete, e regência do maestro Roberto Duarte. O jovem compositor também destacou a seleção por meio de edital público e classificou como grande acerto a avaliação por partituras das obras inscritas.

Coordenador de Música Erudita da Funarte, Flávio Silva explicou a encomenda de obras a compositores renomados que não deviam ser ignorados, por sua larga trajetória, num evento com a envergadura de uma Bienal. E o critério adotado pela Instituição, sem cair em favoritismos ou em concepções estético-ideológicas, foi selecionar 16 compositores que participaram de 14 ou mais Bienais. Foram eles: Almeida Prado, Dawid Korenchendler, Ernst Mahle, GilbertoMendes, Guilherme Bauer, Jocy de Oliveira, Jorge Antunes, Mario Ficarelli, Marisa Rezende, Murillo Santos, Nestor de Hollanda Cavalcanti, Raul do Valle, Ricardo Tacuchian, Roberto Victorio, Ronaldo Miranda e Tim Rescala. Almeida Prado, que entregou à Funarte poucos meses antes de falecer sua última obra −  Paná- Paná III, será homenageado no último dia da Bienal.

Representantes da Funarte e importantes nomes do meio musical estiveram presentes no Teatro João Caetano, além dos compositores premiados, que tiveram suas obras executadas nesse primeiro dia de Bienal.

A 19ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea prossegue até o dia 19 de outubro, com apresentações de concertos na Sala Sidney Miller (Funarte), no Salão Leopoldo Miguez (UFRJ) e no Teatro João Caetano. Os ingressos custam R$2.

Acesse aqui a programação completa

Saiba mais

A pianista Maria Teresa Madeira e a Orquestra Petrobras Sinfônica -  Foto Davy Alexandrisky
A pianista Maria Teresa Madeira e a Orquestra Petrobras Sinfônica - Foto Davy Alexandrisky
A pianista Midori Maeshiro e a Orquestra Petrobras Sinfônica – Foto Davy Alexandrisky