“Se o corpo carrega a história de cada pessoa, também traz consigo suas inquietações, angústias, a voz em movimento”. Em busca de respostas para uma série de indagações, Elisa Schmidt, formada em artes cênicas e mestre em teatro, deu início à sua pesquisa. Entre Terra e Meum Corpus – solos de dança que ela apresenta ao lado do bailarino Ghel Nikaido – são o resultado desse estudo. De 3 a 7 de julho, a dupla divide o palco do Sesc Prainha, em Florianópolis (SC), para apresentar ao público o novo trabalho. A entrada é gratuita e as apresentações começam às 20h.
“É um processo de pesquisa e investigação que teve início há quase dois anos. É uma busca pela própria identidade e a argila – elemento que vem da técnica de desfiguração do artista De Sagazan – será usada representando um processo inacabado, uma ferramenta de decomposição. A performance tem vida própria em cena, mostra de certa forma a própria angústia de não conseguir ser, bate numa realidade congelada”, conta Elisa.
Seu solo está estruturado em três momentos: o estudo de ondulações, desequilíbrio e manipulação. A desfiguração na dança – uma nova junção de técnicas apresentada no meio artístico – marca o primeiro momento, como vontade expressiva de romper com o conformismo, criar fissuras no padrão de consumo e como tentativa também de desestabilizá-lo. No meio disso, Elisa tenta encontrar a suavidade, a leveza no caos, uma ferida para falar sobre ela.
A pesquisa pessoal de Elisa dá espaço e tempo próprio à de Ghel, que focou sua investigação na pesquisa PDHH – Pesquisa em Desfiguração e Hip Hop. Inquieto por natureza, Ghel foge da convencionalidade da expressão. Seu interesse é o corpo e a capacidade do movimento autoral. A partir daí, surgem novas estruturas em dança na cena, estimuladas pela pesquisa que ele prefere chamar de laboratório. “Busco ser o mais sincero possível, desviando da necessidade de justificativa em cena, usando a argila como ferramenta como numa meditação de quase morte para acordar”, destaca.
Ghel é bailarino do Rio de Janeiro, começou a dançar break aos 18 anos – uma modalidade da dança de rua. Cinco anos depois, ingressou no Grupo de Rua Niterói sob o comando de Bruno Beltrão; atuou como diretor e coreógrafo do grupo Urbanos e encabeçou projetos de turnês de dança hip hop por todo o país. Foi um dos fundadores do Instituto Base de Dança de Rua do Rio de Janeiro. Em 2010, mudou-se para a França, onde conheceu Elisa.
Elisa Schmidt pratica dança contemporânea desde 2004, participou do elenco da obra “Socorro”, de Zilá Muniz. No mestrado, partiu do estudo da desfiguração elegendo as obras do artista De Sagazan como base. Em 2011, foi até a França aprender com o próprio De Sagazan sua técnica. Em 2012, o projeto “Interfaces Desfigurativas – Intercâmbios entre Solos (Brasil/França)” foi contemplado no Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna. O trabalho possui duas etapas. A primeira delas contou com a vinda de De Sagazan a Florianópolis, no mês de junho, onde o artista ministrou oficina, participou de debate e apresentou sua obra “Transfiguração”. Antes de voltar para a França, ele prestou consultoria ao trabalho que finaliza o projeto, os solos Entre Terra e Meum Corpus, protagonizados por Elisa e Ghel.
Serviço
Entre Terra e Meum Corpus
Projeto “Interfaces Desfigurativas – Intercâmbios entre Solos (Brasil/França)” –Contemplado no Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna
De 3 a 7 de julho, às 20h
Local: Sesc Prainha – Florianópolis (SC)
Entrada gratuita