Economia criativa, arte e educação em debate no Encontro Funarte

As transformações no mercado da música com o advento da tecnologia digital, a inserção de artistas das favelas na economia e a arte na educação foram debatidos na manhã do terceiro e último dia do Encontro de Políticas para as Artes. Para falar sobre Economia Criativa e Inovação, a Funarte recebeu Oona Castro, diretora executiva do Instituto Overmundo; Heliana Marinho, gerente regional de Criatividade do Sebrae; Vicente Carlos Jr., autor do projeto Mostra de Artes da Favelas (contemplado pelo Prêmio Interações Estéticas 2010 – Residências Artísticas em Pontos de Cultura); e Anderson Barnabé, do Ponto de Cultura Avenida Brasil de Criatividade Social.

Oona Castro destacou o acesso a obras musicais, direitos autorais e sustentabilidade do criador, após apresentar o Overmundo, site colaborativo criado em 2006 com o objetivo de difundir a cultura brasileira, e o Instituto Overmundo, que realiza pesquisas no mercado. Segundo ela, o desafio que se coloca hoje, com o advento da internet e as facilidades tecnológicas, é como os artistas serão remunerados pela música disponibilizada na web, principalmente os “amadores”. Ela ponderou que, se por um lado o acesso à cultura teve um ganho, por outro o criador da obra também precisa ser remunerado, para que possa viver da sua arte. “Não é dificultando o acesso que se vai resolver o problema de sustentabilidade do criador”, disse ela.

Oona falou ainda sobre as formas de licenciamento de obras, como o Creative Commons, criadas a partir desse novo cenário digital, do acordo entre o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) e o YouTube, que estabelece o pagamento de 2,5% da receita bruta desse site por exibição de músicas protegidas, e do “Estrombo”, projeto que visa fomentar o mercado de música no Rio de Janeiro e é realizado em parceria com o Sebrae.

Na opinião da representante do Sebrae, o “Estrombo” contribui para a capacitação e formalização da cadeia produtiva da música, propiciando assim que esta atinja seu potencial estratégico na geração de renda e de empregos. O objetivo é que pessoas e empreendimentos do ramo musical possam atuar em novos modelos de negócios e novos canais de distribuição baseados na internet e nas novas tecnologias.

Vicente Carlos Jr. contou sua experiência com os artistas participantes da Mostra de Artes das Favelas, realizada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. E pontuou as dificuldades que os moradores dessas comunidades enfrentam para viver da arte. Embora muitos façam exposições no Brasil e até no exterior, precisam trabalhar em outras áreas para sustentar a família. Um exemplo é o ator e cantor de hip hop Mano Brasil, morador de Urucrânia, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, que oferece oficinas para crianças da rede pública de ensino e é vendedor de balas nos trens. “Esse mercado não vê com bons olhos a chegada desses novos artistas”, afirmou Vicente.

Coordenador da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, Anderson Barnabé falou sobre seu projeto, que, em sua opinião, só existe hoje por causa do advento da cultura digital. Ele reclamou do estereótipo de que a favela é um lugar onde só existe pobreza e violência e disse que a ideia do projeto é fazer com que os jovens percebam o mundo a partir de seu território. “O propósito da Escola não é só fazer filmes, não é só ensinar a técnica”, disse. E explicou que o trabalho nas oficinas começa com a “catação”, ou seja, os alunos “catam” elementos de seu universo particular. Entre os filmes produzidos pela Escola estão “Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha”, sobre a cultura dos bate-bolas, e “A Fofoqueira”, sobre a figura das mulheres que passam o dia “tomando conta” da vida dos vizinhos.

Arte e Educação

O debate, no Auditório Moniz Aragão, reuniu Sérgio Costa e Silva, responsável pelo Projeto Música no Museu; Gustavo Peres, contemplado pelo Prêmio Interações Estéticas com Livros de Artista; Vânia Veloso, que representou a jovem Fernanda Oliva em seu trabalho Leitores da Felicidade: Alegria e Literatura, contemplada pela Bolsa Funarte de Circulação Literária; e Wilson Belém, do Ponto de Cultura Tear.

A professora Vânia Veloso falou sobre o projeto que ela e Fernanda Oliva fazem no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e que já dura 10 anos. O método consiste em ler e interpretar as histórias fazendo um trabalho cognitivo. O foco são as lendas, que fazem parte do folclore brasileiro. Segundo Vânia, as lendas são originárias da cultura grega e só as adaptamos aos biomas e ao ecossistema brasileiro. No processo de ensino, as educadoras contam com uma trupe de palhaços que ajudam na dramatização das histórias e que se aproximam da linguagem das crianças. “Muitos alunos que participaram do projeto se tornaram multiplicadores deste processo de ensino” conta, emocionada, a professora.

“Brincadeira gera conhecimento” – com esta frase, o gaúcho Gustavo Peres deu início à demonstração do seu projeto, Livros de Artista. “A ideia principal é perceber o aluno e no que ele se interessa. O método de ensino tradicional é muito duro e afasta as crianças do entendimento.” O professor ressaltou a importância do trabalho de criação de cadernos estilizados pelos próprios alunos e, através dos quais, eles conseguiam expressar os seus sentimentos mais íntimos. “O desenvolvimento do projeto pode ser entendido como um diário gráfico, uma agenda de adolescentes”. E acrescentou: “Eu acredito que seja uma maneira de conectar afetos”.

O projeto Música no Museu, que existe há 14 anos, foi apresentado pelo diretor Sérgio Costa e Silva. Segundo ele, nunca houve um só cancelamento de apresentação e 350 mil pessoas já assistiram aos espetáculos de música clássica, distribuídos em 80 instituições do país, dentre elas: museus, escolas, centros culturais etc. Depois das apresentações, o público é convidado a conhecer o espaço cultural e assim promove-se um intercâmbio de culturas. Um dos objetivos do projeto é incentivar jovens músicos a formar plateia e, ainda, promover a produção musical brasileira. Portugal, Espanha, França, Índia, Austrália já receberam o Música no Museu. Sérgio Costa e Silva salientou a importância das leis de incentivo que geram recursos para projetos dessa magnitude.

Encontro Funarte – 10/11(manhã)
9/11 (tarde)
9/11 (manhã)
9/11 (manhã)
8/11

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