Mantenha Fora do Alcance de Crianças, na Funarte MG

Mantenha Fora do Alcance de Crianças - Foto: Eduardo Azevedo

Instigados pela forma de criação e temática de Manter em Local Seco e Arejado, espetáculo anterior que foi selecionado para a edição de 2011 do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, o [pH2]: estado de teatro dá continuidade ao seu processo de pesquisa e realiza a circulação nacional do espetáculo Mantenha Fora do Alcance de Crianças. A próxima parada, dias 15 e 16 de novembro, às 20 horas, é na Funarte MG.

No espetáculo, o calor está tomando conta do ambiente. A ausência de copos em um encontro familiar traz a tona o passado esquecido. Duas figuras passam a entrar em conflito permanente e paira a dúvida se esse acontecimento já dura um ano. Em meio à histeria, os outros habitantes se embriagam e sambam sobre o chão coberto de copos de vidro quebrados, comemorando a chegada de mais um verão.

Em Manter em Local Seco e Arejado, o primeiro trabalho do grupo, o foco era a apatia. Agora, em Mantenha Fora do Alcance de Crianças, o foco é a histeria. O silêncio dominante do primeiro trabalho difere bruscamente do palavrório do trabalho atual, onde a euforia, a dor, o ódio e as crises em seu limite explodem em violentos fluxos verbais. O grupo parte das seguintes perguntas para investigar as possibilidades cênicas: “Como as relações no mundo contemporâneo podem superar o prisma vago da apatia? Há a possibilidade de irrupções trágicas no cotidiano?” .

De acordo com Rodrigo Batista, diretor da montagem, para essa investigação foram eleitos como pontos de partida os filmes Faces, de John Cassavetes, e O Pântano, de Lucrécia Martel, justamente por serem obras que apresentam situações em que a vida humana se manifesta de forma radical e violenta (Cassavetes) ou que paira num estado mórbido, porém iminente de explosão (Martel).

Dramaturgia foca grupo de personagens

Algumas personagens de Mantenha Fora do Alcance de Crianças fazem alusão a um passado duvidoso, de uma memória perdida, de lembranças absurdas, que de alguma maneira revelam crise, uma crise que se encontra neste passado. O presente por sua vez é celebrado de forma hedonista, uma felicidade exacerbada, que de tão hiperbólica causa estranhamento, desconforto. Já o futuro é tratado sempre como uma possibilidade frustrada de presente, é um “por vir” que parece próximo, mas que nunca será consumado.

Segundo Nicole Oliveira, responsável pela dramaturgia da montagem, essas irrupções temporais são organizadas dramaturgicamente a partir de déjà vus, pensando o déjà vu como um fenômeno ligado a lapsos de memória, falhas perceptivas e uma sensação de previsão, ou seja, daquilo que já foi visto. Ainda assim, as figuras não tomam esse elemento como algum tipo de revelação, e os deixam passar como mais um fluxo que os atravessa. “A dramaturgia, através dos fluxos e dos déjà vus, busca uma situação onde há apenas uma cadeia de acontecimentos espetaculares e não há um acompanhamento da trajetória de uma personagem, mas sim de um grupo, de uma família, de uma sociedade. De certa maneira, o amor, o álcool e a loucura servem de motivação para que suas vidas sejam levadas adiante, tendo na possibilidade do encontro com o outro uma forma de habitar o mundo”, conta Nicole.

Cenários e figurinos inspirados nas fotos de Lachapelle

A série Recollections in America, do fotógrafo David Lachapelle trouxe a referência inicial dos figurinos e da cenografia. Fotógrafo conhecido pelas imagens fortes, com explosões de cor, mostrando celebridades em ambientes sensuais e exuberantes, Lachapelle, nesse ensaio, cria uma coleção mais sóbria e inusitada dentro de sua obra: com a manipulação digital de fotografias compradas pela internet, o artista cria uma série de imagens que, baseadas em festas de família dos anos 70, provoca o olhar com figuras e objetos que denotam um estilo de vida entorpecido, perigoso e violento. O naturalismo das imagens é traído por uma série de estranhamentos que compõem o quadro e geram desconfiança no observador.

A diretora de arte, Paola Lopes, conta que a cena se desdobra em três ambientes de uma mesma casa inteiramente coberta por cacos de vidro, formados por copos que são quebrados durante o espetáculo. “A cenografia se apropria de símbolos reconhecíveis para os que viveram o verão das décadas de 80 e 90. Partindo da composição com objetos que realmente habitaram uma festa, uma tarde de sol, com samba e cerveja, buscamos em brechós objetos e roupas com memória, que nos traziam flashes de recordações pessoais, mas também de um universo de referências coletivas”, diz Paola.

Projeto prevê a circulação nacional do espetáculo

O espetáculo está circulando pelo Brasil desde junho de 2012, com o apoio do Prêmio Procultura da Funarte, e já participou dos seguintes festivais internacionais: FILO, em Londrina, e FILTE, em Salvador.

Sobre o grupo

O [pH2]: estado de teatro surgiu em 2007 e realiza uma pesquisa sobre a tragédia no mundo contemporâneo, contemplada pela Lei Municipal de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo, sendo que foram realizados três trabalhos: Manter em local seco e arejado, Mantenha fora do alcance de crianças e Atridas, com estreia marcada para novembro no SESC Pinheiros em São Paulo.

Ficha técnica

Direção: Rodrigo Batista / Dramaturgia: Nicole Oliveira / Elenco: Bruno Caetano, Bruno Moreno, Catarina São Martinho, Júlia Moretti, Júlio Barga, Leonardo D’Aquino, Maria Emília Faganello e Mariana Soutto Mayor / Músico ator: Francisco Lauridsen / Iluminação: Luana Gouveia / Sonoplastia: Francisco Lauridsen e Rodrigo Batista / Direção de arte: Paola Lopes / Cenotecnia: Wanderley Wagner / Design gráfico: Bruno Caetano / Produção executiva: Maria Emília Faganello / Direção de produção: Rodrigo Batista

Serviço

Dias 15 e 16 de novembro, às 20 horas.

Funarte MG: Rua Januária, 68 – Floresta – Belo Horizonte.

Ingressos gratuitos distribuídos 1 hora antes do início do espetáculo.

Informações: (31) 3213-3084

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