A Fundação Nacional de Artes (Funarte) inaugura nesta quarta-feira (15), em Brasília, duas exposições premiadas pela instituição. Às 17h, os irmãos brasilienses Adriano e Fernando Guimarães, em parceria com Ismael Monticelli, abrem na Marquise e entorno do Complexo Cultural Funarte a intervenção Monumento – uma representação do avesso da modernidade. Um pouco depois, às 18h, o artista natural de Caucaia (CE), Diego de Santos, inaugura na Galeria Fayga Ostrower, também no Complexo, a mostra Poema 193, que reúne desenhos, fotografias e vídeos de sua autoria.
Os dois projetos foram selecionados pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015, que busca incentivar a multiplicidade e a diversidade de linguagens e tendências da arte contemporânea no país com exposições nas galerias e espaços da instituição em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG). Em Brasília, as obras poderão ser vistas até 2 de abril, de terça a domingo, das 10h às 21h. A entrada, para ambas as exposições, é gratuita.
Monumento
Elaborada especialmente para a Marquise e o entorno da Funarte, a instalação Monumento traz como matéria-prima restos de veículos acidentados e elementos que evocam o desenho da paisagem da cidade. A obra remete à modernidade e seus ideais de progresso, velocidade e dinamismo, e tem como referências a criação de Brasília e o desenvolvimento da indústria automobilística no país.
Com acompanhamento crítico das curadoras Daniela Name (RJ) e Marília Panitz (DF), Monumento enfoca uma estratégia, ética e estética, recorrente na poética de Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli: a valorização do que habitualmente é considerado desimportante ou desprezado pelo senso comum. O trabalho apropria-se do significado corriqueiro da palavra monumento – construção com finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história – e da sua intrínseca relação com Brasília, a cidade dos monumentos.
Ao utilizar o carro acidentado como escultura do acaso, a intervenção propõe uma reflexão crítica sobre o fluxo que vai da produção em massa ao descarte, por meio da distribuição acelerada. Relocados, esses restos abandonados, repletos de narrativas, revelam o avesso de uma utopia. “Adriano, Fernando e Ismael estão lidando com um anticarro e transformando estes restos de velocidade em jardim. Lampejo de poesia”, afirma a curadora Daniela Name.
Direcionando o olhar para Brasília – lugar onde ideologia, interesses econômicos e arquitetura estão imbricados desde a sua concepção –, Monumento é feito dessas inversões e também de muitas condensações – da história de Brasília, da história da arte moderna, da história dos próprios artistas envolvidos. “Eu vejo nessa intervenção lastros de trabalhos que os três fizeram juntos e separados. Ao criarem seu próprio eixo com esses desastres, é como se eles investissem, mais uma vez, na necessidade de paralisia, de silêncio e de contemplação para redesenhar metas e mapas. Menos veloz e mais opaca, essa jornada talvez seja a única cartografia possível em meio aos destroços”, completa Name.
Para Marília Panitz, ao criarem uma intervenção que coloca o carro desincorporado de sua funcionalidade, os artistas fustigam a ideia de retomar um devir que nasceu fadado ao descarte. Monumento se organiza em um jardim inspirado nos jardins japoneses, que carregam a ideia de morte não como saudade ou memória, mas como forma de contemplação sobre a existência. Para Panitz, esta é uma experiência estética de lidar com a ausência, que deve ser observada e sentida. “Não existem detalhes a observar e apreender, e sim outro tempo de visão que se permitir. Essa tensão é o que dá à obra o critério de monumento: um estar para refletir”, descreve.
O projeto oferecerá ao público duas oficinas sobre questões relacionadas à obra, além do lançamento de um catálogo ao fim da exposição, com uma conversa seguida de visita ao trabalho, conduzida por Marília Panitz e pelos artistas.
Poema 193
A exposição Poema 193, de Diego de Santos, tem sua abertura prevista para as 18h de quarta-feira – uma hora depois da inauguração de Monumento. O evento, aberto ao público, contará com a presença do artista e da curadora Yana Tamayo, que comentarão a obra.
A mostra traz desenhos, fotografias e vídeos que constituem um convite ao público para ativar sua vivência estética e sensorial. Produzidos a partir de conchas, fogo, fuligem e grafite, os trabalhos expostos em Poema 193 baseiam-se, em sua concepção, em um intenso processo experimental que aciona o imaginário da casa, do arquétipo de morada – em confronto com o fogo e suas simbologias – para discorrer poeticamente sobre questões que permeiam tanto o campo da intimidade, como o dos conflitos sociais.
Os vídeos que participam da exposição apresentam registros de conchas em chamas, em analogia com a estrutura de um lar e com o fogo saindo de seu interior. Desta forma, o artista faz uma alusão poética ao drama dos incêndios criminosos que atingem favelas e moradias precárias (por isso o número dos bombeiros “193” no título). Os ruídos que se ouvem são do entorno do ateliê (latido de cães, canto dos pássaros, avião que passa, ventania etc.) e foram captados para que, quando editados em slowmotion, dessem lugar a uma realidade distorcida e medonha, já que os sons passam a ser irreconhecíveis. O incêndio, assim, parece ganhar voz, tornando-se corpo testemunha de si mesmo.
“A exposição é um dos resultados dos processos de experimentação do projeto Poema 193. Todos os elementos, suas simbologias e conexões já eram, de certa forma, recorrentes na minha produção. Eu já tinha uma pequena coleção de conchas e sempre pensei elas dentro de uma proposição artística, só não tinha executado ainda porque estava em outros projetos, mas veio a vez delas e juntamente com o fogo pude relacionar com uma problemática social: os incêndios criminosos” descreve Diego.
Nos desenhos, o artista utiliza a técnica de fixação da fuligem e o uso de diferentes processos de queima, além das próprias condições climáticas naturais e da parafina. “A superfície do papel, posicionada acima da chama da lamparina, recebe toda a fuligem liberada pelo fogo e nunca é possível determinar a imagem a ser gerada. Em alguns momentos, antes de fixar a fuligem com verniz, submeto aquele desenho à ação do lugar: esqueço-os na parede ou no chão para que insetos caminhem sobre eles, deixando rastros; aproveito raros serenos, deixando que gotículas de água da chuva fina intervenham sobre a fuligem. Sujeitar os trabalhos a situações promovidas pelo entorno faz de Poema 193 um irrecusável convite à realização conjunta: eu e os efeitos do espaço ao redor” esclarece de Santos.
A exposição conta com ação educativa, por meio de mediadores que receberão o público espontâneo e grupos de visitantes. O acervo incentiva, ainda, a inclusão social através do acesso à maquete tátil e obras com áudio descrição e em braile.
SERVIÇO
Monumento
Intervenção realizada por Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Ismael Monticelli
Abertura: 15 de fevereiro | Quarta, 17h
Visitação: De 16 de fevereiro a 2 de abril | De terça a domingo, das 10h às 21h
Entrada franca
Classificação etária: livre
Local: Marquise/Entorno do Complexo Cultural Funarte Brasília. Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural (entre a Torre de TV e o Centro de Convenções) | Brasília/DF
Informações: (61) 3322-2076 | 3322-2029 | www.funarte.gov.br
Informações sobre o projeto e contatos:
Site: www.projetomonumento.com.br
E-mail: projetomonumento@gmail.com
Redes sociais: www.facebook.com/projetomonumento | www.instagram.com/projetomonumento
Poema 193
Desenhos, fotografias e vídeos de Diego de Santos
Abertura: 15 de fevereiro | Quarta, 18h
Visitação: De 16 de fevereiro a 2 de abril | De terça a domingo, das 10h às 21h
Curadoria: Yana Tamayo
Produção: Renata Damasceno
Classificação etária: livre
Entrada franca
Local: Galeria Fayga Ostrower do Complexo Cultural Funarte Brasília. Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural (entre a Torre de TV e o Centro de Convenções) | Brasília/DF
Informações: (61) 3322-2076 | 3322-2029 | www.funarte.gov.br
Sobre os artistas de Monumento
Adriano e Fernando Guimarães | Brasília/DF
Artistas visuais, diretores e professores. Atuam desde 1989, construindo trabalhos em teatro, performance, artes visuais e dança. Realizaram diversas exposições individuais como: Quase nunca sempre o mesmo (Alfinete Galeria, Brasília/DF, 2014); Cheio/vazio (Künstlerhaus Mousonturm, Frankfurt/Alemanha, 2013); No singular. Nada se move, curadoria de Marília Panitz (Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ; Galeria 3, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; SESC Belenzinho, São Paulo/SP. 2012-2013); Juegos – Performances(MARCO, Museo de Arte Contemporânea de Vigo, Espanha, 2005); Dupla Exposição, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2003); e Felizes Para Sempre, curadoria de Marilia Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo/SP; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ; Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF; Solar do Barão, Curitiba/PR. 2001-2000).
Participaram de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior como: Frestas – Trienal das Artes, curadoria de Josué Mattos (SESC Sorocaba, São Paulo/SP, 2014); Transperformance, curadoria de Lilian Amaral (Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro/RJ, 2011); Brasília Síntese das Artes, curadoria de Denise Mattar (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2010); HiPer>relações eletro//digitais, curadoria de Vitoria Daniela Bousso (Santander Cultural, Porto Alegre/R, 2004); Panorama da Arte Brasileira 2003 – Desarrumado 19 Desarranjos, curadoria de Gerardo Mosquera (Museu de Arte Moderna, São Paulo/SP; Paço Imperial, Rio de Janeiro/RJ. Museu de Arte Moderna Aloísio de Magalhães, Recife/PE; MARCO, Museo de Arte Contemporânea, Vigo/Espanha; Museo de Arte Del Banco de La República, Bogotá/Colômbia; 2003-2008); A Trajetória da Luz na Arte Brasileira, curadoria de Paulo Herkenhoff (Itaú Cultural, São Paulo/SP, 2001); The Theatre of Installation, curadoria de Nicolas de Oliveira e Nicola Oxley (Museum of Installation, Londres/Reino Unido, 2000); e 21ª Bienal Internacional de São Paulo, curadoria de João Cândido Galvão (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo/SP, 1991).
Ismael Monticelli | Porto Alegre/RS
Artista visual e pesquisador. Bacharel em Artes Visuais (UFRGS, 2010) e mestre em Artes Visuais (UFPel, 2014). Realizou exposições individuais como: Le Petit Musée – Sala 1, 2 e 3, curadoria de Raphael Fonseca (Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro/RJ, 2016); Todas as coisas, surgidas do opaco, curadoria de Luisa Duarte (Santander Cultural, Porto Alegre/RS, 2014); A Paixão Faz das Pedras Inertes um Drama (Goethe-Institut, Porto Alegre/RS).
Participou de exposições coletivas como: Vértice, Curadoria de Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana (Centro Cultural Correios, São Paulo/SP, 2016; Museu Nacional dos Correios, Brasília/DF, 2015; Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Mensagens de Uma Nova América – A Poeira e o Mundo dos Objetos, 10ª Bienal do Mercosul (Usina do Gasômetro, Porto Alegre/RS, 2015); Ficções, Curadoria de Daniela Name (Caixa Cultural, Rio de Janeiro/RJ, 2015); Situações Brasília, curadoria de Cristiana Tejo, Evandro Salles e Ricardo Sardenberg (Museu Nacional da República, Brasília/DF, 2014-2015); 4º Prêmio EDP nas Artes (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo/SP, 2014); Da Matéria Sensível, curadoria de Bruna Fetter (Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, 2014); Homem Cultura Natureza – Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, curadoria de Mariano Klautau Filho (Casa das Onze Janelas, Belém/PA, 2013); Rumor, curadoria de Marília Panitz (Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/DF, 2013; SESC Belenzinho, São Paulo/SP, 2013; e Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, 2012); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, curadoria de Paulo Miyada (Galeria Leme, São Paulo/SP, 2012), 41º Novíssimos, curadoria de Ivair Reinaldim (Centro Cultural Ibeu, Rio de Janeiro/RJ, 2011); e Mostra Coletiva Olheiro da Arte, curadoria de Fernando Cocchiarale (Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro/RJ, 2010). Foi destaque na seleção da Bolsa Iberê Camargo 2011 e premiado no Festival de Fotografia HTTPpix (Instituto Sérgio Motta, São Paulo/SP, 2010).
Sobre o artista e curadora de Poema 193:
Diego de Santos [Caucaia – CE, 1984] é formado em Artes Plásticas pelo IFCE e expõe desde 2005. Vive e trabalha em Caucaia e Fortaleza. Este ano, foi contemplado com o Prêmio de Criação em Artes Visuais de Teresina, que consistiu em uma residência artística na cidade por três meses, e como resultado final o projeto À Margem Toda Vida, percorrido de bicicleta de Teresina à Parnaíba, usando a estrada como um laboratório a céu aberto.Em 2014 ganhou o prêmio PIPA (Prêmio Investidor Profissional de Arte), o mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais, na categoria Online Popular e produziu o projeto Lar é Onde Ele Está pelo Porto Iracema das Artes – Escola de Formação e Criação do Ceará. Recentemente, foi premiado no Salão de Artes de Mato Grosso do Sul (edição 2013), além de ter sido premiado também no 8º Salão de Arte SESC Amapá, em 2010. Já participou de edições de feiras como SPArte e ArtRio. Tem obras no acervo do Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza), da Galeria Graça Landeira (Belém), Amparo 60 (Recife) e de vários galeristas, colecionadores e curadores no Brasil e no exterior.
Yana Tamayo [Brasília, 1978] é artista visual, educadora e curadora independente. Desde 2015 é gestora da Nave arte | projeto | pesquisa, espaço independente onde desenvolve projetos de pesquisa e formação em arte, curadoria e execução de exposições. Doutora em Arte na linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília – UnB (2015), é mestre pela mesma instituição e linha de pesquisa (2009) e especialista pela Universida Complutense de Madrid (2006). Graduou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFMG (2003). Foi professora na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (2009-2010) e professora no curso de Bacharelado em Artes Visuais da Universidade de Brasília como bolsista Capes/REUNI durante os anos de seu doutorado. Como artista, produz e expõe com regularidade desde 2003. Vive e trabalha em Brasília.